Cesar Maia
1. Pela primeira vez desde a eleição presidencial de 1989, a
eleição presidencial de 2018 tende a ser pulverizada, com muitos candidatos
relevantes. A última vez que isso aconteceu foi em 1989, com Collor, Lula,
Brizola, Covas, Afif, Ulysses, Aureliano Chaves, Caiado...Todos os partidos
maiores lançaram seus candidatos. E emergiu uma força ruralista hoje
fundamental no jogo parlamentar. A partir daí, as eleições presidenciais têm
obedecido a um sistema binário ou ternário, embora a quantidade de partidos
tenha crescido exponencialmente, inclusive com novos partidos relevantes.
2. Por que isso tem ocorrido nesses 20 anos, de 1994 a 2014? O
cientista político Jairo Nicolau esclarece: “Um desafio é entender por que diversos partidos importantes têm se
recusado a apresentar candidatos à Presidência, preferindo participar de
coligações com outros, ou simplesmente não concorrer. Algumas hipóteses podem
ser sugeridas. A primeira decorre da estrutura fortemente descentralizada dos
partidos brasileiros. Como as unidades da federação são os distritos eleitorais
na eleição de quatro dos sete cargos eletivos (deputado federal, deputado
estadual, governador e senador) é natural que a política estadual tenha
centralidade no sistema político brasileiro. Algumas lideranças partidárias são
importantes no âmbito estadual, mas incapazes de se projetarem como lideranças
nacionais. Consequentemente, fazem todos os cálculos eleitorais de forma a
priorizar a sobrevivência política no estado de origem, deixando em segundo
plano as disputas políticas no âmbito nacional.”
3. Mas por que em 1989 isso não ocorreu? A explicação está na
imprevisibilidade eleitoral a partir da descontinuidade do regime autoritário –
com eleições indiretas até ali, para presidente – e pelo aquecimento do debate
político na Constituinte com afirmação de líderes políticos estabelecidos e a
ascensão de novos líderes políticos impulsionados nacionalmente pelo debate
constitucional e a ampla cobertura que receberam. A partir da acomodação
política, com Itamar Franco, e da crise econômica, abriu-se um novo e paradoxal
sistema: pulverização partidária e concentração – binária e ternária – na
eleição presidencial. Jairo Nicolau – acima – dá as razões.
4. Assim foi em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014. No entanto, as
razões da abertura do leque de candidaturas presidenciais em 1989 são similares
às que se apresentam de hoje até a eleição presidencial de 2018. Primeiro a
enorme imprevisibilidade eleitoral e a ausência de favoritismo. O quadro binário
PT e PSDB se desintegra na medida em que nenhum deles têm hoje capacidade de
aglutinação e seus nomes não contam com a popularidade de favoritos. Nem Lula.
5. Junto à imprevisibilidade eleitoral vem a imprevisibilidade
política, ou seja, a pulverização parlamentar de hoje tende a ser muito
diferente da pulverização parlamentar que sairá das eleições de 2018. Inclusive
com uma pulverização ainda maior que a atual.
6. E fechando o triângulo, a imprevisibilidade econômica. Com metade
do governo Dilma perdido, o ano de 2017 estará longe de apontar para uma
reversão clara do quadro atual. Longe de qualquer consenso e com a necessidade
de atrair o eleitor, candidatos portadores de ideias – as mais diversificadas –
vão proliferar. E não se trata de candidatos nanicos como em outras eleições.
7. Em 2018, o PT, o PMDB, o PSDB, o PDT, o PV, a Rede, o PP, etc.,
já estão em campo, com nomes política e eleitoralmente relevantes. E outros
pensam em ocupar espaços com candidaturas presidenciais, que mesmo com uma
votação menor se tornam relevantes no segundo turno. E a crise profunda que o
país atravessa, com seus desdobramentos sociais, poderá abrir caminho para a
emergência de novas forças políticas ou novas lideranças, como ocorreu na
Espanha, na Itália e na Grécia nas eleições recentes.
Título e Texto: Cesar Maia, 1-2-2016
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