domingo, 23 de agosto de 2015

A hora da onça beber água: perguntas letais para senadores não-bolivarianos usarem na sabatina de Rodrigo Janot em 26 de agosto

Luciano Henrique

E não é que a oportunidade de tirarmos algumas coisas a limpo está mais próxima do que esperávamos? O fato é que o procurador-geral de Dilma, Rodrigo Janot, vai passar pela sabatina nesta quarta-feira, 26/8, na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ). Antes de tudo, aqui vai uma lista de perguntas a serem feitas (compiladas com a ajuda de leitores). Depois das perguntas, vamos às dicas do que fazer:


· Você denunciou Eduardo Dunha, mas os blogs estatais já sabiam da data de sua denúncia dias antes. Você não acha que isso leva a suspeitas de ação orquestrada? Teriam sido espíritos que invadiram seu escritório e leram sua denúncia, levando-a para estes blogueiros?

·   Você usou uma epígrafe em sua denúncia contra Eduardo Cunha, que conclui com uma frase em estilo de ameaças de Valeska Popozuda, no padrão “vou te derrubar, você vai cair”. A frase, uma citação de Gandhi, é algo como “tiranos… no final sempre caem”. Você não acha que isso é baixar o nível demais, ou, melhor dizendo, algo incompatível com um cargo tão importante?

· Você quer que Cunha seja condenado a 184 anos de prisão. Podemos então esperar um pedido seu de no mínimo 5.000 a 10.000 anos para Lula e Dilma?

· Você afirmou que tem provas contra Eduardo Cunha, mas em todas as “provas” apresentadas vimos alegações de gente dizendo “ele me disse isso”, e não coisas como um áudio com a gravação da conversa, o que seria uma prova de verdade. Aliás, já existem áudios de gravações de conversa até de Lula com Alexandrino. Qual é sua melhor evidência (a mais contundente) sobre Eduardo Cunha? [se ele se recusar a dizer, é bom afirmar que em toda a ação não existem provas, e daí ficará mais difícil para que ele use recursos de indignação a fim de fazer as pessoas se convencerem de que ele não está usando o cargo para fins políticos].

·  Os petistas dizem que pedir impeachment de Dilma é “golpe”. Por outro lado, em duplo padrão, eles dizem que pedir afastamento de Eduardo Cunha “não é golpe”. Parece que qualquer coisa contra o PT é “golpe”, mas qualquer coisa a favor é “mais democracia”. Seja claro em sua resposta, por favor: impeachment e afastamento só não são golpes se forem feitos contra adversários do PT? Pedir impeachment é golpe? Explique-nos se você concorda com este truque retórico usado pelo PT.

· O cocalero Evo Morales ameaçou usar as Forças Armadas de seus país contra nós caso Dilma sofrer impeachment. Usando a mesma retórica suja do PT, ele diz que “é golpe” um possível impeachment de Dilma. Isso é claro desprezo do PT e de seus aliados à Constituição, a qual você tem a obrigação de defender. Há abundantes evidências de que Dilma valida todos os acordos comerciais do Brasil com a Bolívia, que agora é um país hostil. A manutenção destes acordos comerciais irá resultar em uma denúncia de crime de responsabilidade contra a presidente?

· Por que você excluiu políticos do PT das investigações, sendo que havia indícios mais fortes para investigá-los do que os indícios de adversários políticos do partido, como Eduardo Cunha?

·  A deputada Mara Gabrilli, do PSDB, deu declarações duríssimas que relacionam Lula ao caso do assassinato de Celso Daniel. Há expectativas de alguma denúncia relacionada a este caso?

·  O presidente da CUT ameaçou pegar em armas em pleno Palácio do Planalto e, pior, na presença da presidente Dilma. Ultimamente essas ameaças de guerra civil têm sido constantes. Em muitos casos, estes grupos são financiados com verbas estatais. O que será feito em relação à Dilma Rousseff neste caso? Em complementação, esclareça qual o seu papel e como o senhor pensa em defender o Estado Democrático de Direito das ameaças de luta armada contra a sociedade vinda dos defensores internos e externos da presidente.

· Renan Calheiros é suspeito de corrupção ativa e lavagem de dinheiro, enquanto no caso de Eduardo Cunha temos suspeitas de corrupção passiva. Por que Renan Calheiros não foi denunciado, mas Eduardo Cunha sim?

· Até a mídia bancada por verbas estatais (cujos quartéis generais são blogs como Conversa Afiada, Brasil247 e Viomundo, que depois injetam seu conteúdo na mídia de grande porte) diz que o “acordão” entre Renan Calheiros e o PT, com o envolvimento de organizações de mídia, ajudou a livrar o presidente do Senado de denúncias. Se até a mídia governista está falando desta forma, como podemos acreditar que não há algo de sujo em toda essa história?

