Matéria tenta vender como novo o peixe
podre e busca transformar em coisa escusa o que é um trabalho legítimo e legal
de parceria
Reinaldo Azevedo
Alinhamentos os mais
interessantes estão em curso. Um historiador pode ter dificuldade, no futuro,
para identificar quem é quem. Colaboro como os pósteros. No momento, a extrema
direita caquética, quase desencarnada em Olavo de Carvalho, resolveu se juntar
ao PT, PSTU, PSOL e à militância de esquerda infiltrada na grande imprensa para
atacar o impeachment — que ainda não aconteceu, é bom lembrar — e aqueles que
lideraram a ação, em especial o MBL (Movimento Brasil Livre).
Uma reportagem de incrível
má-fé, e sobre o nada!, foi estampada no UOL, assinada por Pedro Lopes, que não
sei quem é, e por Vinicius Segalla, notório militante de esquerda nas redes
sociais e, segundo comenta por aí — ele é meio boquirroto —, inimigo do MBL.
Por quê? Ele deve saber. Título do texto: “Áudios mostram que partidos financiaram MBL
em atos pró-impeachment”.
Como é que o inimigo do MBL e
seu parceiro chegaram a essa conclusão? Ouviram uma gravação em que Renan
Santos, um dos coordenadores do movimento, critica Olavo de Carvalho, chefe
espiritual da extrema-direita hidrófoba. Aiatolavo, como o chamo, vinha
atacando os grupos pró-impeachment em razão de sua parceria com partidos
políticos. Farei um post específico a respeito. A Múmia Falante e Fumante da
Virgínia queria invadir o Palácio do Planalto e defendia um golpe militar.
Defende ainda hoje. Generais chamam Olavo, em suas piadas, de “velho babão” e
“carpideira banguela”. No tal áudio, Renan explica por que é preciso atuar com
os partidos e deixa claro que estão trabalhando em conjunto. Leiam a
transcrição de sua fala:
“O lance é assim. Bom,
vocês já sabem, não preciso nem falar pra vocês. Ali [RENAN FALA DA EXTREMA
DIREITA] é um monte de garoto. Garotos, mulheres, sociopatas, com
comportamento social errático, com poucos amigos, com várias frustrações
psicológicas. Frustrações pessoais, afetivas e tal. E que acabam encontrando
este discurso ‘Ah sou conserva, sou reaça, opressor’. Maior mentira, eles não
oprimem! Mentira! São uns coitados! É uma gente que vê, por exemplo, no
comportamento do Olavo, meio falastrão, fumando, falando palavrão, no
Bolsonaro, uma redenção pra a própria miséria deles próprios. E acabam entrando
nessa idolatria.
E aí eles veem no MBL — o
MBL incomoda muito por causa disso —, eles veem no MBL o contrário, eles veem
um monte de gente que tem uma postura aberta, cara de pau, mas ao mesmo tempo
qualificado. A maior parte da galera do MBL é alegre. Você pega da galera da
Banda Loka no RS, a galera do Nordeste, todo mundo é muito leve. E isso
incomoda eles. Ser leve, ser agradável, ser tranquilo, ser inteligente.
Não precisa ficar
incorrendo nisso. Isso incomoda o cara, o cara é negativo. Eles não gostam de
ir numa boa festa, de dar risada. Eles acham que estão numa missão, quase
religiosa. Pessoas pesadas, né? Então é natural que eles percam tempo e façam
hangouts sobre a gente enquanto a gente tá aí tocando nossas coisas.
O MBL acabou de fechar com
o PSDB, DEM e PMDB uma articulação pra eles ajudarem. Ah, e também com a Força
Sindical, que é o Paulinho né?, pra divulgar o dia 13. Usando as máquinas deles
também. Enfim, usar uma força que a gente nunca teve. E foi o MBL que montou
isso. A gente está costurando com todos eles pra ter o impeachment.
Então a gente tá em outra,
a gente tá realmente causando problemas pra Dilma. E eles estão numa outra,
eles estão lá tentando resolver os traumas e as frustrações deles e projetando
na gente tudo aquilo que eles gostariam de ser, mas não são. Então, deixa eles.
Raquel, a gente já conhece teu trabalho, vamos embora, vamos vencer. Muita
gente nossa já sofreu este tipo de coisa. A Ana sofre em Goiás. Eu já sofri
ataques desse Alex Brun. O Kim, coitado! Mas dane-se. A vida continua. O MBL
continua, e continua crescendo, a despeito deles. Gostem eles ou não.”
De volta à matéria do UOL
O primeiro problema grave da
reportagem do UOL é tratar como novidade o que novidade não é.
Publiquei um post sobre esse áudio no dia 13 de maio.
Em segundo lugar, o MBL jamais
escondeu que trabalhava com partidos. Atenção! Trabalhar com os partidos, atuar
em parceria em favor do impeachment, é coisa muito diferente de “ser
financiado”, o que faz supor uma relação escusa, em que há subordinação
política.
Reportagem do Estadão do dia 26 de fevereiro
informava a criação do comitê suprapartidário em favor do impeachment, integrado
pelo MBL. O que o sr. Segalla pretende informar, além da má-fé?
Em terceiro lugar, dizer o
quê? Uma reportagem como a da UOL não para em pé porque o texto não corresponde
ao título. Leiam: não há uma só evidência do tal “financiamento”. É claro que o
MBL tinha e tem de trabalhar com os partidos políticos. São eles que decidem
sobre o impeachment. A extrema esquerda e a esquerda se incomodam com isso
porque gostariam que todos fossem idiotas como Olavo de Carvalho: hostilizassem
os políticos. Já digo por que o Inimputável da Virgínia precisa disso.
Atenção! Dei uma palestra no
Primeiro Congresso Nacional do MBL. Aconteceu em novembro do ano passado. O
movimento deliberou ali a parceria com os partidos de oposição, o que nunca
quis dizer subordinação, e decidiu ali que lançaria candidatos em várias
legendas, mas com a marca MBL. É o correto.
Não há nada de novo nisso.
Abordei a questão no último programa “Painel” do ano passado, comandado por
William Waack. Trato do assunto entre os 27 min e os 31 min no vídeo abaixo:
Reitero. A reportagem é
vergonhosamente de má-fé porque tenta transformar uma parceria clara,
necessária e admitida numa espécie de relação escusa. Ao buscar evidenciar o
suposto desdouro moral ou crime, não apresenta fato nenhum. Pior do que isso:
busca uma contradição que absolutamente não existe entre o que prega e o que
faz o MBL.
Olavo de Carvalho e o sr.
Segalla, ambos esbirros do PT — e cada um com seus motivos —, não se conformam
que o movimento tenha conseguido juntar a força das ruas com a atuação
institucional. E a união foi vitoriosa. Quem perdeu? Olavo e as esquerdas.
Estas porque deixaram o poder, e aquele porque perdeu grana. Muita gente que
comprava o curso do “professor” percebeu que Olavo precisa que tudo dê errado
para que ele tenha razão.
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