quinta-feira, 14 de maio de 2015

O embaraço dos filósofos do fracasso

José Mendonça da Cruz
A reacção do Partido Socialista e da restante oposição aos números do INE que confirmam o crescimento da economia (e o aumento das exportações, e a diminuição das importações e o aumento do consumo interno) é embaraçosa e confrangedora. É confrangedora para os Portugueses. É embaraçosa para a esquerda. Ou, com rigor, talvez se devesse dizer que a reacção da esquerda é embaraçada, reflecte o profundo embaraço dos socialistas perante o mundo moderno que lhes é estranho, perante o sucesso desse mundo cuja falência profetizaram, perante o êxito de mecanismos e soluções que contrariam e esvaziam as velhas fantasias socialistas.

A austeridade não ia resultar, diziam eles; e afinal resultou. A consolidação das contas públicas acarretaria uma espiral recessiva, diziam eles; e afinal não acarretou. É o investimento público que faz crescer a economia, diziam eles após arruinarem a economia com esse investimento salvífico; e afinal o crescimento vem pelo lado das empresas e das exportações (após reformas laborais que os socialistas querem reverter, e após um programa de redução do IRC que o PS quer renegar). Os mercados são criminosos, usurários, provocam secas e terramotos, são um casino, diziam eles já bastante tontamente após desestabilizarem os mercados com todos os sinais de falta de credibilidade e juízo; e afinal os mercados premiaram a seriedade e a credibilidade foi restaurada. A dívida tem que ser reestruturada, temos que proclamar-nos insolventes, diziam eles: e afinal a dívida foi reestruturada em juros e maturidades, sem gritos, discretamente («se há almofada financeira, gaste-se!», gritou então a esquerda desnorteada; «se há cofres cheios distribua-se, bom mesmo era estarem vazios», gritou a múmia em desespero).

Há, por fim, a realidade mais importante e que espanta nunca ver creditada a este governo (e à troika, também, obviamente): é que Portugal mudou. Acabaram-se os grandes projectos públicos ruinosos, sempre apresentados como alvoradas de futuros risonhos. Acabaram-se os grandes grupos a que os governos socialistas recorriam para promover negócios e esconder dívida (e perante os quais ficavam obrigados); acabaram-se as grandes empresas nacionais com gestores premiados cujo sucesso se media não pelos lucros para o país, mas pelo acolhimento de amigos e as tramas em circuito fechado. E acabou-se também a impunidade zelosamente preservada por redes de que bem suspeitamos.

Deve-se dar o justo valor às destemperadas reacções socialistas – e não apenas às de Soares – perante a falência de BES e PT. É que essas falências eram peças da falência do seu Mundo («Quando ele falar vai dizer tudo» dizia Soares de Salgado, imprudentemente). Agarram-se agora aos transportes públicos (o programa de Costa para o seu financiamento é todo um programa de trapalhadas e opacidade) e à TAP. Bem se compreende.

Que conseguiram os socialistas com a sua «política de crescimento», com a sua «defesa do Estado Social», com a sua «política para as pessoas»? Conseguiram a recessão; conseguiram a quase ruína da Saúde, da Educação, da Segurança Social; conseguiram décadas de estagnação económica e empobrecimento geral, acompanhados de enriquecimento sem causa para alguns, alguns dos quais estão presos. E socialmente, que conseguiram? Que conseguiram os socialistas ao abraçarem, numa tentativa vã de se distinguirem, as causas fracturante do aborto, do casamento homossexual – em breve, talvez, a da bestialidade – e o desinteresse pela família? Conseguiram o país com a mais baixa taxa de natalidade da Europa e a mais séria ameaça à sustentabilidade do Estado Social. (O Estado Social – os socialistas esquecem-se sempre disto – foi um presente que lhes ofereceu a direita)

Embaraçados, os socialistas portugueses olham em redor, e já não citam o Hollande que os desiludiu e traiu, não se lembram de Renzi; arrependem-se depressa das ilusões patéticas que do conto (de terror) para crianças de Tsipras; horrorizam-se com a derrocada de Milliband. E apesar da militância e parcialidade vergonhosa de muitos órgãos de comunicação social em que travestis de jornalistas praticam intoxicação grosseira e ridícula, não sobem nas sondagens. Com o proverbial atraso, o eleitorado português, parece, também está a perder a cegueira, a exemplo da Europa toda (Grécia excluída). 
Título, Imagem e Texto: José Mendonça da Cruz, Corta-fitas, 14-5-2015

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