Cesar Maia
1. Em fins de 1995, o ex-ministro do trabalho do presidente João
Goulart, João Pinheiro Neto (falecido em 2006), dizia numa conversa política
que o grande erro de JK foi não ter candidato à presidente na eleição
presidencial de 1960. Lembrava, no Brasil, apenas nas eleições o eleitor se
interessa pela política, e que um governante se ocultar no processo eleitoral
para sua sucessão é apagar a memória mesmo dos melhores feitos.
2. Uma prática que vem crescendo no país é um governante bem
avaliado não participar da eleição de sua sucessão, com candidato de seu
partido com expectativa de derrota, de forma a que volte a ser candidato na
eleição seguinte sem ter que levar a marca de derrotado na eleição anterior.
3. Um vetor desta prática é um governante em final de mandato
olhando para uma eleição subsequente, num quadro de dificuldades para a eleição
do candidato de hoje de seu partido, simular sua participação mas na verdade
jogar para a derrota de "seu" candidato.
4. Uma versão mais radical disso é quando o governante escolhe um
candidato seu para perder e conta com a incapacidade do governante que o
sucederá para ser exaltado depois por comparação. E então ser candidato na
eleição seguinte.
5. Outra versão disso, essa mais, digamos, esperta, é quando o
governante, aspirando um posto de governo mais alto em que seu partido governa
hoje em situação de grande desgaste, jogar para perder na eleição atual e já
definir um projeto novo.
6. Ou seja, após a eleição perdida para sua sucessão, troca de
partido, de forma a que não carregue o desgaste de seu partido na gestão de
hoje, do governo que pretende disputar amanhã. Muitas vezes a negociação – discreta
- com o partido para o qual se mudará após a atual eleição já ocorre durante
esta.
7. Na eleição para prefeito em 2016 isso já está ocorrendo. O
desgaste do PT nacionalmente e de outros partidos em gestões estaduais em
estados falidos levarão a prefeitos de hoje, com pretensão a governador em
2018, a optar por uma destas alternativas espertas.
8. Na primeira hipótese, o caso JK, a omissão afetou a memória
política da opinião pública. JK não contava com isso. E na eleição indireta do
general Castelo Branco votou a favor deste como senador.
9. As demais hipóteses citadas acima dependem das circunstâncias. E
as circunstâncias de hoje em nível nacional e de vários estados estimularão a
omissão, a participação simulada ou a troca de partido a seguir.
Título e Texto: Cesar Maia, 19-7-2016
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