Valdemar Habitzreuter
Se Deus é nosso criador, então
já somos alguém com uma essência, somos seres humanos já com uma bagagem, um
conteúdo existencial, uma semente já plantada que se desenvolverá. Mas aí,
segundo Sartre, restringe-se de certa forma nossa liberdade, pois estaríamos
dependentes de um agente externo que já antecipou nossa essência, o que somos
potencialmente; seria como se Deus tivesse plantado uma semente em nós para se
desenvolver segundo Sua vontade.
De outro lado, se o
homem/mulher se considera alguém que autonomamente constrói o que quer ser,
prescindindo de um Criador, teria que admitir que está condenado à liberdade,
sempre obrigado a agir com liberdade, sem coação de um Ser superior, pois teria
que esforçar-se a ser seu próprio projeto de vida, teria sempre que fazer
escolhas do que quer ser, construir sua própria essência, seu caráter.
Para Sartre, viemos ao mundo
nus, sem bagagem alguma, sem essência alguma, e é a partir do nada que
precisamos construir o que queremos ser. Nossa existência, assim, antecede
nossa essência; primeiro existimos e depois segue-se o que queremos ser; somos
nada de ser ao nascermos, mas conseguimos ser alguém ao longo de nossa
existência pelo fato de sermos condenados à liberdade, sermos obrigados a fazer
escolhas. Por isso, o homem é condenado a ser livre. A isto Sartre dá o nome de
existencialismo: existimos para essencializar-nos.
O que é melhor: sermos
dirigidos de fora por alguém, por um Deus determinista, ou sermos autônomos na
construção de nossa essência, na formação de nosso caráter? Sartre prefere a
segunda alternativa. Aliás, ele não prefere, ele só tem essa alternativa, pois
ele se autoproclama ateu.
Diz Sartre que o homem está
lançado no mundo diferentemente das coisas. Estas são aquilo que são e não
outra coisa, são coisas em si – ser em-si. O homem, por seu turno, é um ser
para-si, isto é, tem consciência de si e das coisas, e a partir da consciência
de sua existência agirá no mundo para erigir sua própria essência, através de
escolhas, segundo seu projeto de vida.
Essa liberdade sartriana seria
o projeto do próprio homem auto realizando-se, projetando-se a ser ele mesmo
‘deus’, sem forças externas (um Criador) influenciando no que ele quer ser....
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 24-5-2015
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