Paulo Figueiredo Filho
Como parece que o Alexandre Borges anda concentrado em terminar de escrever o seu livro, estamos
todos sentindo falta de uma boa análise sobre a corrida presidencial americana
até o momento. Achei então que a situação merecia um contraponto aos
comentários esquizofrênicos de Guga Chacra, Caio Blinder, Monica de Bolle e
demais habitantes da América que só existe no The New York Times.
Eis um resumo:
1. As primárias/caucus que antecedem a Super-Tuesday (Iowa, New
Hampshire e, nas próximas semanas, Carolina do Sul, Washington e Nevada) são
ótimas para eliminar os aventureiros e mostrarem força relativa de alguns
candidatos, mas são apenas isso.
2. O processo americano mostra a individualidade de cada estado em
uma Federação de verdade. Enquanto a média das pesquisas nacionais neste momento
apontam Trump 30% / Cruz 21% / Rubio 18% / Carson 8% / Bush 4% / Kasich 4%, o
resultado das votações acabou refletindo estas peculiaridades locais com a
vitória do Ted Cruz em Iowa e os bons desempenhos de Bush e Kasich em NH.
3. Iowa é, aliás, um caso bem ilustrativo. Neste estado dominado
por uma forte maioria de evangélicos, em 2012, o candidato nacionalmente
vitorioso Mitt Romney acabou derrotado por Rick Santorum, com grande desempenho
do libertarian Ron Paul. Para o pleito de 2016, as pesquisas começaram
mostrando Mike Huckabee como favorito. Depois foi a vez de Scott Walker, Ben
Carson, Ted Cruz e, finalmente, Donald J. Trump.
4. Estou na contramão da imprensa que viu em Iowa uma derrota para
Trump. Este foi, de longe, o estado onde o topetudo teve mais dificuldades em
todo o processo. Sua “arrancada” aconteceu na semana final, apesar da (ou por
conta da) ausência do Donald no debate que antecedeu as votações. Acabou apenas
3 pontos atrás do evangélico Ted Cruz – candidato por quem também nutro imensa
simpatia. Cruz ainda sofreu acusações de ter usado táticas pouco éticas (como
ter dado a entender que, o também evangélico, Ben Carson deixaria a disputa).
Trump chamou isso de fraude, com todas as letras. Eu não iria tão longe, mas
penso que o caso sepultou o sonho de alguns de ver uma chapa Donald-Ted.
5. Marco Rubio que havia tido um bom desempenho em Iowa, parece ter
sido momentaneamente demolido no debate seguinte pelo centrista Chris Christie
(assista!). Já Trump confirmou as pesquisas em New Hampshire e deu um capote de
20 pontos no segundo colocado, o surpreendente John Kasich (35.3% vs 15.8%).
Cruz amargou apenas a terceira posição (11%) desta vez, praticamente empatado
com Jeb Bush e Marco Rubio. Oremos para que isso não sirva para ressuscitar a
campanha de Bush, a esta altura, praticamente enterrada.
6. No lado dos comu…, quero dizer, Democratas, o “tiozão malucão”
Bernie Sanders surpreendeu em Iowa, praticamente empatando com Hillary. A
campanha do socialista cresceu ainda mais e ele acabou dando uma surra na
Hilary na votação seguinte, em New Hampshire.
7. Não acredito que Bernie vá sobreviver à maratona que é uma Super
Tuesday, onde a máquina partidária e financeira fazem toda a diferença. Mas o
desempenho pífio de Hillary Clinton nos dois primeiros estados serve para
mostrar sua fragilidade como candidata. Repito: é fraquíssima. Um republicano
só precisará ter a coragem de expor, sem medo da mídia esquerdista, a mocréia
mentirosa que Hillary é e terá a presidência nas mãos.
8. Para ser nomeado candidato à presidência um republicano precisa
de 1.237 delegados na convenção nacional e um democrata 2.383. A divisão dos
delegados pode ser proporcional (com variações) ou no modelo “winner takes it
all”, a depender de cada estado e partido. O placar estimado até agora reflete
o estágio inicial do processo: Trump 18 / Cruz 11 / Rubio 10 / Kasich 5 / Jeb 4
— Bernie 36 / Hilary 32.
9. Donald Trump e Bernie Sanders liderando a disputa para
candidatura do cargo mais importante do planeta não deixam a menor dúvida da
precisão de meu prognóstico de que estamos entrando na Era dos Radicais. Graças
a Deus.
10. Já chegou a hora de Ben Carson, Carly Fiorina e Chris Christie*
deixarem a disputa. Fizeram uma campanha digna e cumpriram seus papéis. A hora
da saída de John Kasich e Jeb Bush também vai chegar.
11. Conforme o número de candidatos for diminuindo, há um potencial
de crescimento dos moderados como Marco Rubio, natural e infelizmente. Isso é
um ponto de atenção. Mas hoje, quase 60% dos republicanos estão dispostos a
votar em candidatos chamados “radicais” (Trump/Cruz/Carson).
