Reinaldo Azevedo
Lula é um assunto aborrecido.
Lula é um assunto chato.
Lula é um assunto do passado.
Lula é um assunto do Brasil
que está morrendo.
Lula é um assunto contra o
país nascente.
Lula é, em suma, e aqui já se
disse, o cadáver adiado que procria.
Mas somos, os jornalistas,
obrigados a falar dele, não é? Afinal, está por aí, se movimentando, tentando
tirar o nariz fora d’água, sobreviver à sua triste decadência, incapaz de ser
generoso com a própria história, com a própria biografia. Poderia, de fato,
como prometeu, ter se retirado de cena quando estava no auge. Poucos se
atreveriam — porque este é um país que gosta de alimentar mitos — a pôr o dedo
na ferida, a apontar que as dificuldades pelas quais passamos agora tiveram
origem, sim, no governo do companheiro, especialmente nos quatro anos finais.
Ocorre que Lula não é generoso
consigo mesmo porque não consegue ser generoso com os outros. A glória de
mandar e a vã cobiça sempre vêm primeiro. E eis que o vemos desesperado,
mexendo-se como mosca presa numa teia de aranha, para tornar viável a sua candidatura
à Presidência em 2018.
Na terça-feira à noite, lá
estava Lula a descer o porrete em Dilma num encontro fechado com jovens
sindicalistas, depois de ter dado algumas bordoadas na imprensa, que, segundo
disse, dá crédito à palavra de bandidos. Os bandidos, no caso, são aqueles que,
até outro dia, operavam em favor do seu partido, no esquema criminoso montado
na Petrobras. Agora, o Apedeuta anuncia que vai sair país afora arregimentando
as esquerdas e os movimentos sociais em defesa do PT.
Nesta quarta, Lula participou
de um seminário no instituto que leva o seu nome, promovido em parceria com a
tal Unasul (União das Nações Sul-Americanas), aquela estrovenga que ele criou
em companhia de Hugo Chávez. E lá estava ele com a ladainha bolorenta da necessidade
de integração dos países do continente, oferecendo como exemplo de ação
virtuosa, santo Deus!, a construção do porto de Mariel, em Cuba, que teve
financiamento secreto do BNDES.
Para o chefão petista, que
deveria receber um raio fulminante enviado por Nelson Rodrigues lá do outro
mundo, é o “complexo de vira-lata de parte da classe política que faz
privilegiar acordos comerciais com Estados Unidos, em vez de América Latina e
África”. Este senhor diz tal barbaridade quando, já está demonstrado, o Mercosul
se transformou num dos fatores de atraso do Brasil.
Já disse aqui há algum tempo e
volto a fazê-lo: Lula não está a criar uma só facilidade a Dilma Rousseff. Ao
contrário. Na véspera da votação da MP 665, o horário político do PT, de que
ele foi a estrela, quase pôs tudo a perder. O homem acusou o Congresso de atuar
contra os trabalhadores, e, por muito pouco, a emenda não foi rejeitada. Agora,
às vésperas da votação da MP 664, ele volta a fazer agitação sindical e
proselitismo rombudo. Assim, a sua sucessora é obrigada a enfrentar, de um
lado, a pressão dos “companheiros” — a CUT conseguiu liminar do STF para ocupar
as galerias do Senado — e, de outro, de
partidos da base dispostos a arrancar mais alguns nacos de poder.
É evidente que Lula tem
consciência de que a sua ação é desestabilizadora. Mas ele só sabe jogar assim.
Que coisa impressionante! Todos conhecem o mito da alma penada. Em essência,
ela é o quê? É o vagar de alguém que já morreu, mas que ainda não sabe; é o
perambular de um ente que não aceita o lugar que lhe está reservado na terra
dos mortos.
Lula é essa alma penada na
política brasileira. Mas custa caro!
Exatamente como o socialista Mário Soares, em Portugal.
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