quarta-feira, 12 de agosto de 2015

A lição a ser tirada da Argentina. Ou: Como o “já ganhou” é um perigo a ser evitado

Luciano Henrique

Ontem, Rodrigo Constantino fez uma análise brilhante das eleições recentes na Argentina. O caso é que no primeiro turno, o candidato apoiado por Cristina Kirchner [foto] ficou quase 10 pontos à frente do segundo colocado  (faltou pouco para ele vencer no primeiro turno). Antes de falar da Argentina, Constantino lembra do caso brasileiro:

O PT já era. Do ponto de vista moral, é isso mesmo. Vemos ratos abandonando a canoa furada na maior cara de pau, como se não tivessem defendido o lulopetismo até ontem. Sentem os ventos de mudança e se adaptam. Mas isso não quer dizer que o PT acabou politicamente, muito menos que o governo está com seus dias contados. Reconhecer a diferença entre as duas coisas é fundamental para a sobrevivência de nossa democracia.

É isso!

Temos que deixar claro que o clima de “já ganhou” deve ser deixado para trás. Sabemos que os líderes petistas possuem um senso moral digno de assustar o Cão. Porém, ao mesmo tempo, possuem uma capacidade de compreensão dos eventos políticos que raros direitistas conseguem sequer assimilar. Às vezes dá a impressão que o PT possui um aparelho no estilo daquele usado pelos personagens do filme MIB (Men in Black), mas que ao invés de apagar a mente, faz com que seu alvo passe a pensar e agir como uma criancinha. O fenômeno se presencia quando vemos o PT dizer coisas como “Aécio é agressivo por usar o termo leviana” ou “há pauta-bomba do Congresso”, sem serem contestados ao ponto da humilhação épica.

A partir do dia em que fizermos a escolha de compreender os arquitetos do PT como exemplos de mentes psicopáticas, iremos não apenas adentrar a um mero embate político, mas a uma luta contra a psicopatia política. A partir daí, cada instância de cinismo alucinado custará caro aos petistas. Mas enquanto não fizermos a opção por este entendimento da realidade, ainda deixamos na mão dos petistas um poder assustador. Ter o poder de agir como um psicopata diante de pessoas que não conseguem entender o processamento de eventos resultantes de tal tipo de gente, em qualquer embate político, é um diferencial aterrador. Podemos até supor que os arquitetos petistas conseguiram tal nível de conhecimento a partir de consultorias vindas de outros líderes que já avançaram totalitarismos em maior escala no Foro de São Paulo, como Venezuela e Argentina.

Constantino lembra que “mesmo com toda a crise econômica e moral, esses governos autoritários bolivarianos conseguiram se manter no poder”. Eu já complementaria com a seguinte observação: ter o poder de agir como um psicopata político, diante de uma oposição (seja de direita ou não) que escolheu por não entender este tipo de mente, é realmente um diferencial. Exatamente por isso temos que nos manter atentos.

Ele nos lembra:

O Brasil não é a Argentina, nem mesmo a Venezuela. Mas a Argentina tampouco era a Argentina! Era um país com imprensa livre, com ampla classe média, e deu no que deu. Após mais de uma década de casal K no poder, as instituições foram para o espaço e os eleitores perderam as esperanças.

É por isso que o PT luta tanto para controlar a mídia com projetos de lei. Porque isso é garantia de permanência no poder, mesmo com o país devastado. O detalhe é que hoje o PT controla parcialmente a mídia, com o uso de verbas estatais em ritmo torrencial, e principalmente com uma blogosfera estatal, bancada com R$ 10 milhões de reais por ano do mesmo tipo de verbas estatais. E tudo isso raramente questionado por direitistas, que fazem hangouts e palestras que duram horas e, mesmo assim, dificilmente reservam minutos para tratar de projetos de lei para acabar com esse absurdo. A luta pelo controle da mídia é valorizada pela extrema-esquerda na mesma medida em que é desprezada pela direita atual. Escolhas deste tipo ajudam a dar a segunda classe de poder indisputado do PT: uma vantagem no controle das narrativas.

Resumindo, a direita fez duas escolhas perigosíssimas, dentre outras:
(1) não assimilar a luta contra os petistas como se fosse a luta contra psicopatas políticos,
(2) ignorar completamente a luta pela liberdade de imprensa, na mesma proporção em que os bolivarianos querem controlá-la. Constantino prossegue com o alerta:

O PT ainda não foi jogado para escanteio. Sim, o governo Dilma tem a maior rejeição da história. Mas ela ainda está lá. O PT ainda controla milhares de cargos e bilhões de gastos públicos. Ainda tem a máquina estatal para usar e abusar. E enquanto o inimigo do Brasil tiver tantas armas, a guerra não terá terminado. Cochilou, o cachimbo cai. Tudo que o adversário mais deseja é ser tido como morto.

Por essas e outras razões vejo qualquer saída que preserve Dilma na presidência e o PT no governo como inadequada. É negligenciar o poder dos safados com todo esse arsenal à disposição. O alerta que vem da Argentina é bastante claro: nem mesmo a mais grave crise econômica é garantia de derrota política do governo. É preciso evitar o clima de que o PT já era. Ele está morto moralmente falando. Mas continua vivo… e no poder!

O PT tem um poder terrível em suas mãos, que, bizarramente, optamos por não tentar tirar. Estas escolhas têm colocado bolas de ferros em nossos pés, tornando complicado um jogo que poderia ser muito mais fácil. Por isso, concordo com a sugestão de Constantino. Diante de tanta capacidade de reação petista, o melhor a fazer é motivar o maior número de pessoas para as manifestações do 16/8. 
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 12-8-2015

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