domingo, 2 de agosto de 2015

A caminho das eleições

Eduardo Cintra Torres

As redações, mesmo as mais inclinadas para o PS, têm de cumprir o pluralismo

Os principais media estão dominados pelo PSD, diz metade das redes sociais. Os principais media estão dominados pelo PS, diz a outra metade (a "terceira metade" não se pronuncia). Estes argumentos radicais invocam a propriedade dos media, os principais comentadores, a cobertura noticiosa, a posição assumida pelos jornalistas e directores e muitos outros elementos, mas a realidade é mais complexa. 

Mesmo o caso dos políticos comentadores é complicado. O PSD tem mais figuras de topo a comentar nos canais, mas não só os outros partidos também lá têm diversos dirigentes e deputados, como os do PSD se distinguem por uma singularidade: os principais estão quase sempre contra o seu próprio partido, como Manuela Ferreira Leite e Pacheco Pereira. Luís Marques Mendes critica amiúde o PSD ou o governo, como forma de criar o seu "espaço", mais de comentador político do que de político comentador. E Marcelo Rebelo de Sousa também o faz, ao serviço da sua eventual candidatura: a crítica ou elogio em todas as direcções permite-lhe recolher simpatias de todo o espectro político dos eleitores.

Sendo assim, não há paradoxo: se estas figuras do PSD são comentadoras de topo é precisamente porque não são vistas pelos espectadores como meros papagaios do partido.

Já os políticos comentadores dos outros partidos são defensores acérrimos da sua ortodoxia partidária. A única excepção vem de novo da coligação, com Bagão Félix a criticar sistematicamente o governo de que o CDS faz parte.

Coisa diferente é o jornalismo praticado. Notam-se as inclinações da SIC e da TVI a favor do PS e de António Costa e José Sócrates. Costa é ouvido em directo por dá cá aquela palha. Isso não significa, porém, que os canais desprezem o pluralismo em termos de tempos dedicados a cada candidatura. Significa que o seu noticiário é facilmente enviesado.

Tenho aqui dado vários exemplos. A visão de que os principais media favorecem o governo parece-me resultar do recente aumento da actividade do governo em acções de propaganda política e presença em eventos.

Nota-se a diferença, relativamente aos quatro anos anteriores. As redacções, mesmo as mais inclinadas para o PS, como as da SIC e da TVI, têm de cobrir essa actividade acrescentada, para cumprirem o pluralismo e manterem a fidelidade dos espectadores.

E o mais importante é que haja pluralismo. Da parte do espectador interessado, só há uma maneira de se aproximar da verdade dos factos e aperceber-se dos enviesamentos: fazer zapping e ver o máximo que puder para encontrar o ponto de equilíbrio.
Título e Texto: Eduardo Cintra Torres, Correio da Manhã, 2-8-2015

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