· O mais incrível ainda é isto aqui. O delator Júlio Camargo mencionou a relação do operador do PMDB não apenas com Eduardo Cunha, mas também com Renan Calheiros e Michel Temer. Como tentar convencer o povo de que há isenção em sua atividade?

· Na delação premiada, Ricardo Pessoa relata que doou dinheiro desviado da Petrobrás para a última campanha de Dilma. Ele cita o tesoureiro de sua campanha, além de Gabriele e Mercadante. Ainda assim o senhor não vê indícios para denunciar estes personagens?

· A blogosfera governista tem afirmado que a saída de Eduardo Cunha, ou mesmo seu enfraquecimento enquanto presidente da Câmara, reduz as chances quanto ao pedido, análise e julgamento do impeachment da presidente. Se até os blogs do governo estão tratando tudo como um jogo político, que argumentos seriam convincentes para que você não apenas argumente, mas principalmente prove, que há qualquer tipo de isenção em sua atuação?

· Esta mesma mídia garante que o apoio de Renan Calheiros para que você seja reeleito hoje estará livrando as costas dele. Como a Presidente da Alemanha, o senhor também estaria disposto a sacrificar as amizades que o levaram a tão alto posto, para defender a sua nação? Não seria esse um dever de ofício?

· Eduardo Cunha e Narizinho (Gleisi Hoffman) foram mencionados por delatores. Contra Gleisi, há até mais provas contra ela do que contra Cunha. Se você usa o argumento “ah, foi a delação” para denunciar Cunha, podemos dizer que Gleisi também foi delatada. Então você precisa explicar quais os princípios jurídicos que diferenciam os dois casos. [É importante que a justificativa da diferença de tratamento tenha que partir dele, enquanto ao questionador cabe demonstrar os pontos em comum]

· Como já tratado aqui, Dilma foi citada 11 vezes em delações. Sabemos que a corrupção petista é feita para nos transformar em uma ditadura, assim como já ocorre na Venezuela, na Bolívia e no Equador. Você está consciente de que qualquer atuação visando beneficiar Lula e Dilma é parte de um processo de destruir nossa democracia e transformar o povo brasileiro em um amontoado de escravos do PT? Com isso acontecendo, como você conseguiria encarar seus familiares de frente?

· Você até agora engavetou 84 processos. Você não acha que se mantiver este ritmo, sua recondução ao cargo irá lhe transformar no Super Engavetador Geral da República?

Enfim, estas são algumas perguntas.

As regras do jogo agora são as seguintes. É preciso pressionar senadores que (a) não sejam bolivarianos, e (b) não se chamem Renan Calheiros. A pressão deve ser no sentido de que eles se organizem e garantam que estas perguntas sejam feitas. As regras aqui valem não apenas para direitistas, como para todos os republicanos em geral (ou seja, incluem-se direitistas, centristas e esquerdistas moderados).

No meio do caminho, você ouvirá alguns direitistas depressivos dizendo “ah, mas não adianta”. Mande-os pastar, usando termos os mais fortes possíveis. A turminha da depressão já encheu demais nossa paciência e já perdeu qualquer legitimidade em todo o debate público (sempre com aquela conversinha irritante: “ah, não vai adiantar, já pressionamos na época do Fachin e não adiantou, tá tudo dominado”).

Por exemplo, vários desses que surgem com o discurso da depressão o fazem para defender a intervenção militar, e portanto não estão participando do verdadeiro jogo político. Eles são um grupo minoritário, mas sempre aparecem, vez por outra, arrogantemente, para tentar desanimar os que estão lutando democraticamente. Esse tipo de direitista depressivo colhe suas vitórias se você se desanimar. Não os deixe ter este gostinho.

Outra legião de pensamento, também danosa, surgiu no blog O Antagonista, cujo trabalho admiro e cito várias vezes, mas na questão Janot está pisando na bola. Eles defendem que “Janot na hora certa vai denunciar os políticos que tiver que denunciar”. Isso é fé cega, inimiga mortal da pressão política. Adotar fé cega em Rodrigo Janot, na atual conjuntura, beira a insanidade. Bizarro é pouco para descrever. Esta linha de pensamento é tão devastadora, em termos políticos, quanto o é aquela adotada pelos direitistas depressivos.

Tendo afastado estes obstáculos, o negócio é pressionar no limite do possível todos os senadores não-bolivarianos (menos o Renan Calheiros, é claro). Aqui publiquei 10 dicas de como pressionar congressistas a seu favor.

Atenção: o objetivo principal não é impedir a recondução de Janot ao cargo, uma vez que isto está praticamente fechado. Tudo por causa do “acordão”, conforme a BLOSTA já deu com a língua nos dentes.

O objetivo é levar as questões ao debate público, e inserir os argumentos (escondidos no meio das questões) nos senadores não-bolivarianos, nos deputados (que estarão acompanhando tudo), e aumentar a pressão sobre Rodrigo Janot, manchando-o politicamente e aos que nele votarem.
Enfim, mãos à obra:


Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 23-8-2015

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