segunda-feira, 14 de março de 2016

Propaganda, governo e popularidade: o gigantesco equívoco do PT

Cesar Maia
         
1. Lá se vão 100 anos em que a propaganda passou a ser um instrumento político fundamental, seja para ganhar eleições, seja para os governos conquistarem apoio, seja para os políticos projetarem suas legítimas ambições de ascensão. Nesses 100 anos, uma máxima afirmou-se como sabedoria desse processo e passou a pautar os profissionais da propaganda política.
         
2. “Se é verdade que não há um bom governo sem uma boa propaganda, também não há uma boa propaganda sem um bom governo”. Os governos podem ser objetivamente bons, mas se não conseguem comunicar adequadamente o que têm feito pela população, podem ter uma opinião pública desfavorável. Mas nos últimos 50 anos, a massificação pela TV, a especialização dos publicitários em campanhas eleitorais, divulgação dos governos e comunicação da oposição, surgiu o apogeu do chamado marketing político.
          
3. A sofisticação crescente das técnicas usadas no marketing político produziu um grave equívoco, querendo contrariar a máxima básica entre bom governo e boa propaganda. Os (chamados) marqueteiros foram convencendo os políticos que bastava uma boa propaganda para que as imagens dos políticos e dos governos junto à opinião pública fossem construídas independentemente das ações e dos fatos efetivos.
            
4. Ou seja, que através do marketing político se poderia construir a opinião das pessoas, descolada da realidade dos governos. Os governos passaram a derramar bilhões em propaganda para tornar a avaliação de seus governos descolada das performances dos mesmos e dos interesses da população. 

5. A contratação de um publicitário de grande qualidade, Duda Mendonça, pelo PT na eleição presidencial de 2002, produziu essa ilusão de ótica para o PT e Lula. Com o mensalão e o afastamento de Duda Mendonça, seu parceiro João Santana veio a substituí-lo e constituiu-se a fórmula do governo imbatível: uso ilimitado de dinheiro e uso ilimitado da propaganda. E exportou-se para seus aliados na América Latina.
           
6. Essa fórmula está na raiz do mensalão e do petrolão: os meios publicitários e financeiros justificam os fins – permanecer indefinidamente no poder. Essa fórmula gerou uma espiral de necessidades e para abastecê-las, dinheiro extraído dos fornecedores do governo, e compensado por sobrepreço.  
           
7. O uso dessa fórmula pode até prorrogar a vida útil de um governo reduzindo a percepção pelas pessoas dos erros e da mediocridade. Mas há um limite, quando o fracasso governamental se espalha e passa a ser percebido pela população diretamente, pelos trabalhadores, empresários, profissionais, etc., atingidos pelo desastre governamental. A tentativa de insistir na fórmula propaganda e corrupção para continuar governando se exaure e volta por cima do governo como uma erupção vulcânica.
           
8. Manter o poder cada vez mais e -até exclusivamente- via propaganda e corrupção tem um alto preço. É um equívoco imaginar que quando da implosão do governo haverá seu tempo para a alternância no poder. Vide Itália e Mãos Limpas: projeta-se para um prazo muito, muito longo. Se é que tem volta.
           
9. Aqui na América do Sul vivemos uma conjuntura que demonstra cabalmente essa situação: Brasil e Venezuela são irmãos gêmeos no fracasso, no abuso da propaganda e nos desvios de recursos públicos. 
Título e Texto: Cesar Maia, 14-3-2016

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