José Milhazes
As autoridades russas
organizam eleições dentro dos prazos previstos, mas, na realidade, não se
cansam de a espezinhar ao impedir que a oposição nelas participe.
Do ponto de vista formal, as
autoridades russas cumprem a Constituição do país e organizam eleições dentro
dos prazos previstos, mas, na realidade, não se cansam de a espezinhar ao
impedir que a oposição nelas participe.
Quando falo em oposição, claro
que não tenho em vista os partidos Comunista, Liberal-Democrático e Rússia
Justa, que não passam de mera decoração para “turista ver” no Parlamento Russo.
No próximo dia 13 de Setembro
realizam-se eleições em 11 regiões da Federação da Rússia. O Partido da
Liberdade Popular (PARNAS) reuniu à sua volta uma coligação de forças
democráticas e, a fim de concentrar esforços, decidiu participar em apenas
algumas eleições regionais – mas as comissões eleitorais recorrem a todo o tipo
de subterfúgio para não permitir à oposição chegar aos boletins de voto.
O PARNAS tem entre os seus
fundadores Boris Nemtsov, político assassinado em circunstâncias desconhecidas
e, na coligação democrática, além de Mikhail Kassianov, antigo
primeiro-ministro russo, está Alexei Navalny, conhecido por denunciar casos de
corrupção na elite russa.
Uma das razões alegadas para
impedir a oposição de participar nas eleições é que os membros da coligação
falsificaram assinaturas a fim de conseguirem o número suficiente de apoiantes
para as suas listas, mas, no distrito de Kaluga, os autores de assinaturas que
tinham sido consideradas “falsas” pela comissão eleitoral foram confirmar a sua
veracidade. De nada valeu.
Apenas Iegor Savin conseguiu
registar-se num círculo uninominal em Berdsk, pequena cidade siberiana.
O politólogo russo Stanislav
Belkovski avança uma explicação bem plausível para o receio do Presidente
russo, e da sua corte, face a qualquer eleição legítima e transparente: “Putin
acabou completamente com a imitação de democracia que existia com o anterior
Presidente”.
Isto porque a experiência
democrática, em Setembro de 2013, em Moscovo não foi nada agradável para o
Kremlin. Nas eleições para presidente da Câmara de Moscovo, Alexei Navalny,
conseguiu 27,24 % dos votos, o que não estava nos planos do Presidente Putin.
Ao não permitir a participação
da oposição democrática na vida política, o dirigente russo tenta impedir o
aparecimento de qualquer foco de contestação à sua política. Isto é
particularmente importante quando o preço dos combustíveis nos mercados
internacionais desce, a moeda nacional russa desvaloriza-se e a situação económica
se agrava na Rússia.
O Presidente russo parece
estar cada vez mais consciente de que, se pouco conseguiu fazer para a
modernização do seu país quando o barril de petróleo estava a mais de cem
dólares, ainda menos irá fazer agora, quando o preço desse combustível desceu
mais de 50%.
Numa situação destas, é mais
fácil acusar demagogicamente o Ocidente e a sua “quinta coluna” da oposição de
todos os males da Rússia do que resolver os graves problemas que o país
enfrenta.
E a popularidade de 86% de
Vladimir Putin pode não ser eterna. Por isso, mais vale prevenir do que
remediar.
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