domingo, 9 de agosto de 2015

Não nos enganem com António Costa

António S. Carvalho
Seja qual for a motivação que cada um teve, da mais respeitável à mais inconfessável, o facto é que demasiados jornalistas e comentadores nacionais andam, há anos, a dar-nos de António Costa uma imagem artificialmente favorável e a silenciar ou ignorar facetas suas reveladoras da falsidade dessa rósea "narrativa". Ora nós, cidadãos comuns, temos direito a uma informação pública que não nos engane de modo sistemático, ainda mais agora, quando estamos em vésperas de umas eleições onde o nosso destino estará em jogo e António Costa será um dos principais candidatos a primeiro-ministro. Por isso, esperar-se-ia que, ao menos neste período, os potenciais eleitores pudessem ser informados com mais verdade.

Lembro apenas dois exemplos paradigmáticos.

Primeiro: nos últimos anos, enquanto António Costa presidiu à CML, os habitantes da capital viram as suas contas da água (EPAL) duplicar de custo, não por terem passado a consumi-la em maior quantidade, mas sim porque Costa decidiu incluir nessas contas diversas taxas camarárias (é tão fácil, e dá tantos milhões...), cuja soma supera já o custo da própria água!

Ora esta situação, que deveria ser encarada e tratada como escândalo público, em vez disso tem sido silenciada pelos media. E nós, munícipes, não temos quem nos defenda deste afrontoso roubo legalizado. Tudo porque os media funcionam como se fosse tabu, ou heresia, denunciar publicamente o modo despótico como Costa exerce o poder.

Segundo: antes de ir para a CML, ele foi durante anos ministro de Sócrates (e seu entusiástico adepto), com a tutela dos arrendamentos urbanos, tendo-se comprometido a reformar a respetiva lei, de cuja vigência decorriam muitas aberrações e distorções, a fim de reanimar o (então moribundo) mercado do arrendamento.

Ora, a lei que foi feita sob as suas ordens e que passou a vigorar em 2006, teve efeitos em tudo opostos aos que ele garantira, e de tal modo perversos eles eram que julgar-se-ia provirem de uma lei que tivesse sido encomendada (e exigida?) pela banca, pois a esta interessava a morte definitiva do mercado de arrendamento. Isto porque o seu grande negócio - os empréstimos para aquisição de casa própria com hipotecas de 30 a 40 anos - ser-lhe-ia tanto mais rentável quanto menos gente houvesse a optar pelo arrendamento. Foi aliás devido a este originalíssimo "modelo de desenvolvimento económico", seguido durante uns 30 anos, que Portugal se tornou o país com a mais descomunal dívida externa originada pelo endividamento das famílias, e que tornou inevitável, em 2011, o terceiro pedido de resgate financeiro ao exterior em 40 anos - tudo graças a leis como aquela de que o Dr. Costa foi o responsável máximo, um facto que também é sempre ocultado pelos nossos media.

De resto, e como é sabido, este reputado político ainda hoje não reconhece ter cometido qualquer erro económico relevante no seu já longo currículo como governante. Torna-se pois indispensável, para proteção de todos nós, que alguém lhe chame a atenção para os mortíferos males que foi impondo ao país, sem sequer se aperceber que eram males, e antes que os inflija de novo, cheio da sua auto-satisfação e boa consciência.
Título e Texto: António S. Carvalho, Diário de Notícias, 9-8-2015

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