domingo, 6 de dezembro de 2015

Naum apersio ezames

José Diogo Quintela
Sou um excêntrico que prefere um médico que tenha sido avaliado.

O novo ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, é um reputado especialista em cancro. Calha bem: cancro vem do latim cancer, que quer dizer caranguejo e, com o BE e o PCP a mandarem, a educação já começou a andar para trás. Mais: sendo o cancro um conjunto de células que crescem anormalmente e atacam o próprio organismo, o ministro vai reconhecer o que tem à sua frente quando se reunir a primeira vez com a Fenprof.

Não é só no seu trabalho governativo que a extrema-esquerda se imiscui. É também na sua carreira científica. Por indicação do BE e do PCP, a sua especialidade de detecção precoce de cancro vai deixar de empregar exames. Para não traumatizar. Em vez disso, TBR passará a cheirar os pacientes e a medir-lhes a aura a olho.

Faz sentido acabar com os exames. Há uma ‘idade dos porquês’, não há uma ‘idade dos porques’. É contranatura crianças responderem a questões. Cá em casa, se pergunto: "Quem deixou o pacote do leite vazio no frigorífico?" nenhum dos não-adultos responde. Sempre que se faz uma pergunta a uma criança, o arco-íris fica um bocadinho mais baço. Catarina Martins, contra conhecimentos examinados, confessou: "Eu quero um cirurgião que saiba dar gargalhadas." Faltou dizer: "Eu quero um carpinteiro que aprecie longos passeios" e "Eu quero um contabilista vegan". Quando Catarina Martins precisa de um médico, procura num hospital ou no Tinder? A deputada do BE prefere ser operada por alguém que, em vez de ter sido testado, tenha rido na escola. Eu gostava de ver o resultado de uma operação conduzida pelo cirurgião galhofeiro. O adágio ia passar a ser "ridendo castigat Martins".

Sou um excêntrico que prefere um médico que tenha sido avaliado
Mas tenho noção de que há muitos cirurgiões que fizeram o exame da quarta classe e que ficaram tão perturbados que, quando o assistente lhe pergunta: "Quer o bisturi, senhor doutor?", desmaiam. Têm um ataque de stress pós-traumático, com flashbacks de perguntas que lhes fizeram há mais de 40 anos. Geralmente, são os cirurgiões que têm tatuado no braço "Exame da Primária 1967" e que acordam a meio da noite, encharcados em suor, a pedir mais tempo para as contas de somar.

Primeiro-ministro perde o pio em Paris
Começou por dizer que a sua não inscrição foi um "incidente burocrático", mas, afinal, foi por sua própria vontade que não falou. (Para António Costa a vontade é uma questão burocrática: já tínhamos ficado com essa ideia ao ver como interpretou a vontade do povo na secretaria). Logo ele, que tem tanto a dizer sobre a influência humana no clima: desde que tomou posse e decretou o fim da austeridade, só falta anunciar que garante Verão o ano inteiro.

Chocar é fixe, o código da estrada que se lixe
Há três anos, o motorista de Mário Soares foi apanhado a 200 km/h na A8. Anteontem, bateu noutro carro mas pisgou-se sem dar os dados. Quão chato é Mário Soares para o motorista preferir violar a lei só para se despachar a deixar o velhinho num sítio qualquer? 
Título e Texto: José Diogo Quintela, Correio da Manhã, 5-12-2015

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