Eduardo Cintra Torres
As redações, mesmo as mais
inclinadas para o PS, têm de cumprir o pluralismo
Os principais media estão
dominados pelo PSD, diz metade das redes sociais. Os principais media estão
dominados pelo PS, diz a outra metade (a "terceira metade" não se
pronuncia). Estes argumentos radicais invocam a propriedade dos media, os
principais comentadores, a cobertura noticiosa, a posição assumida pelos
jornalistas e directores e muitos outros elementos, mas a realidade é mais
complexa.
Mesmo o caso dos políticos
comentadores é complicado. O PSD tem mais figuras de topo a comentar nos
canais, mas não só os outros partidos também lá têm diversos dirigentes e
deputados, como os do PSD se distinguem por uma singularidade: os principais
estão quase sempre contra o seu próprio partido, como Manuela Ferreira Leite e
Pacheco Pereira. Luís Marques Mendes critica amiúde o PSD ou o governo, como
forma de criar o seu "espaço", mais de comentador político do que de
político comentador. E Marcelo Rebelo de Sousa também o faz, ao serviço da sua
eventual candidatura: a crítica ou elogio em todas as direcções permite-lhe
recolher simpatias de todo o espectro político dos eleitores.
Sendo assim, não há paradoxo:
se estas figuras do PSD são comentadoras de topo é precisamente porque não são
vistas pelos espectadores como meros papagaios do partido.
Já os políticos comentadores
dos outros partidos são defensores acérrimos da sua ortodoxia partidária. A
única excepção vem de novo da coligação, com Bagão Félix a criticar
sistematicamente o governo de que o CDS faz parte.
Coisa diferente é o jornalismo
praticado. Notam-se as inclinações da SIC e da TVI a favor do PS e de António
Costa e José Sócrates. Costa é ouvido em directo por dá cá aquela palha. Isso
não significa, porém, que os canais desprezem o pluralismo em termos de tempos
dedicados a cada candidatura. Significa que o seu noticiário é facilmente
enviesado.
Tenho aqui dado vários
exemplos. A visão de que os principais media favorecem o governo parece-me
resultar do recente aumento da actividade do governo em acções de propaganda
política e presença em eventos.
Nota-se a diferença,
relativamente aos quatro anos anteriores. As redacções, mesmo as mais
inclinadas para o PS, como as da SIC e da TVI, têm de cobrir essa actividade
acrescentada, para cumprirem o pluralismo e manterem a fidelidade dos
espectadores.
E o mais importante é que haja
pluralismo. Da parte do espectador interessado, só há uma maneira de se
aproximar da verdade dos factos e aperceber-se dos enviesamentos: fazer zapping
e ver o máximo que puder para encontrar o ponto de equilíbrio.
Título e Texto: Eduardo Cintra Torres, Correio
da Manhã, 2-8-2015
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