Cesar Maia
1. A hipótese do impeachment de Dilma é cada dia mais concreta. A
crise econômica profunda se mostra em todas as latitudes com a queda do PIB que
passa a ser depressão, taxa de desemprego recorde, quebra de milhares de
empresas, taxas de juros extravagantes, perda do grau de investimento por todas
as agências de risco, a indústria definhando, inflação roçando os dois dígitos,
Estados quebrados...
2. É natural que os debates, as análises, as colunas, as
entrevistas, e o noticiário se concentrem na questão econômica. E especulem
sobre medidas a serem adotadas pelo novo governo e nomes para o Ministério da
Fazenda e Banco Central. Claro que tudo isso é muito importante.
3. Mas há um elemento consensual que precisa ser devidamente
equacionado: a taxa de confiança, a credibilidade no novo governo. Afirma-se
que só a saída de Dilma e sua substituição por Temer vai gerar uma reversão de
expectativas. No prazo imediato é verdade. Os mais experientes sugerem que o
novo presidente se afaste da ilusão de um plano de governo. O fundamental é
aprovar de imediato 2 ou 3 medidas de forte impacto que sinalizem a nova
dinâmica fiscal e econômica.
4. Mas a questão de fundo da taxa de confiança não estará
resolvida, pois nem o presidente, nem o nome do ministro da fazenda são
suficientes, embora necessários. O presidente terá uma semana para ir ao
Congresso e propor duas ou três medidas. Um bom início.
5. Mas o ponto-chave da taxa de confiança no caso brasileiro é a
expectativa de governos, e investidores externos sobre a sustentabilidade do
que disser o governo. A desintegração mais profunda da credibilidade do atual
governo se deu no setor externo. O desmanche da imagem do Brasil ocorreu com
velocidade surpreendente, estimulado pela coreografia externa do governo se
abraçando com os populismos mais coloridos bolivarianos, africanos e no médio
oriente.
6. A prioridade maior no momento do impedimento de Dilma é a
escolha do Novo Ministro das Relações Exteriores. Esse deve ter um currículo
carregado de conhecimento e experiência na diplomacia presidencial, geopolítica
internacional, na diplomacia econômica…
7. Desde a América do Sul, desentravando o Mercosul na direção da
União Europeia, afirmando uma coordenação com a Aliança do Pacífico,
estabelecendo um diálogo sério e prático com os EUA, reinserindo-se na ONU como
uma potência ocidental e cristã, que é, voltando a ter uma voz de prudência nos
conflitos de média intensidade, sem tergiversar sobre o terrorismo, afirmando a
segurança jurídica internacional…
8. O Novo Ministro das Relações Exteriores, tendo esta dimensão,
alavanca a confiança no novo governo, constrói imediatamente as pontes
necessárias para integrar o país, rompendo o isolamento e a desconfiança,
política, diplomática, econômica... O Novo Ministro das Relações Exteriores tem
uma enorme vantagem operacional: conta com uma máquina diplomática de enorme
eficiência, tradição e respeitabilidade, garantidora imediata da nova política
externa a ser executada.
Título e Texto: Cesar Maia, 31-3-2016
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