Valdemar Habitzreuter
Estive em Bernkastel-Kues, no
Vale do Mosel, na Alemanha. É uma cidadezinha pacata, mas notória pela atração
turística e pela produção do delicioso vinho riesling de Bernkastel (outrora
servido nos aviões da Varig).
É claro que não pude de
abster-me de sorver in loco de
algumas boas taças desse palatável néctar. No entanto, fiquei intrigado de a
cidade ser composta dos dois nomes: Bernkastel e Kues. Em verdade, o Vale do
Mosel é serpenteado pelo Rio Mosel dividindo, assim, a cidade ao meio: de um
lado fica Bernkastel e do outro fica Kues. Mas achei estranho o nome Kues. Só
quando me deparei de uma placa metálica numa parede estampando uma figura
humana onde se lia: filósofo e teólogo Nikolaus von Kues que me veio à mente
que se trata do eminente Nicolau
de Cusa [imagem abaixo], nascido aí em Cusa (Kues) no séc. XV, um filósofo bastante
estudado e pesquisado no estudo da Filosofia, principalmente pela sua obra: ‘Da
Douta Ignorância’ (De Docta Ignorantia) onde apresenta sua teoria do
conhecimento.
Não é intento meu de aqui expor
essa teoria, há ótimos artigos, dissertações e teses na internet se alguém
tiver interesse em inteirar-se da filosofia e teologia desse filósofo. Mas, em
linhas gerais, Nicolau de Cusa faz dessa obra seu método de como devemos
proceder para conhecer as coisas, a realidade. Diz ele que o ser humano é avido
por conhecimento, ele tende a querer conhecer tudo, a totalidade ou a realidade
absoluta. Mas tal intento é impossível, pois tratar-se-ia de percorrer um
caminho ad infinitum e isso estaria
fora de alcance de nossa mente finita que é apenas afeita a medir e conhecer
diversas coisas da realidade em sua finitude, mas nunca chegar ao conhecimento
da sua unidade absoluta, infinita. Daí ele dizer que quem admite conhecer a
coisa ou a realidade em sua totalidade é ignorante, mais ignorante do aquele
que admite que é ignorante ao dizer que não sabe muito desse Universo Infinito.
É a douta ignorância, pois,
que deve guiar o homem a desenvolver seu conhecimento em relação à realidade
que nos cerca, e paulatinamente avançar em conhecimento e sabedoria. Para
Nicolau, percorre-se o caminho do conhecimento adotando três vias à moda do
platonismo: começa-se pelos sentidos, daí passa-se para a razão e pode-se
alcançar a via intelectiva. Pelos sentidos percebemos as coisas, pela razão
formamos juízos das coisas e pelo intelecto, o mais alto grau de conhecimento,
para Cusa, adentramos, por um ato de intuição, no labirinto do Absoluto sem
saber como, mas temos a certeza de um Absoluto que, para Nicolau de Cusa, é
Deus. É pois esta obra, Da Douta Ignorantia, a base de sua teoria filosófica e
teológica. Aliás, foi um importante assessor dos papas naquela época...
Está aí, as viagens sempre nos
despertam e nos ensinam algo. Munidos da douta ignorância podemos avançar em
conhecimentos e sabedoria... Também
Sócrates, cinco séculos antes de Cristo, já dizia: “só sei que nada sei”...
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 29-5-2016
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