segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Crônicas da Mala Amada – De malas prontas... Será?

Jonathas Filho
 
Imagem: Dreamstime.com
A definição encontrada nos dicionários diz que mala é um objeto que se apresenta na maioria das vezes com um formato retangular, se parecendo com uma caixa que tem uma tampa usada para fechá-la e que pode ser fabricada com vários tipos de materiais. Tal recipiente é normalmente utilizado para transportar roupa, porém, em determinadas situações pode carregar outros “materiais” que podem tornar a vida bem mais fácil, inclusive proporcionando imensas alegrias a quem recebe a mala. Estas alegrias, entenda-se bem, muitas vezes se referem às notas que, em grandes quantidades, são divulgadas pelas mídias de plantão.

Existem diversos tipos de malas: umas com feitio de dog house, outras iguais a baús, umas em formato de saco de lona, umas de madeira, outras de couro e já existem algumas mais modernas, em plástico moldado e que são providas de rodinhas, para serem facilmente puxadas nos saguões dos terminais rodoviários, aeroportos ou nas gares de ferrovias. 

Quando a mala é provida de alça, indica que pode ser facilmente carregada com as mãos, entretanto, em certas situações – naquelas que aparece sem alças – pode sugerir pejorativamente que certo elemento é impossível de se carregar ou que fulano é um indivíduo insuportável, difícil de se aturar, sendo considerado um “caro” inoportuno... um verdadeiro chato... que não dá pra segurar mesmo!!!

Certas malas, quando encontradas despertam diversas sensações. Num terminal aeroportuário pode traduzir a pressa de uma pessoa que ao se dirigir a uma empresa aérea para conexão imediata com um voo destinado a outra cidade, a esqueceu próxima ao balcão.                                

Se descoberta num sótão empoeirado: ao abri-la, pode ser encarada e percebida como uma cápsula do tempo, mostrando no seu interior roupas de época, fotografias de um momento distante, velhas cartas recebidas de um amor que estava longe, antigos livros de poemas, amarelados cartões postais vindo de outras plagas, enfim, um sem número de coisas que nos remetem ao passado.

Houve um tempo em que eu usei malas, devido ao meu trabalho como Comissário de Voo, a bordo de aviões da maior empresa aérea da América do Sul, reconhecida como uma das melhores companhias aéreas do mundo.

Nós, os tripulantes dessa aviação brasileira, tínhamos duas. Uma pequena, que nos acompanhava a bordo, e outra grande que seguia no porão de carga. Ambas tinham como identificação, a Rosa dos Ventos e uma numeração que obtínhamos ao recebê-las.



Numa determinada época, mesmo sabendo o que essa empresa representava para o país no mundo da aviação comercial; que carreava divisas de bilhões de dólares para a nossa pátria amada, salve salve, mas mesmo assim, as autoridades lhes negaram uma pequena ajuda financeira quando se encontrava sob dificuldades, causando o fechamento e a venda da mesma para um grupo estrangeiro considerado “abutre”.

Passados alguns anos, após julgada uma ação no STF em 12 de março de 2014 e vencida pela Varig com cinco votos a favor e dois contra, a Justiça tornou aquilo que já era esperado em realidade e, paradoxalmente, a união que lhe negou ajuda, passou a ser devedora de bilhões de reais à Varig. 

Hoje, me sinto muito mal em dizer que o nosso céu não é mais nosso, pois não tem mais a estrela brasileira, e com isso nossas malas azuis também perderam as asas. 
Tal ignomínia fez com que a vida das malas azuis da Varig também acabasse em 2006.

E tudo isso por causa de um mala...

Existem malas que se fecham e outras que se abrem. As que se “fecham em copas” com fortíssimos cadeados podem guardar segredos que só serão conhecidos daqui a séculos.

As que se abrem principalmente nos balcões das Aduanas, demonstram que “uns” fizeram uma excelente viagem e adquiriram objetos de fino bom gosto, mas que a viagem em si foi meramente uma “obrigação profissional” e portanto só constam com itens consideradas “lembrancinhas” ou de uso pessoal.                   

