Há quatro meses, Rede divulgou uma nota
contra o impeachment; agora, o partido diz ser a favor, mas insiste no “nem
Dilma nem Temer”. Como de hábito por lá, nada faz sentido!
Reinaldo Azevedo
Sempre considerei Marina Silva
uma notável farsante política. Ela só era mais sutil. O tempo está fazendo com
que se torne mais explícita. Uma nota sobre o passado: o mensalão não foi o
bastante para escandalizar o seu padrão ético. Nem o caso dos aloprados.
Afinal, ela era da turma da clorofila…
Só deixou o governo e o PT
quando Lula resistiu à tese da “transversalidade” de seu ministério. Na
prática, Marina queria ter direito de voz, voto e veto em todos os projetos que
envolvessem infraestrutura. O Babalorixá não quis lhe entregar o governo, e ela
se demitiu. Não foi por amor à democracia — ou teria saído antes. Foi por causa
de seu temperamento autoritário. Adiante.
Marina se manteve
prudentemente longe dos embates do impeachment. O primeiro grande ato aconteceu
no dia 15 de março do ano passado. E não é certo afirmar que ela não deu um
“pio”. Deu, sim! Contra o impedimento. Não só os seus ditos “marineiros”
ficaram distantes do embate como ela bombardeou a tese mesmo.
Seus fiéis se dedicaram a
combater Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. Nesse particular,
fizeram bem. Mas deixaram Dilma de lado. O jogo desta senhora era claro: torcia
para que Dilma ficasse até 2018, com o país esfrangalhado. Assim, ela, Marina,
poderia herdar o espólio da esquerda.
No dia 4 de dezembro do ano
passado, a Executiva Nacional do partido divulgou uma nota em que dizia que a
denúncia que estava na Câmara não apresentava matéria nova em relação à
anterior, “já analisada pela Rede como insuficiente para redundar em
impeachment”.
Quando Marina percebeu que o
impedimento havia se tornado inevitável, aí aderiu à tese. Mais de um ano
depois da primeira grande manifestação. Sabem cumé… O representante do partido
na Comissão Especial do Impeachment, no entanto, Aliel Machado, ex-PCdoB, votou
contra o relatório. Na Câmara, dois deputados disseram “sim” ao texto: Miro
Teixeira (RJ) e João Derly (RS). E dois se opuseram: além de Aliel, o ex-petista
Alessandro Molon (RJ). Um pé em cada barco.
Nesta segunda o partido
divulgou uma nota que é um primor da mistificação. Declara apoio ao
impeachment, sim, e emenda:
“Há clareza na sociedade de
que o partido do vice-presidente Temer é tão responsável pela crise política,
ética e econômica quanto o partido da presidente Dilma”.
Não se trata de questão de
gosto: isso é apenas uma mentira. O PMDB é, sim, sócio do poder, mas a política
econômica que conduziu o país à ruína é obra do PT. Mais: também é o partido
que definiu o padrão de moralidade das negociações políticas. O que não quer
dizer que não haja criminosos no PMDB.
Mais adiante, afirma o texto:
“Também há clareza de que Eduardo Cunha não pode continuar na presidência da
Câmara dos Deputados e que Renan Calheiros não pode continuar na presidência do
Senado, pois ambos estão profundamente envolvidos nos fatos que vêm sendo
revelados”.
O que uma coisa tem a ver com
outra? O impeachment de Dilma não tem relação de causa e efeito com a situação
de Cunha e Renan, que eu também queria fora do Parlamento.
Como, no fim das contas, tudo
não passa de puro oportunismo, falta coerência interna à nota. Lá está escrito:
“A solução passa pela Justiça
Eleitoral, que investiga o uso de dinheiro da corrupção para a campanha de
Dilma e Temer. A Rede Sustentabilidade confia que o Tribunal Superior Eleitoral
julgará com a celeridade possível as denúncias de fraude eleitoral da chapa Dilma/Temer
nas eleições de 2014, devolvendo à sociedade o poder de decidir o futuro do
país.”
Ora, se é assim, então que se
deixe o impeachment pra lá.
O ponto é o seguinte: Marina
se diz favorável ao impeachment, mas, de verdade, é contra. Afinal, se impeachment
houver, o presidente será Michel Temer, e a nota do partido termina com “Nem
Dilma nem Temer”.
Eis Marina Silva! O segredo
desta senhora sempre está em ter todas as opiniões para não ter nenhuma.
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