José António Rodrigues Carmo
Uma das obras que mais me marcou foi “O caminho da servidão”, de Hayek, pela vivíssima descrição do mecanismo segundo o qual o socialismo tende inevitavelmente a transformar os indivíduos em escravos.
Não é esse, claro, o objectivo do socialismo.
Pelo contrário, as suas intenções são as melhores, fundadas numa visão utópica de um futuro radioso; de uma sociedade na qual a existência estaria automaticamente garantida, sem que o indivíduo tivesse de se responsabilizar pela sua sobrevivência; uma sociedade onde reinasse a harmonia e na qual não haveria desafios e mudanças abruptas; uma sociedade em que cada um cumprisse aquilo que lhe fosse prescrito, tendo como objectivo o bem geral; uma sociedade onde os indivíduos não tivessem necessidade de fazer escolhas difíceis e tomar decisões cruciais para a sua vida; uma sociedade onde não houvesse inveja, e onde a benevolência do estado garantisse que o indivíduo que errasse fosse considerado vítima e aliviado das consequências dos seus erros.
O socialismo foi imposto à força em alguns países (URSS), e sufragado pelo voto noutros (Alemanha nazi, Venezuela, agora a Grécia). Pode ser total e brutal, como na Coreia do Norte, China maoista, URSS, etc, ou parcial e fabiano, como nas sociais-democracias dos anos 70 e no “estado social”.
Todavia o princípio subjacente é o mesmo, e idênticos os resultados práticos, variando apenas no tempo que levam a ser produzidos e aferidos.
A transformação dos indivíduos em escravos não é, na obra de Hayek, uma mera hipérbole.
Tecnicamente a escravatura é uma situação em que um proprietário ordena, controla e dispõe do produto do trabalho de indivíduos que lhe estão sujeitos, sem o seu consentimento. O proprietário, em nome do seu próprio interesse, veste, alimenta, ensina, defende, disciplina e cuida dos seus escravos.
Na história da escravatura há proprietários “bons”, que chegam mesmo a partilhar a mesa com alguns dos seus escravos, os tratam com desvelo e bondade e até lhe concedem alguma liberdade individual, e proprietários “maus”, que os chicoteiam e os tratam sem qualquer piedade.
É exactamente isto que se passa com o estado socialista ou socializante. Na URSS, o estado socialista ordenava, controlava e dispunha de todo o produto do trabalho de todos os cidadãos. Vestia-os, alimentava-os, abrigava-os, ensinava-os, defendia-os e chicoteava-os, se estes se portassem mal.
A versão mitigada do estado social, é o proprietário “bom”. O estado ordena, controla e dispõe de quase 50% do produto do trabalho de todos os cidadãos. E almeja alimentá-los, abrigá-los (direito à habitação), ensiná-los (direito à educação) e cuidá-los (direito à saúde).
Na verdade, os chamados "direitos económicos", tão caros aos socialistas, são, na sua essência, os cuidados que o proprietário toma com a sua mão-de-obra.
E sim, há pessoas que gostam desta situação e se apaixonam pelas grilhetas, da mesma maneira que certas vacas, habituadas a levar choques na infância, não fogem de pastos delimitados por meros fios de plástico.
Há pessoas para quem a liberdade é um fardo e que preferem viver sob a tutela de um pai cuidador.
Título e Texto: José António Rodrigues Carmo, Facebook, 30-1-2016
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