Luís Naves
Após um período de hesitação,
os socialistas viraram à esquerda e radicalizaram o discurso. Numa frase
brilhante, João Gonçalves resume a nova imagem do PS: “Promete, com mais passado,
menos futuro”.
Convém ler também este lúcido
texto de Luís Menezes Leitão. A viragem à esquerda e o desafio à “austeridade” são passos
maiores do que a perna. Havendo no cardápio socialista demasiadas promessas que
aumentam a despesa pública, tendo sido abandonadas as poucas piscadelas de olho
ao eleitorado centrista, a aritmética pré-eleitoral do PS torna-se cada vez
mais incompatível com o Tratado Orçamental.
Se for aplicado o que já se
conhece, Portugal seguirá o caminho da Grécia, mas com uma diferença, a
circunstância de depender dos mercados. Só há margem de manobra orçamental se o
défice estiver abaixo dos 3% do PIB; caso isso não se verifique, o País entra
em processo de défice excessivo e tem de obedecer às exigências dos credores
europeus, ao mesmo tempo que o financiamento externo se torna mais difícil.
Se Portugal ultrapassar o
limite a que se comprometeu este ano e recusar as medidas de correcção impostas
por Bruxelas, os mercados serão impiedosos. A prazo, este caminho leva ao
segundo resgate, algo que o País jamais perdoará ao PS.
Ao abandonar o eleitorado
centrista, os socialistas têm menos hipóteses de ganhar as eleições, pois serão
estes 20% de eleitores a decidir quem governa no próximo ciclo político. Estes
eleitores são geralmente prudentes e cuidadosos, por isso, cada voto que não
for para o PS, irá para a coligação.
Os Trabalhistas perderam as
eleições no Reino Unido devido a uma excessiva viragem à esquerda, pois à boca
das urnas os indecisos descontentes não embarcaram em aventuras. A
radicalização foi também um erro inicial do Podemos, que esta formação
espanhola, pressionada pelo colapso grego, tenta agora rectificar. Entre nós,
se o PS continuar a deriva de promessas populistas, o cenário pós-eleitoral
torna-se mais difícil, já que a maioria absoluta é improvável, mas há um efeito
adicional: no exterior pode desenvolver-se a impressão, provavelmente
exagerada, de que Portugal caminha na direcção da Grécia. Basta essa incerteza
para haver custos muito elevados.
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