sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O meu voto real seria considerado nulo

Vitor Cunha

Eu queria votar com consciência mas esse voto seria nulo. A eleição de deputados não me diz grande coisa: desconheço a grande maioria e, dos que conheço, a poucos reconheço virtude para que representem a minha família, vizinhança e círculo de amigos em qualquer decisão, ainda para mais com repercussões financeiras no meu peculiar sentido de bem-estar sedimentado em laissez-faire. Eu queria era votar para o chefe de governo, coisa que farei indirectamente por mera consequência de levar com a cangalhada de inúteis de todas as gerações cuja jactância borra todos os partidos, mais ainda os do imbecilmente denominado “arco da governação”.

Também não queria votar neste governo. Assunção Cristas e o chove ou não chove, ambos subsidiados, que tanto faz, desde que pingue; Moreira da Silva e a inarrável taxa sobre sacos de plástico, provavelmente originada num sonho fetichista de asfixia; Barreto Xavier, a figura mais sinistra da tenebrosa turba que alterna a chupar na mangueira da dita cultura portuguesa, a que consiste em candelabros de tampões e fagotes de bimbalhada com amor-próprio inflamado de golfadas em série na alcova masturbatória do sistema contributivo; Nuno Crato e a cedência à imbecilidade da escola como depósito de filhos, do inglês técnico para desgraçados tão fracos de espírito que necessitam de pelo menos 7 anos obrigatórios para que escrevam manifestos ao Louçã ou para bater o record mundial do uso contínuo de “of the” numa única frase e, sobretudo, pela anuência perante o poderosíssimo lóbi dos livros escolares, os que usam qualquer pentelho normativo para sacar aos pais um salário médio para a compra de lixo anualmente perecível; Mota Soares, o bom rapaz incapaz de perceber que a velha que se queixa que não aguenta é a mesma que, chamando a atenção a si própria, oculta a miséria da vizinha; o irrevogável Paulo Portas, que com a sua demissão (que foi mesmo irrevogável, já que deixou de ser Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros) obrigou o chefe de governo uma postura de interesse nacional, salvando o país do pântano para o qual somos permanentemente compelidos, promovendo o demissionário a segunda figura do governo e abdicando de um ministro cuja capacidade e competência técnica estavam muito acima da norma do pantanoso país.

Também não queria votar no PSD. É o partido do ecumenicamente amorfo Marcelo, do calculista Rio, da afectada Ferreira Leite, do ressabiado Pacheco Pereira, do elitista-porém-anti-sulista-e-anti-liberal Menezes, do atrapalhado Duarte Lima e da restante tralha cavaquista, não tão omnisciente como a tralha socrática mas igualmente disruptiva. É o berço do patológico Capucho e inúmeros troca-tintas que vêem o socialismo basal das suas convicções a esvair-se numa repartição de recursos cada vez menos propícia para convencer o gado eleitoral a receber os brioches através do seu voto Maria Antonieta.

Eu queria votar em Passos Coelho. Porque assumiu como seu cálice o resgate, porque não vacilou perante os abutres que pairam, para surpresa de todos; porque aguentou e persistiu sobre o bafo bolorento de um Tribunal Constitucional que defende o bafio de uma indefensável Constituição, mais rameira que mãe deste Estado; porque fez política, não a que quis, a que lhe foi permitida, com muito esforço pessoal, com muita resignação perante o imobilismo perro de um Estado construído com ferrugem; porque aguentou, levou, deu a face e conquistou a confiança e simpatia dos portugueses que, como ele, são só seres humanos perante as dificuldades da vida; porque a alternativa a ele é o balofo do bolor, a decadência abraçada, a parasitagem anunciada, o pântano, a areia movediça da trampa socialista, o resgate e a eternização da confortável mediocridade que nos atrai há 40 anos. Por isso voto o que quer que seja que reconduza Passos Coelho para o cargo de Primeiro-Ministro.
Título e Texto: Vitor Cunha, Blasfémias, 18-9-2015

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Um comentário:

  1. Texto excelente!
    Me fez lembrar o discurso de Marco Antônio a seguir ao assassinato de Júlio César.
    Você encontrará este discurso, pronunciado de forma inesquecível por Marlon Brando, no filme dirigido por Joseph L. Mankiewicz, em 1953, acessando este link:
    https://youtu.be/VpSa_AHfkDg

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