Luciano Henrique
Um leitor me indicou que o
livro Dictator’s Learning Curve, de William J. Dobson, está disponível
em português. Aqui o link para a Livraria Cultura, com o título Escola de
Ditadores (na verdade, foi lançado em 2014, mas eu comi bola). A bagatela é
de R$ 30,00. O livro também poderia se chamar O mínimo que você deveria
saber para deixar de ser uma besta-quadrada ao falar sobre tiranias modernas.
Nesta semana, quando o STF
conseguiu dar um golpe jurídico na questão do financiamento de campanhas, sem
nenhuma pressão, o inaceitável torpor republicano se explica pelo fato de que
quase ninguém compreende o que significa uma tirania moderna, os seus métodos,
e sua forma de implementação.
É por isso que quase ninguém
se enfurece quando alguém diz “ah, o STF cometeu uma estupidez” ou “não vai dar
certo para combater a corrupção” ou “o problema é o caixa 2 que isto vai
gerar”. Nenhum desses entendeu absolutamente nada, pois não entendem que foram
apenas vítimas de métodos de uma tirania moderna.
Hoje em dia muitos não se
preocupam com os 10 milhões anuais enviados para a BLOSTA, com a intocabilidade
das verbas estatais destinadas para anúncios, com a Lei Rouanet, com uma
fortuna usada pelo MinC para bancar um aparelho do governo disfarçado de
“Cultura”, etc.
Mal sabem que estão assistindo
a implementação progressiva de uma tirania, sem sequer conseguirem explicar ao
público qual o problema. O desconhecimento dos métodos de uma tirania moderna
gera tamanha alienação da realidade que beira o autismo político.
Alias, o livro de Dobson
também permite abstrair outras lições, mostrando que o discurso de quem pede
intervenção militar é uma piada. Eis a essência do livro: com o passar do
tempo, e com a evolução das comunicações, os ditadores “top de linha”
aprenderam como implementar sistemas ditatoriais com métodos bem diferentes
daqueles a que estávamos acostumados há cinco ou seis décadas atrás. Propor o
combate a esses ditadores com os métodos daquela época é pedir para apanhar
mesmo.
O que o intervencionista faz é
tentar combater tiranias modernas com recursos de tiranias do tempo da onça.
Teríamos apenas dó desse tipo de gente, caso não servissem também com
instrumento de propaganda nas mãos dos tiranos modernos. É por isso que quando
digo a eles como são serviçais não intencionais dos novos tiranos, se irritam, mas
sem saber o motivo.
O grande drama do direitista
brasileiro é que ele não tem o cérebro treinado para reagir a tiranias. Pior:
vira apenas uma criancinha nas mãos dos tiranos modernos.
O livro de William J. Dobson é
quase tão útil para o treino da mente em como compreender as tiranias modernas
(ele não é tão amplo em como combatê-las, mas se você compreendê-las, já é meio
caminho andado) como o é Ponerologia Política, de Andrew Lobaczewski,
para compreender como funciona a ação dos psicopatas na política.
Quanto mais pessoas lerem este
livro, melhor. Se há uma coisa que me deixa angustiado é ver como muitas
pessoas não conseguem sequer entender o motivo pelo qual deveriam rejeitar
algumas propostas petistas. Sem tal nível de entendimento, temos a impressão de
que o PT está quase morto, quando na verdade ainda está bem vivo, em parte por
que quase nenhum de seus opositores no Brasil entende como funciona uma tirania
moderna.
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