Cesar Maia
1. Os presidentes da Argentina, Brasil e Chile enfrentam em 2016
uma onda de impopularidade. Em primeiro lugar Dilma e provavelmente Temer até
que se possa avaliar a partir de seu primeiro mês de governo. Com a suspensão
de Dilma da presidência, militantes saíram às ruas para protestar. E a partir
das substituições feitas pelos Ministros, e Diretores de Autarquias, Fundações
e Empresas, engrossou o número de participantes. E ainda virão muito mais
substituições. Esses protestam, mas principalmente lutam pelos cargos que
perderam e que sonham em retornar se no último julgamento no Senado Dilma não
for impedida definitivamente. Dilma tinha e tem menos de 15% de aprovação nas
pesquisas.
2. Michele Bachelet – presidente do Chile – intensificou sua curva
de impopularidade quando veio a público o tráfico de influência de seu filho e
nora. As reformas propostas por Bachelet ao Congresso do Chile produziram
reações, em especial a reforma educacional e a tributária. E a economia chilena
mudou de patamar de crescimento. Com a queda nos preços do Cobre – o petróleo
chileno – a economia sofreu forte impacto. O patamar anterior que oscilava
entre 4% e 6% do PIB, passou a 2% e menos nos últimos 2 anos. No dia do
discurso anual no Congresso (23/05), os protestos ganharam violência no estilo
black-block. Nos dias seguintes, se deslocaram para a capital Santiago, sendo
massificados, mas sem as violências ocorridas em Viña del Mar. Porém, um
pequeno grupo de estudantes burlou a segurança e gritou palavras de ordem dentro
do Palácio de La Moneda (presidencial). A aprovação de Bachelet caiu para 22%
semana passada.
3. A aprovação do presidente Macri também caiu e de forma
significativa. Nesse momento, os que aprovam e os que desaprovam estão no mesmo
patamar dos 45%, bem menor que há 2 meses atrás. Macri provavelmente contava
com isso. Aplicou um choque de tarifas públicas e liberou o câmbio. A inflação
de 4 meses subiu para 19% e a taxa de desemprego mantém-se muito alta. Macri
recuperou credibilidade internacional mas os reflexos disso chegam ao cotidiano
das pessoas em médio prazo. A aliança vitoriosa de Macri sofreu um arranhão
pela esquerda com dúvidas da deputada Elisa Carrió que o apoiou.
4. (Natalio Botana, politólogo-historiador argentino - La Nacion,
27)
4.1. Nas últimas semanas as ruas estão gritando. As mobilizações vêm
acontecendo, o espaço público é agitado por protestos, enquanto os profetas da
oposição anunciam crises e colapsos. Embora esta não seja a imagem que as
pesquisas mostram, os desafios trazidos pelos efeitos da inflação e do aumento
dos impostos vem mostrando que, em muitas ocasiões, o Governo passa a impressão
de que caminha a reboque dos acontecimentos.
4.2. A disputa, na forma figurada de uma tempestade em um inverno
antecipado, soma-se a três condições que a nova administração vem enfrentando
desde 10 de dezembro: a terra arrasada deixada pela experiência kirchnerista em
assuntos econômicos e morais, a profunda crise política e econômica que aflige
o Brasil, e a catástrofe climática causada pelo fenômeno El Niño que afeta o
setor mais dinâmico da nossa economia. Talvez esse jogo de iniciativas e
respostas, em tempo ou não, seja inevitável porque o país está envolvido em uma
grande disputa pelo poder: uma disputa pelo poder perdido, pelo poder ganho e
pelo poder a recuperar ou preservar.
Título e Texto: Cesar Maia, 3-6-2016
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