sexta-feira, 13 de maio de 2016

Um conselheiro mal aconselhado

Rui A. 

É um regalo terminar a manhã de um dia de antevéspera de fim-de-semana a ouvir, na TSF, os disparates do Sr. Conselheiro de Estado Francisco Louçã sobre o processo de impeachment que corre no Brasil. Fundamentalmente, a tese do Sr. Conselheiro é de que este processo constitucional e fiscalizado pelo Supremo se trata de um golpe de estado promovido pelos grandes interesses capitalistas e financeiros brasileiros, contra um governo popular, que tanto e tão bem fez ao povo.

Infelizmente, a tese do Sr. Conselheiro não bate com a realidade: é que esses «grandes interesses» estiveram, desde sempre, instalados nos governos de Lula e Dilma, a começar pelas grandes construtoras, como a Odebrecht e a Camargo Corrêa, cujos donos e gestores se encontram presos graças à investigação que conduziu ao impeachment. O Sr. Conselheiro de Estado, conhecido inimigo do grande capital, deveria, por isso, estar satisfeito, em vez de triste.

Depois, quando o Sr. Conselheiro se queixa, também, de que os urdidores do «golpe» têm sinistras ligações aos antigos apoiantes da ditadura militar e aos coronéis do sertão, há três nomes que lhe têm de ser arrojados às fuças, para ver se tem mais pudor no que diz: Paulo MalufJosé Sarney e Collor de Melo. O Sr. Conselheiro sabe quem são, não sabe? Ou melhor, sabe quem foram, porque, desde os primeiros tempos do governo Lula, que qualquer um destes três cavalheiros é seu aliado e faz parte da base de apoio governamental. O Sr. Conselheiro de Estado Francisco Louçã deveria, portanto, escolher melhor as suas companhias políticas.

Por fim, o mais grave: a esquizofrenia, tão característica da extrema-esquerda, de ler entre as linhas e descobrir as «forças ocultas»: onde o Sr. Conselheiro deveria ver os resultados de uma pressão popular de milhões de brasileiros, que vieram para as ruas do país exigir que os seus representantes, no fim de contas, os representassem, única coisa que fez os deputados mexerem-se, ele vê conspirações em gabinetes plutocráticos. O problema do Sr. Conselheiro é só um e apenas um: ele não acredita na democracia. Nem seria de esperar outra coisa de quem sempre esteve, e continua a estar, na extrema-esquerda. 
Título, Imagem e Texto: Rui A., Blasfémias, 12-5-2016

3 comentários:

  1. Não sou jurista, muito menos constitucionalista, e ainda menos especialista na Constituição Brasileira...

    Mas sinceramente achei o folclore da Câmara dos Deputados deprimente e assustador.

    No Senado foi mais composto e sóbrio, mas na substância deixa-me com muitas dúvidas se a "destituição" da presidente tem fundamento jurídico-constitucional sólido, principalmente quando vejo invocar a "impopularidade", as "manifestações" e/ou as sondagens por alguns senadores.

    Em regimes de democracia representativa a "rua" não é argumento jurídico-constitucional!

    Para bem do regime democrático no Brasil é bom que se comprovem os crimes de Dilma que justifiquem a destituição. ("Martelar contas numa companhia cotada" é crime em muitos países mas no caso dos políticos parece que não)

    Mas talvez o mais interessante é que entre nós as "virgens ofendidas" que reclamam sobre a conspurcação da "vontade da rua" num tema constitucional no Brasil, são exactamente os mesmos, todos, que depois das manifestações anti-TSU de Setembro de 2012 contra Passos Coelho gritavam pela ilegitimidade do Governo de então.

    Se a incoerência pagasse impostos... não havia crises.
    Pedro Ramalho Carlos

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    Respostas
    1. Permita-me, pode ter sido deprimente e assustador o 'folclore' na Câmara dos Deputados, mas, posso assegurar, que mais deprimente e assustador foi o 'folclore' na governança do Brasil nestes últimos anos. O resultado está aí, quer dizer, lá!

      Nesta altura do campeonato, ou melhor, neste final de campeonato petista, é tarde e sacal ainda ter que apresentar argumentos explicando e justificando o 'folclore' que foi a votação na câmara federal, pois os 367 deputados que votaram a favor são uns pobres analfabetos e farristas!

      Ah, e as manifestações populares que aconteceram no Brasil e no Exterior (teve em Lisboa, eu estive lá, o Expresso e o Público não estiveram) foram um folclore...

      Manifestações convocadas por movimentos de Direita (ou fascistas, financiados pela CIA), liderados por jovens de vinte anos...

      No início, eu fiquei surpreso e pensei que não iriam muito longe...

      Hoje, tenho orgulho de ter acreditado!

      Tudo isso aí, me dá uma tristeza grande em testemunhar que a Direita (Liberais, AntiComunistas, seja o que for) aqui em Portugal não tem a mesma coragem que tiveram os brasileiros para sair às ruas!

      E viva o atraso, a pobreza e a degradante dependência do Governo. Eu disse, do Governo, pior do que fosse do Estado!
      Não me leve a mal, Pedro, forte abraço./-

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    2. De acordo Jim.
      A minha preocupação é por um lado que o processo seja revertido por falta de solidez legal...
      Mas o que mais me indigna é a forma como a nossa esquerda (portuguesa) argumenta: exactamente ao contrário do que andou a clamar durante 3 anos desde fim de 2012 em PT.
      Pedro Ramalho Carlos

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