quinta-feira, 21 de maio de 2015

Mais passado e menos futuro


Luís Naves
Após um período de hesitação, os socialistas viraram à esquerda e radicalizaram o discurso. Numa frase brilhante, João Gonçalves resume a nova imagem do PS: “Promete, com mais passado, menos futuro”.

Convém ler também este lúcido texto de Luís Menezes Leitão. A viragem à esquerda e o desafio à “austeridade” são passos maiores do que a perna. Havendo no cardápio socialista demasiadas promessas que aumentam a despesa pública, tendo sido abandonadas as poucas piscadelas de olho ao eleitorado centrista, a aritmética pré-eleitoral do PS torna-se cada vez mais incompatível com o Tratado Orçamental.

Se for aplicado o que já se conhece, Portugal seguirá o caminho da Grécia, mas com uma diferença, a circunstância de depender dos mercados. Só há margem de manobra orçamental se o défice estiver abaixo dos 3% do PIB; caso isso não se verifique, o País entra em processo de défice excessivo e tem de obedecer às exigências dos credores europeus, ao mesmo tempo que o financiamento externo se torna mais difícil.

Se Portugal ultrapassar o limite a que se comprometeu este ano e recusar as medidas de correcção impostas por Bruxelas, os mercados serão impiedosos. A prazo, este caminho leva ao segundo resgate, algo que o País jamais perdoará ao PS.

Ao abandonar o eleitorado centrista, os socialistas têm menos hipóteses de ganhar as eleições, pois serão estes 20% de eleitores a decidir quem governa no próximo ciclo político. Estes eleitores são geralmente prudentes e cuidadosos, por isso, cada voto que não for para o PS, irá para a coligação.

Os Trabalhistas perderam as eleições no Reino Unido devido a uma excessiva viragem à esquerda, pois à boca das urnas os indecisos descontentes não embarcaram em aventuras. A radicalização foi também um erro inicial do Podemos, que esta formação espanhola, pressionada pelo colapso grego, tenta agora rectificar. Entre nós, se o PS continuar a deriva de promessas populistas, o cenário pós-eleitoral torna-se mais difícil, já que a maioria absoluta é improvável, mas há um efeito adicional: no exterior pode desenvolver-se a impressão, provavelmente exagerada, de que Portugal caminha na direcção da Grécia. Basta essa incerteza para haver custos muito elevados. 
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário, 21-5-2015

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