Luís Naves
A Europa está a sofrer uma
mudança radical. Muitos eleitores mais pobres sentem alta ansiedade em relação
à sua segurança económica e física, pensam que a identidade nacional está em
perigo e têm conflitos com os vizinhos muçulmanos. Ontem, na primeira volta das
eleições francesas, ocorreu um novo sismo, que deslocou as placas tectónicas da
política europeia: a Frente Nacional, de extrema-direita, foi o partido mais
votado. Um em cada três eleitores escolheu os nacionalistas.
É difícil antever a segunda
volta, por causa da abstenção elevada, mas se a direita republicana desistisse
numa das regiões, isso equivalia a eleger o representante da extrema-direita.
Se houver muitas votações triangulares, é natural que a FN vença pelo menos em
duas ou três regiões. A esquerda pode ganhar duas, os republicanos talvez seis
ou sete, mas estamos à beira de algo de profundamente diferente, com possíveis
consequências nas presidenciais, dentro de ano e meio.
O que se passou em França é
sintoma de uma irritação mais vasta. Os conservadores eurocépticos venceram na
Polónia e há sinais de rebeliões em outros países, por exemplo na Finlândia,
Dinamarca e Suécia. A União Europeia sairá da onda populista com um aspecto
diferente, com escassa paciência para periferias incapazes de controlar a sua
contabilidade, provavelmente com duas zonas a diferentes velocidades e com um
núcleo duro a acelerar a integração. No futuro, os políticos das correntes
tradicionais terão de ouvir mais os seus eleitores ou arriscam-se a derrotas
humilhantes. A recente tentativa de criar uma política comum de imigração e
asilo foi um erro que pode conduzir a reacções de sentido contrário, em que
será pior a emenda que o soneto. As elites mediáticas também precisam de descer
das torres de marfim, pois começa a ser patética a distância entre público e
matéria publicada.
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