João Marques de Almeida
Além da insatisfação generalizada das
classes médias americanas, há outra razão que me leva a temer uma vitória de
Trump. É, como populista esperto e habilidoso, muito melhor do que Hilary em
campanha
A maioria dos analistas está
convencida que Hilary Clinton ganhará facilmente a Trump nas presidenciais. De
acordo com a visão dominante, Trump foi eleito nas primárias do partido
republicano porque as bases republicanas são radicais e extremistas. Mas esse
radicalismo, dizem-nos, não sobreviverá ao teste eleitoral nacional. Afinal de
contas, as eleições vencem-se ao centro. Não estou convencido com este
argumento. Também julgava que Trump nunca seria eleito candidato republicano;
mas foi.
O eleitorado republicano que
escolheu Trump está próximo do americano comum. Não foram os radicais
religiosos que votaram em Trump. Esses votaram em Ted Cruz. Tal como tinham
votado no passado na senhora do Alasca. A direita extremista e religiosa sempre
foi minoritária nos republicanos, e continua a ser. O que mudou foi a maioria
do eleitorado moderado. Deixou de votar em candidatos moderados porque está
zangado. Está zangado com o poder de Washington, a riqueza de Wall Street e os
políticos em geral. Trump é o candidato anti-político. É populista, mas não é
um extremista ideólogo como Cruz. Aliás o seu discurso é anti-ideologia,
populista e oportunista.
As elites republicanas nunca
aceitaram Trump precisamente por causa do seu populismo anti-político. Não foi
devido a qualquer radicalismo ideológico. Quando só restavam dois candidatos,
apoiaram Cruz, que é bem mais extremista (e perigoso, ‘if I may add’). A
oposição dos dirigentes republicanos a Trump foi a reação típica de qualquer
aparelho partidário: tentaram travar o tipo de fora do partido. Preferiram um
extremista da família a um populista de fora. Ao contrário, as bases votaram em
Trump precisamente porque ele vinha de fora.
A dimensão anti-política e
anti-partidária é o que verdadeiramente me preocupa. E é o que pode levar Trump
à Casa Branca. As primárias em ambos os partidos mostraram que os americanos
estão zangados com a ‘América’. Haverá certamente muitas razões, mas o fosso
crescente entre os mais ricos e a classe média é com certeza uma das mais fortes.
A economia americana está a crescer, mas a maioria dos americanos não sente
qualquer melhoria nas suas vidas. Para um admirador dos Estados Unidos como eu,
custa muito admitir mas a verdade é que a economia norte americana deixou de
beneficiar as classes médias. Por isso, Trump é o candidato republicano. E por
isso Sanders, uma figura inacreditável do século passado, conseguiu tantos
votos nas primárias democratas.
Por estas razões, não é útil
recorrer apenas às categorias convencionais – direita e esquerda ou republicana
e democrata – para analisar as eleições americanas. Grande parte do eleitorado
votará de um modo transversal. Haverá republicanos a votar em Hilary e
seguramente parte do eleitorado de Sanders votará em Trump. De resto, o populismo
de Trump inclui posições típicas das esquerdas: os ataques à globalização e ao
comércio livre, e a defesa do aumento da despesa pública em programas de
segurança social e de saúde (se for eleito, Trump pretende expandir os
programas de saúde introduzidos por Obama).
Além da insatisfação
generalizada das classes médias americanas, há uma segunda razão que me leva a
temer uma vitória de Trump. É muito melhor do que Hilary em campanha. Como
todos os populistas espertos e habilidosos, Trump sabe falar para as massas e
sabe conquistar votos. Não tem escrúpulos de qualquer espécie, não distingue a
verdade da mentira, dizendo o que é conveniente aos seus interesses.
Será um adversário temível
para a candidata democrata. Devemos reconhecer igualmente que Clinton é fraca
em campanha. Não convence, não inspira e não mostra convicção. Parece que está
a fazer um frete. Só um candidato fraco perderia tantos estados contra uma
personagem como Sanders. É espantoso como o partido democrata só conseguiu
arranjar Clinton e Sanders como candidatos. O que mostra que os democratas não
estão muito melhor do que os republicanos.
Estou convencido que a vitória
de Hilary seria melhor para os Estados Unidos, para a Europa (gostava de ver
Merkel e Clinton a trabalharem juntas) e para o mundo. No entanto, e desejo
estar enganado, receio que Trump possa ser eleito presidente americano em
Novembro.
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador,
15-5-2016
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-