12. Se alguém ainda tinha dúvidas do efeito Trump nestas eleições,
o comparecimento recorde entre republicanos nas votações e a audiência agregada
em cada debate em que ele participa deveriam te-las posto por terra.
13. Já estou de saco cheio de sabichões que olham para o infinito e
dizem que Donald Trump “não vai ganhar” com uma certeza divina. Primeiro,
ninguém acreditava que Trump se candidataria de verdade – se candidatou. Depois
ninguém acreditava que teria chances de crescer nas pesquisas – rapidamente
assumiu a liderança. Então achavam que sua liderança era passageira – está lá
desde então. Em seguida, diziam que as pesquisas deviam estar erradas – ele
está liderando a corrida. Donald Trump é um winner
e vencedores têm o hábito de… bem… vencer, ora!
14. Todos os temas (combate ao ISIS, recomposição militar dos EUA,
reforma de imigração, apoio aos veteranos, respeito à segunda emenda, derrubada
do Obamacare, corte de impostos, fim do aborto, etc) foram defendidos com
polidez e timidez por conservadores “convictos” por anos. O resultado foi
Barack Obama e o domínio da agenda de esquerda nos EUA. Agora, finalmente a
“silent majority” tem voz. E a voz é de macho, não tem medo de patrulha e não
precisa de dinheiro do establishment. Quem liga se ele já mudou de ideia ao
longo dos anos?
15. Se Trump não conseguir a nomeação, não venha me encher a
paciência com “eu não disse?”. A esta altura, não sei quem vai ser o nomeado
pelo GOP. Quem disser que sabe deve aplicar para o cargo deixado vago com morte
da Mãe Dináh. Muita água ainda está para rolar. Desde o ano passado, quando o
New York Times e a Rede Globo praticamente já haviam nomeado Jeb Bush, me
limito a dizer que Donald tem chances. E só. Isso NÃO SIGNIFICA que acho que
ele necessariamente vá ganhar. E nem mesmo que é o meu candidato predileto.
16. Eu quero viver para ver Donald Trump chamar Hillary Clinton de
mentirosa e acabar com ela para sempre em rede nacional. Repetidamente. Não
acho que nenhum outro candidato o fará e a América precisa disso
desesperadamente.
* Enquanto eu escrevia esse
texto, Carly Fiorina e Chris Christie deixaram a disputa.
Título, Imagem e Texto: Paulo Figueiredo Filho, Instituto Liberal, 16-2-2016
Sobre o autor:
Cursou Comunicação Social e
Economia na PUC-Rio e é bacharel em Filosofia. Teve significativa passagem pelo
setor público como assessor especial e chefe de gabinete no Governo do Estado e
na Prefeitura do Rio de Janeiro. De volta à iniciativa privada, hoje atua como
CEO do grupo Polaris Brazil, à frente de empreendimentos imobiliários e
hoteleiros de porte internacional, incluindo o Trump Hotel do Rio de Janeiro.
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O processo americano mostra a individualidade de cada estado em uma Federação de verdade.
ResponderExcluirJá cometei sobre isso.
A diferença entre FEDERADO E CONFEDERADO.
Quem tem o nome de FEDERATIVA é o Brasil.
Uma CONFEDERAÇÃO É A REUNIÃO DE DIVERSAS FEDERAÇÕES.
Eis aí os ESTADOS UNIDOS, UMA CONFEDERAÇÃO DE ESTADOS FEDERATIVOS.
CADA ESTADO É UMA FEDERAÇÃO INDEPENDENTE.
VOLTANDO AO BRASIL república federativa, cada estado não passa de uma associação comercial, tal como a FIERGS ou A FIESP, ou a federação paulista, gaúcha ou carioca de futebol.
Fico vendo o Brasil como um federado da confederação bolivariana.
Corrigindo o excelente texto, o processo americano mostra a individualidade de cada estado em uma CONFEDERAÇÃO com estados federados de verdade.
A palavra confederados foi usada pelos estado secionados na guerra de secessão americana, porque eles formariam uma confederação escravagista para combater os estado do norte.
Federação
Federação é o nome de um estado soberano formado por diversas entidades locais com autonomia de governo e administração. Quando essas entidades se unem através de uma constituição forma-se a federação ou o estado federal.
O Brasil é um bom exemplo, pois é uma federação quem tem como estados membros São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Pernambuco, Rondônia, entre outros. Cada estado tem sua autonomia administrativa, porém não é soberano nem tem personalidade internacional.
Confederação
A confederação é similar à federação, mas difere no fato de que as entidades da confederação são soberanas e a sua formação é feita por alianças enquanto que na federação isto ocorre por constituição. Na confederação os laços existentes são mais brandos, enquanto que na federação são mais rígidos.
A FIFA não passa de uma autarquia internacional ou uma fundação que não deveria ter fins lucrativos, porem todas as confederações esportivas e suas federações são suas associadas.
fui...