Maria João Marques
Enquanto diligentemente não afirmarmos
com contundência que os valores europeus são incompatíveis com o estatuto das
mulheres no islão, estaremos a apimentar o caldo onde se desenvolve o terrorismo.
Em 2009 fui a Bruxelas numa
viagem de bloggers. Num dos dias almoçamos com Maria da Graça Carvalho, então
conselheira de Durão Barroso. Perguntei-lhe que respostas, se algumas, tinha a
Comissão Europeia para os abusos dos direitos humanos que as mulheres
muçulmanas residentes na União Europeia sofriam nas suas comunidades. (Sim, já
nessa altura estes assuntos me agitavam.)
Os casamentos forçados
enquanto adolescente com homens desconhecidos dos países de origem dos pais. A
violência doméstica sobre mulheres (que quantas vezes nem sabem falar e
escrever na língua do país de acolhimento) e filhas e irmãs caso estas não se
cubram como deviam e não fujam dos hábitos namoradeiros das devassas raparigas
ocidentais. Os crimes ditos de honra sobre as mulheres – que não estão só nas
zonas tribais do Paquistão. A adoção de quadros legais como a sharia no meio
dos supostamente igualitários países europeus. A proibição de mulheres e filhas
e irmãs de estudarem e trabalharem, privando-as assim da possibilidade de obter
um trabalho que lhes garanta uma alternativa de sobrevivência – e de escape à
opressão familiar. E… e… e…
A nossa interlocutora deixou a
questão para o fim, reputou-a de muito difícil e muito importante, mas
reconheceu a impotência. Recebi dias depois umas informações da Comissão sobre
ajudas a vítimas de violência doméstica, nada sobre o que eu havia inquirido.
De resto percebeu-se que não havia resposta nem, sequer, um esboço de
tentativa. O que havia era a esperança que este caldo periclitante não explodisse
depressa, que a UE nunca tivesse de confrontar a realidade feia que as
comunidades islâmicas cá residentes criaram – com a conivência dos fracos
políticos europeus que morrem de medo de usar um discurso a que os excitadinhos
irresponsáveis possam dar o epíteto de xenófobo e islamofóbico.
Mas o caldo explodiu e agora
de poucos meses em poucos meses temos de regressar ao assunto. Por mim,
confesso que estou muito saturada do mantra que, paradoxalmente, se instalou
depois de 2011 e que reza que o islão é uma religião de paz, nada a ver com
atentados terroristas (apesar do número considerável de clérigos islâmicos que
na Europa e no resto do mundo usam a sua influência e poder para radicalizarem
os jovens muçulmanos e os encaminharem para os meandros terroristas), enfim,
que o islão é só flores e bombons de gente que nunca pensaria usar a violência
para com outros. O atroz tratamento que os islâmicos oferecem às mulheres é
invenção de mal intencionados e xenófobos (comigo aos saltinhos na primeira fila),
mas felizmente as provocações desta má rés são ignoradas pela gente de bem e
esclarecida que dedica ao assunto o que ele merece: silêncio.
Confesso que tenho saudades de
poder falar destes assuntos quando as mentes tolerantes não dedicavam maior
ferocidade a quem aponta as evidentes falhas do islão, e o seu apoio oficial ou
oficioso ao terrorismo, do que aos que festejam cada atentado terrorista. Ou,
como nos últimos meses, aos que protegem o cérebro dos atentados de Paris no
meio de um bairro de Bruxelas e nada de o denunciar à polícia ou aos serviços
de informações. São escolhas e eu não respeito essa escolha.
Há muitos anos o filme Not
Without My Daughter, com Sally Field, contava a história real de uma mulher
americana que casou com um iraniano. O marido era atencioso e normal enquanto
viveram nos Estados Unidos, mas quando se mudaram para o Irão tornou-se
violento e despótico. A mulher fugiu com a filha, abandonando o marido brutal
no Irão. Ora este filme, de 1991, atualmente já não seria realizado. Lembremos
a chuva de escândalo que caiu em cima de Dom José Policarpo quando afirmou que
muitas mulheres que casavam com muçulmanos se viam de seguida com graves
problemas conjugais. Já não se faz criticar o islão. Não se aceita nos salões
cosmopolitas. É de mau tom.
Dizer que o desrespeito pelas mulheres é norma para o muçulmano médio é um desvario a raiar o
racismo do KKK. Chamar a atenção que para os muçulmanos uma mulher que não use lenço na cabeça é, no mínimo, invisível e, no máximo, merece ser violada porque não se deu ao respeito é uma heresia. Afirmar que é um tremendo risco ter uma parte
crescente da população europeia com estas ideias encantadoras sobre a condição
feminina é ousadia que deve ser recompensada com insultos sonoros.
Mas esta desculpabilização do
islão vem com um preço: damos rédea livre para que o pior do islão decorra no
meio das cidades europeias. Há uns tempos li um texto muito curioso da Vogue
sobre as raparigas britânicas que fogem da família para casarem com combatentes do ISIS. Geralmente vêm de famílias muçulmanas conservadoras,
com todos os passos controlados, sem contacto com rapazes e com interação
limitada com amigas, sem experiência de vida que não a vida familiar, cobertas
desde antes da adolescência. A fuga para o ISIS é uma libertação e a
possibilidade de aventura que lhes é negada pela draconiana moral familiar.
Os rapazes, como é sabido,
vêem com enlevo tornarem-se terroristas. Mesmo aqueles perfeitamente integrados
nas comunidades (como em Londres) ou bons alunos de escolas católicas (como em
Paris, versão de novembro). Ou que usaram dos benefícios dos generosos estados
sociais europeus mas continuam a reclamar.
Não tenho soluções para o
terrorismo. Mas sei que enquanto diligentemente fizermos por ignorar este mal
sob o sol que cresce nas comunidades muçulmanas residentes na Europa, enquanto
não afirmarmos com contundência (inclusive judicial e penal) que os valores
europeus são incompatíveis com o estatuto das mulheres no islão (um exemplo), estaremos
a apimentar o caldo periclitante. O primeiro passo para resolver um problema
costuma ser perceber onde está e qual é.
Cara Maria João,
ResponderExcluirJe Suis Aerus!!
Primeiro tenho que pôr a máscara de oxigênio em mim, para aí então, cuidar de quem está próximo!! Lamentável estes Atentados!!!!
H Volkart