sábado, 26 de dezembro de 2015

Segredos e inconfidências

Jacinto Flecha

Para não dar a nenhum eventual leitor malévolo desta crônica o pretexto para acusar-me de machista, deixo claro desde já que a Inconfidência Mineira não foi praticada por uma mulher, e sim pelo delator Joaquim Silvério dos Reis. Se Tiradentes não foi o que dizem, e os outros inconfidentes não foram o que disseram, não é assunto das minhas atuais cogitações, restritas à probabilidade de alguém guardar ou revelar um segredo. Adianto também que não me lembro de nenhuma ocasião em que eu tenha sido vitimado por uma inconfidência feminina.

Erguido bem no início este escudo defensivo, passo a considerar a voz corrente, quase um dogma da crença popular – as mulheres não sabem guardar segredos. Essa tal de voz corrente pode também dar margem a explorações anti-Jacinto, pois nenhum tribunal a aceitaria como prova da defesa. Portanto, acho melhor acrescentar mais argamassa na minha muralha defensiva, compilando frases de escritores famosos sobre essa característica atribuída ao sexo feminino. Para não indispor as leitoras contra esses escritores, omito os seus nomes.

• A mulher é capaz de guardar um segredo, desde que não se diga a ela que é segredo. O único segredo que uma mulher pode guardar é aquele que não sabe.

• As mulheres têm necessidade de confiar seus segredos mais íntimos ao primeiro que se apresente. Para ajudar a conservar um segredo, a mulher recorre a todas as suas amigas. Quando pede a uma amiga para guardar um segredo, é porque precisa divulgá-lo.

• O único segredo que uma mulher guarda tenazmente é a sua idade. Nunca confie numa mulher que revela sua verdadeira idade; se ela faz isso, é capaz de qualquer coisa.

• Se você realmente quer guardar um segredo, não precisa de ajuda. Ninguém guarda melhor um segredo do que quem o ignora. Só guarda segredo quem não o sabe.

• Segredo entre mais de dois é comício. Três pessoas podem manter um segredo, se duas delas estiverem mortas.

• Quando o vinho entra, o segredo sai.

Esses autores generalizaram, e alguns até o fizeram de modo pitoresco, mas nem de longe é possível aceitar esses conceitos como sendo aplicáveis a todas as mulheres. Tanto assim é, que cada um de nós tem uma mãe a ser excluída, eu tenho a obrigação de excluir minhas distintas leitoras, e muitas outras exceções são necessárias. E veja também que alguns desses escritores não limitam sua verrina às mulheres. O que estou tentando é ressaltar a desconfiança que pesa sobre muitas mulheres quanto à sua inconfidência, ou incapacidade de guardar segredos.

Se você já leu romances policiais e relatos de espionagem, ou os viu transformados em filmes, deve ter notado as inúmeras encrencas provocadas pelos chamados segredos de alcova, transmitidos ao inimigo através de concubinas. Seria injusto generalizar com base nesses escritos novelescos, mas eles teriam pouca receptividade no público se fossem baseados em fatos improváveis. Tratando-se de concubinos, a própria situação dos dois já é motivo para desconfianças mútuas.

Mas há um grupo confiável de pessoas, historicamente imunes a inconfidências e desconfianças. Inúmeros relatos fidedignos descrevem o heroísmo de membros desse grupo, que guardaram segredos à custa da própria vida ou liberdade. Motivo suficiente para confiar que não será divulgado a autoacusação feita no confessionário, pois o sacerdote é obrigado ao segredo de confissão; e comete pecado mortal, sujeito a excomunhão, se o revelar conscientemente (Veja mais sobre este assunto nos verbetes Excomunhão e Segredo de confissão, da Wikipedia).

Há muito tempo se fala em admitir mulheres ao sacerdócio, e o assunto sempre volta de modo insistente, cada vez mais virulento. Se não houvesse motivos muito mais graves para não admitir essa aberração, eu lhe pergunto: Você ficaria tranquilo depois de confessar seus pecados a uma sacerdota, vigária, pároca?

Mesmo admitindo as exceções mencionadas para as inconfidências femininas, além de muitas outras que o espaço limitado não me permite acrescentar, não conte comigo para tamanha ingenuidade.
Título e Texto: Jacinto Flecha, médico e colaborador da Abim, 25-12-2015

3 comentários:

  1. O comentário é misógino.
    Ninguém guarda segredos, nem homens, nem mulheres.
    Inexiste segredo se duas pessoas compartilham.
    Tenho cofre em casa e somente eu sei o segredo.
    Se eu morrer contratem um chaveiro ou um arrombador.
    Qual segredo eu dividiria com um padre?
    Minhas punhetas, meus desejos sexuais, desejos não realizados, ou meus devaneios noturnos.
    Se por acaso cometer um crime vou dividir com amigos?
    Me poupe.
    O bicharedo conta os segredos do bicharedo.
    Qual amigo esconderia segredo de outro amigo se estivesse a fim de dar uma foda na mulher do amigo?
    Vou deslizar noutro assunto, a maioria dos padres não contam seus segredos, pois, estariam presos por pedofilia ou abusos sexuais de fieis.
    Se deus sabe tudo, porra, porque devo contar ao padre?
    Depois esse negócio de herói e traidor, sempre tem dois lados.
    Tiradentes é traidor Português, enquanto Calabar é herói holandês, depende do lado que se mija.
    Esses políticos brasileiros, sabem uns os podres dos outros, e os outros os podres de uns.
    Todos prevaricam calados.
    Todos guardam segredos para que não se revelem segredos.
    Enfim para mim a única maneira de que alguém guarde segredo se outra pessoa á a chantagem.
    Crime se paga com crime.
    FUI...

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  2. Prezado Flecha!
    Qual o intuito deste texto? Soma-se ao quê? O que acrescenta em nossas vidas? Sinceramente!!!
    Volkart

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  3. Pois eu achei um excelente texto.
    Aliás, como todos do Jacinto Flecha.
    E Viva o Politicamente INCORRETO!

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