Atualmente, algumas malas são do tipo das “mais vendidas” e se abrem descaradamente, sem constrangimento pelos seus atos censuráveis. Frequentemente, se abrem para receber o escandaloso numerário em troca do silêncio ou em troca da “oportunidade de sucesso”.

Dizem que é por causa destes “malas” que o “comércio” de bolsas, valises, pastas e similares está visivelmente crescente nessa época de crise moral misturada com recessão e inflação, enquanto as vendas feitas para a utilização de sacolas dos supermercados, estão cada vez menores pois, estas sacolas estão cada vez mais vazias.

Malas têm muitas serventias, incluindo umas que são fechadas, amarradas com correntes e cadeados, que são apresentadas em situações circenses, nas quais os contorcionistas demonstram suas performances de escapismo. Outras malas, funestas, quando abertas mostram corpos dos que já foram para o andar de cima, vide o “Crime da Mala”.

Há uma grande diferença entre a Mala Amada e a Mal Amada. A primeira relembra um passado de alegrias e não era um fardo. Mala Amada é aquela que nos aceita dentro, nos comporta e nos conforta.
A Mal Amada, que é feita com couro de anta; apesar de ter sido levada a uma posição de destaque, permanece sendo uma mala, porém sem alça... um objeto abjeto que está sempre de mau humor, tendo achaques e que usa de grosserias com prepotência. É uma mala sem alça, por quem não se tem qualquer tipo de afeto ou admiração e, que quase todos reprovam e desprezam pela sua inglória permanência nesse Lost & Found.

Ah... se eu pudesse amá-la-ia, mas... prá bem longe. 
Título e Texto: Jonathas Filho, ainda tem sua mala amada. 28-9-2015

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Um comentário:

  1. O metafórico texto do ex-colega expõe claramente a inserção da Pioneira dentro da situação vivida pelo povo brasileiro há uma década e meia, sob o comando do grande carcinoma político denominado " lulopetismo" que ainda assola a nação. Mas ao que parece, talvez tudo possa ser explicado sob o ponto-de-vista filosófico nos escritos de Ralph Waldo Emerson (séc. IXX). Eis alguns extratos de " A lei das compensações" :

    “As mudanças que a curtos espaços interrompem a prosperidade dos homens são advertências de uma natureza cuja lei é o crescimento . Sempre é a lei da natureza crescer , e toda alma através dessa necessidade intrínseca abandona todo seu sistema de coisas , seus amigos , e lar, e leis , e fé , da mesma forma pela qual o molusco abandona sua casca , linda porém pedrosa, porque esta já não lhe permite crescer , e se entrega a formar lentamente uma moradia ...
    Todo excesso causa uma imperfeição. Toda imperfeição um excesso. Todo doce tem seu azedo; todo mal seu bem. Toda faculdade que seja um receptor de prazer recebe uma penalidade equivalente por seus abusos. Ela responde por sua moderação com a vida. Para cada grão de sabedoria há um grão de loucura. Para cada coisa que perde você ganha algo em troca; para cada coisa que ganha, você perde outra em troca. Se a riqueza aumenta, aumentam os que dela fazem uso. Se o colecionador junta demais, a natureza retira do homem aquilo que ela lhe coloca na arca; ela aumenta a propriedade mas mata o proprietário. A natureza detesta os monopólios e exceções .
    Cuidado quando o grande Deus solta um pensador neste planeta. Todas as coisas então correm riscos. É como quando uma conflagração irrompe numa grande cidade e ninguém sabe o que é seguro nem quando terminará o conflito. Não há ciência cujas leis não possam ser modificadas da noite para o dia ; não há uma reputação literária , nem quaisquer dos assim chamados imortais , que não possam ser revidados e condenados. A própria esperança do homem , as maneiras e a moral da humanidade, ficam à mercê de uma nova generalização" ...

    Uma ótima semana a todos.

    Sidnei Oliveira
    Assistido Aerus - RJ

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