Mario Sabino
Quando acordei na primeira
manhã em Praga, depois de sonhos intranquilos, eu havia me metamorfoseado num
inseto.
Como poderia ser diferente? Eu
estava num país que, independente do Império Austro-Húngaro somente em 1918,
após a Primeira Guerra Mundial, havia sido barbarizado pelos nazistas ao longo
de sete anos, ocupado pela Rússia soviética durante mais de quarenta, se
desmembrado da Eslováquia em 1993 — e, no entanto, conquistado níveis de
excelência por todas as métricas disponíveis.
Com pouco mais de vinte anos
de liberdade política e econômica, os tchecos privatizaram estatais, puseram a
sua juventude para estudar de verdade (nada de marxismo), reabilitaram a sua
indústria, revitalizaram a sua linda capital, dinamizaram o turismo, entraram
para a União Europeia e passaram a exibir um padrão de vida próximo ao das
grandes nações ocidentais.
Enquanto isso, o que fizemos
nas últimas duas décadas — ou melhor, nos quase duzentos anos de independência?
Fizemos o que os insetos fazem: avançamos poucos metros por dia, a maior parte
das vezes andando em círculos ou abertamente para trás, sujamos o percurso como
baratas e, neste momento, lá estamos nós outra vez com as perninhas para o
alto, tentando tirar a parte cascuda do chão.
Tudo para voltar a avançar
poucos metros por dia, a maior parte das vezes andando em círculos ou
abertamente para trás.
Não é uma imagem
entomológico-literária. No ranking mundial de competitividade, para ficar
apenas num exemplo, recuamos pelo sexto ano consecutivo, agora para o 57º
lugar, enquanto a República Tcheca ganhou posições (figura em 27º).
Os tchecos têm Praga; os
brasileiros são uma praga.
Título e Texto: Mario Sabino, 8-7-2016
Que nem os portugueses!
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