Flavio Quintela
Pensei muito sobre o que
escrever na última coluna de 2015. Pensei em ignorar o tema óbvio de fim de ano
e introduzir um assunto completamente diverso das retrospectivas e análises tão
comuns desta época. Não consegui – parece que a proximidade com o fim de um
ciclo traz consigo a necessidade de relembrar o que aconteceu, reforçar o que
deu certo e aprender com o que deu errado.
Sendo assim, preparei uma
lista de sugestões para a presidente da República, já que os erros dela são os
que afetam mais gente ao mesmo tempo.
Para
Dilma Rousseff:
Não confie mais no Lula – eu
sei que foi ele que a colocou aí na Presidência, e que sem ele você não seria
nada além de uma empresária mal sucedida do 1,99. Mas o fato é que ele não
gosta de você de verdade. Se ainda não percebeu, ele passou a jogar contra
você. Na verdade, ele nunca jogou a favor – Lula é o tipo de pessoa que só faz
as coisas por interesse próprio, um grande egoísta. Faça como os brasileiros de
caráter e evite esse tipo de amizade. Não faz bem andar por aí na companhia de
gente desse tipo.
Não escolha novos ministros do
STF – suas escolhas são muito ruins. Sei que lhe parecem boas, mas você tem de
entender que o que é bom para você geralmente é ruim para os brasileiros. Evite
escolher novos ministros no futuro. Quando chegar a hora de escolher algum,
invente alguma história, diga que está com dor de barriga ou que sua avó
morreu. Faça o que for preciso para não cometer esse erro de novo.
Não escolha ministros de
governo – quem não sabe escolher para o STF também não sabe escolher para o
governo. É hora de se conformar com isso e deixar esse tipo de decisão para
pessoas competentes. Tudo bem, sei que vai dizer que não tem ninguém competente
em seu governo para tomar essas decisões. Mesmo assim, é melhor não decidir
nada do que decidir errado.
Não fale mais em público –
você não tem capacidade para discursar, muito menos de improviso. Evite
entrevistas, aparições em eventos, palanques, púlpitos, microfones, câmeras de
televisão e situações similares. Quando sentir aquela necessidade incontrolável
de falar sobre coisas sem sentido como a importância da mandioca e os cachorros
ocultos, tampe os dois ouvidos com os dedos e repita, baixinho, “mandioca,
cachorro, mandioca, cachorro, mandioca, cachorro” até passar a vontade.
Não se comunique – toda vez
que você usa telefone, e-mail, correio, WhatsApp, bilhetinho, Skype ou sinais
de fumaça, alguma coisa ruim acontece. Evite se comunicar. Pense na
possibilidade de uma temporada monástica no Himalaia, uma experiência única em
que você poderia aprender a comunicar-se consigo mesma e a crescer
interiormente. Lembre-se de que esse tipo de experiência não costuma funcionar
a menos que dure quatro ou cinco anos. É importante ter perseverança nessas horas
e não desistir. Na dúvida, rasgue o passaporte.
Não assine mais nada – tudo o
que você assinou prejudicou os brasileiros e piorou suas vidas. Evite canetas,
lápis, carimbos, teclados, mouses e outros dispositivos que possam transformar
o que lhe vem à mente em ações concretas. Se colocarem algo em sua frente para
assinar, finja que não viu, derrame café em cima da folha ou faça aviõezinhos e
jogue-os pela janela. Só não assine nada.
Não presida mais nada – sua
experiência presidindo as coisas só causou transtorno e falência. Você
conseguiu afundar uma das maiores economias do mundo e transformar um país como
o Brasil em motivo de lamento. Evite ficar em Brasília. Na verdade, evite o
Brasil. Evite-o como o alcoólatra deve evitar a bebida, como o viciado deve
evitar as drogas. Sugiro China, Japão, Austrália ou Nova Zelândia como locais
para passar uma longa temporada. Sei que gosta de Cuba, mas é perto demais.
Tenho certeza de que, se
seguir os meus conselhos, o Brasil terá um 2016 muito melhor. Feliz ano novo!
Título e Texto: Flavio
Quintela é escritor,
jornalista e tradutor. É autor dos livros “Mentiram (e muito) para mim” e “Mentiram para mim sobre o desarmamento”. Gazeta do Povo, 1-1-2016
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