Creio que devemos ser gratos a esse
rapaz; ele vem nos lembrar que ainda há muito por fazer e que é preciso
reocupar a Paulista
Reinaldo Azevedo
Na condição de defensor do
impeachment de Dilma, de critico severo das esquerdas, de apoiador de uma
agenda liberal, de entusiasta das privatizações, quero aqui fazer um
agradecimento público a Guilherme Boulos, o chefão do MTST.
Mais do que isso! Anuncio:
“Estamos juntos, companheiro! Conto com você para levar às ruas milhares de
pessoas que pensam como eu. Sem a inestimável colaboração das esquerdas e sua
contribuição milionária — ou melhor: bilionária — para todos os erros, não
teríamos ido tão longe. Não fossem vocês, é pouco provável que conseguíssemos
nos livrar de Eduardo Cunha e Dilma Rousseff a um só tempo”.
Por que isso tudo? Já explico.
Antes, algumas considerações.
Grupos que fizeram a defesa do
impeachment de Dilma — como MBL (Movimento Brasil Livre), Vem Pra Rua e Nas
Ruas — marcaram um protesto, que eu diria propositivo, para o dia 31 de julho,
que é, como de hábito com gente ocupada, um domingo.
Chamo de protesto propositivo
porque, com efeito, estarão nas ruas para reforçar o seu apoio ao impeachment,
mas também para apresentar reivindicações ao governo Temer. O MBL quer, entre
outras coisas, que o Planalto encampe a defesa do fim do foro especial por
prerrogativa de função — tese que não aprovo, diga-se —, a privatização dos
Correios e da Petrobras e a expulsão da Venezuela do Mercosul. Apoio e aplaudo.
O Vem Pra Rua vai marchar em
defesa da Lava Jato e em apoio às 10 Medidas Contra a Corrupção propostas pelo
Ministério Público — noto: algumas são boas; outras são fascistoides. Mas não
entro agora no mérito das minhas divergências com os movimentos.
O fato é que eles são, sim,
defensores do impeachment e de sua legalidade e legitimidade. Vão às ruas para
deixar claro ao Senado que estão vigilantes — afinal, sabem que não é tarefa
trivial conquistar ali pelos menos 54 votos —, mas também cobrar avanços na
agenda que saiu vitoriosa nas ruas — já que Dilma destruiu aquela que venceu
nas urnas.
É claro que as ruas estão um
tantinho frias, não é? Vivemos um mês de férias escolares. Poucos acreditam que
Dilma possa voltar, e o governo Temer, dada a sua natureza, não é do tipo
estridente, que convoca manifestações passionais — nem contrárias, é bom notar.
Eu estava até um pouco
temeroso, sabem?, de que a manifestação pudesse ser meio acanhada, a despeito
do esforço valoroso desses grupos. Mas tudo mudou.
Fico sabendo que Gilherme
Boulos e seus amiguinhos de esquerda decidiram, ora vejam!, do alto de sua
conhecida irresponsabilidade, convocar uma manifestação para o mesmo dia 31.
Lembrando seus tempos de burguesinho birrento, preferido das tias, Boulos
raciocina:
“Ninguém é dono da rua. Nós
temos direito de manifestação e vamos exercê-lo. Espero que a polícia nos trate
da mesma forma que trata a turma de verde e amarelo na Paulista”.
É uma provocação barata. A
manifestação dos movimentos pró-impeachment está marcada há mais de um mês. O
Senado julgará Dilma no fim de agosto. Se Boulos agora decidiu dar tarefa a
seus desocupados também num domingo — as esquerdas costumam protestar só em
dias úteis, para infernizar a vida de terceiros —, há outros a escolher no
calendário.
É claro que coisas assim são
desaconselháveis. O protesto contra Dilma e em favor de uma pauta para o
governo Temer está marcado para a Paulista. As esquerdas pretendem se encontrar
no Largo da Batata, subir a Rebouças e descer a Consolação, passando a poucos
metros de distância de sus antípodas. Mais: é grande a chance de grupos de um
lado e de outro cruzarem suas bandeiras em ônibus e metrôs.
Esquerdistas são treinados em
arruaça e em confronto. A conversa mole de Lula de que se deve abordar um
“coxinha”, como ele disse, com carinho é pura ironia troglodita. Ele sabe que
as coisas não funcionam desse modo. Se os militantes de Boulos não obtiverem
autorização para subir a Rebouças e descer a Consolação, as forças de segurança
do Estado estarão apenas cumprindo o seu dever. São Paulo não é o gramado do
Congresso.
Mas esperem: este era e
continua a ser um texto de agradecimento a Boulos. Faltava um elemento a mais
que pudesse dar ânimo aos militantes pró-impeachment. Agora já temos. Esse
rapaz vem nos lembrar de que “os urubus continuam passeando entre os
girassóis”. E que é mais necessário do que nunca combatê-los e vencê-los.
Dentro da lei e em ordem. Uma
defesa que eles, obviamente, não podem fazer porque isso é coisa de coxinha.
Felizmente!
Ah, sim: Kim Kataguiri, um dos
coordenadores do MBL, explica à Folha a natureza do dia 31: “Nossas
manifestações, de nenhuma maneira, foram uma espécie de ‘Vai lá, Temer, tome o
poder’. O Temer é uma consequência constitucional [do processo de impeachment].
O ato será para pressionar por reforma”.
É isso. Sem pressão,
amiguinhos, não acontece nada!
Título e Texto: Reinaldo Azevedo, VEJA,
14-7-2016
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Uma das pautas de 31 de julho de 2016 nas ruas é contra o PLS 280/2016.
ResponderExcluirPrecisamos tirar o emprego do Renan Calheiros, porque o PLS 280/2016, de sua autoria e relatoria do Jucá, pretende acuar os membros do Ministério Público, da Polícia Federal, da Receita Federal, Juízes, Desembargadores e Ministros do judiciário. Temos de persistir. Ele é muito maquiavélico. Como diz a Thereza Collor ele conhece a alma humana. A fraqueza dele é que ele levou muito dinheiro público (do nosso suor) dos governos do PT.
E quem deve determinar e investigar seu enriquecimento ilícito, que é o stf (Teori) não o faz.
Se o Temer der um passo em direção a este PLS o povo deve reagir pugnando ao TSE o célere julgamento da cassação da chapa Dilma-Temer. Aliás, não dá para entender a demora.
Esses coronéis como Renan(s), Sarney(s), Jucá(s) querem que o Brasil permaneça no atraso do coronelismo, da corrupção sem freios. São gente do mal e egoístas contra o interesse comum.
ANTONIO AUGUSTO.