Mourinho FC

Lídia Paralta

Sou de uma geração que cresceu em linha paralela com a evolução do nosso futebol. Ainda vi a liga portuguesa ser dominada por treinadores cujo conhecimento se baseava na experiência, no senso comum de quem comeu relva nos campos por esse país fora.

Nada contra. Muitos ainda estão por aí e é desse lado castiço que muitas vezes ainda vêm as melhores histórias, as mais românticas, que dão tanta graça ao futebol. Mas entretanto apareceu José Mourinho.

Como que colocando ciência onde antes havia pouco mais que coração. Mourinho abriu as portas. Já tínhamos alguns "professores", é certo, mas nunca tinha irrompido assim, com um discurso confiante e com noções táticas tão arrojadas e certeiras. Quem veio a seguir, bebeu dele, é impossível negar.

Sempre gostei de José Mourinho. Por ser tão diferente de tudo a que estávamos habituados. Pelo lado provocador, pouco dado à tão portuguesa humildadezinha.

Costumo dizer que Mourinho é o meu único clube lá fora: sou do Mourinho FC. E foi assim com alívio que o vi sair de Espanha, onde a implacável imprensa – e opinião pública – não vê exactamente com bons olhos esta forma de estar, tal como cá, diga-se.

Somos orgulhosos e latinos, não há volta a dar. O lugar de Mourinho é em Inglaterra, onde a sua franqueza é apreciada, onde o discurso corrosivo não é automaticamente confundido com arrogância.

E depois de um ano para voltar às rotinas da Premier League, já vence. Este título será, palpita-me, apenas o primeiro de muitos, porque não acredito que Roman Abramovich cometa o mesmo erro do passado. Ferguson de Londres? Naturalmente. 

Título e Texto: Lídia Paralta, Destak, 8-5-2015

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