quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Onda azul em 2015 no mundo político latino

Cesar Maia        
1. As principais eleições gerais no mundo latino ocorreram na Argentina, na Venezuela, em Portugal e na Espanha. Em todas elas a vitória coube às forças de centro/centro-direita ou de outra forma às forças políticas liberais e conservadoras.
         
2. A vitória mais contundente ocorreu na Venezuela para o parlamento/câmara de deputados. A constituição bolivariana imposta por Hugo Chávez deu ao parlamento um enorme poder. Chávez não contava que a oposição pudesse, em algum momento, ter maioria na Assembleia e menos ainda que contasse com maioria de 2/3, como ocorreu na eleição de dezembro.
        
3. As leis, emendas constitucionais e nomeações aprovadas pela Assembleia dariam legitimidade ao arremedo de democracia implantado por Chávez. E assim, foi levando com o apoio das forças populistas e de esquerda da América Latina, reprimindo, prendendo opositores e cassando mandatos de opositores pela Assembleia. A vitória acachapante da oposição mudou essas regras do jogo. Sem a legitimação pelo legislativo o governo chavista autoritário mostrará as suas entranhas.
        
4. Na Argentina, mesmo com o uso e abuso dos instrumentos do governo, dos gastos de publicidade, tentando controlar a mídia nacional relevante, manipulando estatísticas e contando com uma surpreendente recuperação da popularidade da presidente Cristina Kirchner, a oposição coligada, liderada por Macri, prefeito de Buenos Aires de centro-direita/liberal, obteve no segundo turno uma vitória mais apertada que as pesquisas indicavam.
        
5. Mesmo sem maioria no Senado e tendo que negociar maioria na câmara de deputados, os instrumentos de governo dados por um presidencialismo vertical darão a Macri as condições administrativas para governar. O problema estará no confronto político que peronistas de diversas linhagens oferecerão através de sindicatos, associações de distintos tipos e perfis e resistência no Senado a qualquer mudança que exija lei qualificada.

6. Em Portugal, o PSD, partido liberal de centro-direita, depois de medidas econômicas de forte austeridade mensuráveis pela alta taxa de desemprego e de descer vários degraus da impopularidade, recuperou-se junto com a economia e obteve uma surpreendente vitória eleitoral. No entanto, a vitória eleitoral se deu por maioria simples e, após assumir o governo, os socialistas se somaram à esquerda eurocética, formaram nova maioria, derrubaram o gabinete e constituíram um novo governo.
        
7. O problema será manter a unidade de governo com a necessária continuidade das medidas adotadas pelo PSD. Ou mesmo realizar mudanças drásticas e correr o risco de um retorno à anarquia fiscal e financeira anterior, fragilizando politicamente o governo.
        
8. Na Espanha ocorreu um processo semelhante. Medidas de forte austeridade com as consequências sociais também mensuráveis pelo forte desemprego, a impopularidade do primeiro ministro do PP atingindo níveis negativos recordes... a recuperação econômica voltou a dar competitividade ao PP.
        
9. O PP venceu as eleições gerais de 20 de dezembro com maioria simples. Mas a diferença de Portugal, o bipartidarismo – PP e PSOE – foi desintegrado na Espanha e cresceram duas forças políticas. Uma populista lastreada nas redes sociais – o Podemos – e outra também com este lastro, mas de corte centro-liberal, o Ciudadanos.
        
10. Na Espanha há uma natural convergência entre PP e Ciudadanos a partir de concessões pelo PP que legitimem a coligação. Mas assim mesmo se chega perto, mas não se alcança a maioria absoluta para sustentar o gabinete. Por outro lado, o PSOE tem enorme dificuldade de fazer uma aliança parlamentar com o Podemos, seja por seu euroceticismo, seja pela defesa da independência da Catalunha e caminho para uma confederação espanhola, que o PSOE não admite.

11. A resistência política estará em Madrid e Barcelona onde coligações em torno do Podemos venceram as eleições locais. Na força de opinião pública desses. E a resistência parlamentar sempre que se exija maioria absoluta para aprovação de leis. O PP terá que desenvolver uma enorme capacidade de gestão política, o que não é o forte do perfil do primeiro-ministro Rajoy.
Título e Texto: Cesar Maia, 29-12-2015

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