quarta-feira, 20 de abril de 2016

A farsa de Marina Silva atinge o estado da arte

Há quatro meses, Rede divulgou uma nota contra o impeachment; agora, o partido diz ser a favor, mas insiste no “nem Dilma nem Temer”. Como de hábito por lá, nada faz sentido!
Reinaldo Azevedo 
Sempre considerei Marina Silva uma notável farsante política. Ela só era mais sutil. O tempo está fazendo com que se torne mais explícita. Uma nota sobre o passado: o mensalão não foi o bastante para escandalizar o seu padrão ético. Nem o caso dos aloprados. Afinal, ela era da turma da clorofila…

Só deixou o governo e o PT quando Lula resistiu à tese da “transversalidade” de seu ministério. Na prática, Marina queria ter direito de voz, voto e veto em todos os projetos que envolvessem infraestrutura. O Babalorixá não quis lhe entregar o governo, e ela se demitiu. Não foi por amor à democracia — ou teria saído antes. Foi por causa de seu temperamento autoritário. Adiante.

Marina se manteve prudentemente longe dos embates do impeachment. O primeiro grande ato aconteceu no dia 15 de março do ano passado. E não é certo afirmar que ela não deu um “pio”. Deu, sim! Contra o impedimento. Não só os seus ditos “marineiros” ficaram distantes do embate como ela bombardeou a tese mesmo.

Seus fiéis se dedicaram a combater Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Nesse particular, fizeram bem. Mas deixaram Dilma de lado. O jogo desta senhora era claro: torcia para que Dilma ficasse até 2018, com o país esfrangalhado. Assim, ela, Marina, poderia herdar o espólio da esquerda.

No dia 4 de dezembro do ano passado, a Executiva Nacional do partido divulgou uma nota em que dizia que a denúncia que estava na Câmara não apresentava matéria nova em relação à anterior, “já analisada pela Rede como insuficiente para redundar em impeachment”.

Quando Marina percebeu que o impedimento havia se tornado inevitável, aí aderiu à tese. Mais de um ano depois da primeira grande manifestação. Sabem cumé… O representante do partido na Comissão Especial do Impeachment, no entanto, Aliel Machado, ex-PCdoB, votou contra o relatório. Na Câmara, dois deputados disseram “sim” ao texto: Miro Teixeira (RJ) e João Derly (RS). E dois se opuseram: além de Aliel, o ex-petista Alessandro Molon (RJ). Um pé em cada barco.

Nesta segunda o partido divulgou uma nota que é um primor da mistificação. Declara apoio ao impeachment, sim, e emenda:

“Há clareza na sociedade de que o partido do vice-presidente Temer é tão responsável pela crise política, ética e econômica quanto o partido da presidente Dilma”.

Não se trata de questão de gosto: isso é apenas uma mentira. O PMDB é, sim, sócio do poder, mas a política econômica que conduziu o país à ruína é obra do PT. Mais: também é o partido que definiu o padrão de moralidade das negociações políticas. O que não quer dizer que não haja criminosos no PMDB.
Mais adiante, afirma o texto: “Também há clareza de que Eduardo Cunha não pode continuar na presidência da Câmara dos Deputados e que Renan Calheiros não pode continuar na presidência do Senado, pois ambos estão profundamente envolvidos nos fatos que vêm sendo revelados”.

O que uma coisa tem a ver com outra? O impeachment de Dilma não tem relação de causa e efeito com a situação de Cunha e Renan, que eu também queria fora do Parlamento.

Como, no fim das contas, tudo não passa de puro oportunismo, falta coerência interna à nota. Lá está escrito:

“A solução passa pela Justiça Eleitoral, que investiga o uso de dinheiro da corrupção para a campanha de Dilma e Temer. A Rede Sustentabilidade confia que o Tribunal Superior Eleitoral julgará com a celeridade possível as denúncias de fraude eleitoral da chapa Dilma/Temer nas eleições de 2014, devolvendo à sociedade o poder de decidir o futuro do país.”

Ora, se é assim, então que se deixe o impeachment pra lá.

O ponto é o seguinte: Marina se diz favorável ao impeachment, mas, de verdade, é contra. Afinal, se impeachment houver, o presidente será Michel Temer, e a nota do partido termina com “Nem Dilma nem Temer”.

Eis Marina Silva! O segredo desta senhora sempre está em ter todas as opiniões para não ter nenhuma. 
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA, 19-4-2016

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