quinta-feira, 23 de julho de 2015

Forças Obscurantistas Internacionais em Ação

Rodrigo Constantino

Sou o presidente da ONG Forças Obscurantistas Internacionais em Ação (FOBIA), formada por ultra-conservadores e reacionários saudosistas da Idade Média. Ao ler hoje um artigo de um ex-ministro que gosta de usar colete brega, marchar pela maconha e abraçar árvores, senti-me na necessidade de reagir. Fomos desmascarados! Fomos descobertos! Os progressistas já sabem de nossa existência, de nossa seita, de nossos rituais macabros contra o avanço da tolerância no mundo.

Vejam só: nós, obscurantistas, defendemos as armas, essas assassinas cruéis e implacáveis! Como todos sabem, são as armas que matam inocentes, nunca as pessoas. E nós pregamos a liberdade da potencial vítima ter uma arma para se defender. Um absurdo! Onde já se viu? Onde isso vai parar? Claro que somente os progressistas se preocupam com as vítimas inocentes, e por isso condenam a arma, essa desgraçada. É verdade que o marginal já o é por não respeitar as leis, e que, portanto, não será o foco do desarmamento legal. Mas isso é detalhe que só nós, obscurantistas, levamos em conta.

Nós, obscurantistas, também temos essa mania de respeitar as tradições de um povo, inclusive as religiosas. Podemos até ser agnósticos ou ateus (sim, eles existem entre nós!), mas mesmo assim entendemos que a religião, em especial o cristianismo, tem sua importância na formação do Ocidente, do qual fazemos parte, e que valores morais foram muitas vezes forjados com base nesses princípios religiosos. Ou seja, nós, obscurantistas, não confundimos estado laico com estado anti-religioso, especialmente anti-cristão, já que os progressistas parecem só respeitar as religiões africanas.

Por falar em África, os progressistas culpam a colonização pelas desgraças todas no continente. O ex-ministro do colete fez exatamente isso no artigo: o “desequilíbrio demográfico, ecológico e institucional tem origem em séculos de escravismo colonial”. Claro, antes dos colonizadores a África, como sabemos, era praticamente um paraíso! Era um oásis de tolerância. Foi o homem branco ocidental cristão malvado que destroçou o lugar. Como? Alguns países mais isolados, sem esse contágio do homem branco perverso, são ainda piores? Os próprios africanos escravizavam outros africanos? Detalhes. Detalhes chatos e insignificantes que só nós, obscurantistas, levamos em conta.

Vejam só como nós, obscurantistas, somos preconceituosos: união entre gays já é algo do passado, e nem falamos mais disso. Mas como a agenda progressista está longe da satisfação, pois é preciso liberar geral em nome do “amor” e dar vazão aos apetites sexuais o tempo todo e de todos, só pode ser classificado como tolerante e progressista quem acha o máximo o “poliamor”, nome novo para bacanal e orgia, ou quem não vê absolutamente nada demais no pai virar mãe, na mãe virar pai, e em ambos viverem juntos com seus respectivos marido e esposa, todos na mesma casa educando os filhos sobre a importância do combate ao preconceito.

É necessário achar tudo isso muito normal, do contrário é reacionário, preconceituoso. Não quer dar uma boneca ou pintar o quarto de rosa para o filhinho de 3 anos? Machista! Nós, obscurantistas, ainda achamos que há certas coisas bizarras no mundo, enquanto o conceito de normalidade foi totalmente abandonado pelos progressistas.

Por fim, nós, obscurantistas, ainda achamos que fazer aborto não é como cortar o cabelo ou a unha, e que cocaína e crack não são como baguete ou pão francês, que deveriam ser vendidos em qualquer esquina na maior tranquilidade. Confesso que temos algum preconceito contra seus usuários sim, pois, afinal, somos obscurantistas. Não achamos cool o sujeito encarar uma carreira de pó branco no meio de uma festinha progressista como quem traga um uísque. Para nós, são coisas diferentes, pois estamos presos na Idade Média.

Nós, da FOBIA, somos fóbicos. Morremos de medo dos progressistas, do progresso, do futuro. E por isso nos apegamos a essas coisas ultrapassadas, tais como tradição, família, religião. Ainda seguimos alguns tabus, vejam só. Por exemplo: achamos um tanto de mau gosto uma novela tratar com naturalidade uma situação em que um sujeito faz sexo com a filha e a mãe juntas! Também achamos bizarro um garoto, em novela das seis, falar que o incesto é um tabu religioso, e que se houver amor entre irmãos, qual o problema de rolar um sexo?

Nossa conspiração contra o progresso é internacional, pois sabemos que os progressistas estão no mundo todo. Menos na África e nos países islâmicos, pois lá eles são normalmente enforcados. Mas isso também é culpa do homem branco ocidental cristão, claro. Tudo é culpa dessa praga, desse ícone do conservadorismo, do obscurantismo. Ao menos é o que “pensam” os tolerantes progressistas, que são tão moderninhos e descolados, que se tivessem o poder de um Castro já teriam mandado todos nós, obscurantistas, para a fogueira, para provar que a Inquisição é coisa do passado obscuro! 
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, veja, 23-7-2015

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