Cesar Maia
1. As principais eleições gerais no mundo latino ocorreram na
Argentina, na Venezuela, em Portugal e na Espanha. Em todas elas a vitória
coube às forças de centro/centro-direita ou de outra forma às forças políticas
liberais e conservadoras.
2. A vitória mais contundente ocorreu na Venezuela para o
parlamento/câmara de deputados. A constituição bolivariana imposta por Hugo
Chávez deu ao parlamento um enorme poder. Chávez não contava que a oposição
pudesse, em algum momento, ter maioria na Assembleia e menos ainda que contasse
com maioria de 2/3, como ocorreu na eleição de dezembro.
3. As leis, emendas constitucionais e nomeações aprovadas pela
Assembleia dariam legitimidade ao arremedo de democracia implantado por Chávez.
E assim, foi levando com o apoio das forças populistas e de esquerda da América
Latina, reprimindo, prendendo opositores e cassando mandatos de opositores pela
Assembleia. A vitória acachapante da oposição mudou essas regras do jogo. Sem a
legitimação pelo legislativo o governo chavista autoritário mostrará as suas
entranhas.
4. Na Argentina, mesmo com o uso e abuso dos instrumentos do
governo, dos gastos de publicidade, tentando controlar a mídia nacional
relevante, manipulando estatísticas e contando com uma surpreendente
recuperação da popularidade da presidente Cristina Kirchner, a oposição coligada,
liderada por Macri, prefeito de Buenos Aires de centro-direita/liberal, obteve
no segundo turno uma vitória mais apertada que as pesquisas indicavam.
5. Mesmo sem maioria no Senado e tendo que negociar maioria na
câmara de deputados, os instrumentos de governo dados por um presidencialismo
vertical darão a Macri as condições administrativas para governar. O problema
estará no confronto político que peronistas de diversas linhagens oferecerão
através de sindicatos, associações de distintos tipos e perfis e resistência no
Senado a qualquer mudança que exija lei qualificada.
6.
Em Portugal, o PSD, partido liberal
de centro-direita, depois de medidas econômicas de forte austeridade
mensuráveis pela alta taxa de desemprego e de descer vários degraus da
impopularidade, recuperou-se junto com a economia e obteve uma surpreendente vitória eleitoral. No entanto, a vitória
eleitoral se deu por maioria simples e, após assumir o governo, os socialistas
se somaram à esquerda eurocética, formaram nova maioria, derrubaram o gabinete
e constituíram um novo governo.
7.
O problema será manter a unidade de governo com a necessária continuidade das
medidas adotadas pelo PSD. Ou mesmo realizar mudanças drásticas e correr o
risco de um retorno à anarquia fiscal e financeira anterior, fragilizando
politicamente o governo.
8. Na Espanha ocorreu um processo semelhante. Medidas de forte
austeridade com as consequências sociais também mensuráveis pelo forte
desemprego, a impopularidade do primeiro ministro do PP atingindo níveis
negativos recordes... a recuperação econômica voltou a dar competitividade ao
PP.
9. O PP venceu as eleições gerais de 20 de dezembro com maioria
simples. Mas a diferença de Portugal, o bipartidarismo – PP e PSOE – foi
desintegrado na Espanha e cresceram duas forças políticas. Uma populista
lastreada nas redes sociais – o Podemos – e outra também com este lastro, mas
de corte centro-liberal, o Ciudadanos.
10. Na Espanha há uma natural convergência entre PP e Ciudadanos a
partir de concessões pelo PP que legitimem a coligação. Mas assim mesmo se
chega perto, mas não se alcança a maioria absoluta para sustentar o gabinete.
Por outro lado, o PSOE tem enorme dificuldade de fazer uma aliança parlamentar
com o Podemos, seja por seu euroceticismo, seja pela defesa da independência da
Catalunha e caminho para uma confederação espanhola, que o PSOE não admite.
11. A resistência política estará em Madrid e Barcelona onde
coligações em torno do Podemos venceram as eleições locais. Na força de opinião
pública desses. E a resistência parlamentar sempre que se exija maioria
absoluta para aprovação de leis. O PP terá que desenvolver uma enorme
capacidade de gestão política, o que não é o forte do perfil do primeiro-ministro
Rajoy.
Título e Texto: Cesar Maia, 29-12-2015
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