terça-feira, 21 de julho de 2015

Perspectivas existencialistas...

Valdemar Habitzreuter
Existir implica em duas coisas: ente e ser. Não são propriamente a mesma coisa. O ente é o fenômeno, aquilo que aparece; o ser é o que está escondido no ente, subjaz ao ente, é a essência do ente; sem o ser o ente não existe.

Nós somos entes, isto é: cada qual é um fenômeno e consequentemente o que sustenta esse fenômeno é o ser que subjaz nele. Este ser que somos, que é a nossa essência humana – o cerne -, nós o esquecemos e só nos preocupamos com a nossa casca - o fenômeno.

Existir, portanto, é um desafio. Primeiro, porque não vislumbramos um propósito claro de estamos aí jogados no mundo e sem saber qual sentido dar à existência. Segundo, invade-nos o sentimento da angústia pelo que a existência nos pode reservar: atrocidades, doenças, catástrofes, tragédias e morte. Por que esta angústia? Porque nos perdemos nas aparências em detrimento do essencial da existência.


Esquecemo-nos de que por trás de todo existente subjaz o ser e esquecemo-nos dele, damos importância às aparências que sufocam o ser. Existimos escondendo o ser, o nosso ser. O ser quer ser para que o existir tenha sentido.

Assim, o homem/mulher está às voltas com o amargor da vida por conta do esquecimento de seu ser, e a existência torna-se um peso, um absurdo e sem sentido. E para sufocar sua inquietação frente ao mal-estar existencial usa de subterfúgios: viagens..., consumismo..., baladas..., frenesi musical..., tempo desmesurado no computador..., celular..., exposição glamorosa no FB..., prazeres inconsequentes sem monta..., e por aí vai... Tudo visando encobrir a tristeza e falta de sentido de existir em que o ser permanece esquecido. Despertá-lo seria a solução para uma vida autêntica, pois ser não implica em dedicar-se a técnicas para fugir da vida acabrunhada e aliviar a existência, é simplesmente ser e deixar a vida acontecer onde até a morte é bem-vinda coroando o ser.

Assim, para aliviar esta vida angustiante (remete a Heidegger), nauseabunda (a Sartre), surgiu uma perspectiva filosófica denominada ‘existencialismo’ que se propõe a uma análise existencial do homem, do porquê de suas angústias e medos e qual remédio aplicar para suportar satisfatoriamente o existir no mundo. O slogan do existencialismo: “existo, logo preciso dar conta dessa existência”, remete ao desvelamento de nosso ser e pastoreá-lo.

O existencialismo é representado por filósofos consagrados como Kierkegaard, considerado o pai do existencialismo, Martin Heidegger, Karl Jaspers, Paul Sartre, Edmund Husserl, Friedrich Nietzsche, Gabriel Marcel, etc. que formulam teorias de como atravessar a existência com autenticidade e valorá-la, mesmo que ela se apresenta na cruel nudez do desgosto e desesperança. Para o existencialismo, o desespero, angústia, a náusea, o abandono que a existência provoca no indivíduo servem de subsídio para construir cada qual sua essência pessoal - seu caráter. É justo isto: essencializar a existência; isto é: ter projetos de vida para suportar o mal-estar existencial.

Não é o caso de aqui expor as filosofias desses pensadores, para isso, basta vasculhar o arsenal encontrável na internet e alhures..., mas de modo geral, poder-se-ia admitir o existencialismo em três vertentes: Pelas vias da estética, ética e religiosa. Pela via da estética, o ser se revela essencialmente como belo e elevado (a palavra estética é derivada da palavra grega ‘aesthesis’, sentir – portanto, sentir a beleza da vida, o prazer de existir). Pela via da ética, o indivíduo naturalmente desvela o ser e assume um comportamento de correção e autenticidade de vida, preenchendo o vazio da existência (ethos, morada, daí, zelar pela sua morada, pelo seu ser). E pela via religiosa, a pessoa, ao vivenciar seu ser, vislumbra o SER Absoluto e dedica-se a uma vida numinosa para ligar-se a ele (religião seria a religação do elo perdido com o SER Absoluto, do latim religare, religar).

O Importante, portanto, é compreender a existência e elaborar projetos para melhor fazer sua travessia, seja de modo estético, ético ou religioso... 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 21-7-2015

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