sábado, 16 de julho de 2016

O HOMO LUDENS... O homem brincante... A propósito dos jogos olímpicos

Valdemar Habitzreuter
Gostamos de jogos. Os momentos lúdicos são marcantes no processo de nossa formação existencial em que afirmamos a vida em seu aspecto prazeroso.

Nada mais justo, então, que conferir ao homo faber e homo sapiens a titularidade também de homo ludens. Os três têm em comum a ação criadora.

Como homo faber, dedicamo-nos à atividade laboriosa, ao fabrico de instrumentos que nos possibilitam o ganha-pão de cada dia; como homo sapiens, dedicamo-nos a todas as peripécias intelectuais no aprimoramento desses instrumentos (tecnologia) para facilitar o labor cotidiano; e como homo ludens, damo-nos um tempo de regozijo, mas não menos criador.

Nosso lado lúdico imita a ação criadora do tempo que brinca de criação e transformação das coisas na natureza, sem viés teleológico. Assim, brincamos pelo simples brincar (lembrem-se de uma criança brincando inocentemente), sem culpabilidade de desperdiçar ou desconstruir nossa existência.

A ludicidade, por meio dos jogos, induz à competividade em que o competidor mede suas próprias forças querendo sempre superá-las, e isso perfaz o caminho criador e educativo de integração corpo/alma.

Assim, os jogos nos dão o ensejo de manifestarmos nossas emoções mais puras, proporcionando-nos autossatisfação e por que não dizer participar do impulso criador da natureza exultante!

Os jogos não são uma simples distração ou uma fuga ao trabalho, mas uma integração com o ritmo da natureza laboriosa e exultante com suas leis próprias.

Daí o caráter sagrado dos jogos com seus rituais e regras como se fosse um evento religioso em que os jogadores exaltam o espírito de luta num acordo de igualdade de condições para que o jogo transcorra dentro do princípio da alegria e justiça. 

A competividade nos jogos, através de disputas, não significa destruição do adversário, mas demonstrar o grau de desenvolvimento das forças vitais dos jogadores e consequente saúde psicofísica.

A rivalidade não é inimizade, mas esforço de cada jogador superar suas próprias limitações, acumulando cada vez mais forças que o tornam mais resistente e capaz de superar as forças do oponente. E isto é um jogo que deve acontecer em clima de festa.

Apesar de o jogo ser uma brincadeira é revestido de seriedade, pois quando jogamos não é uma simples distração ou esquecimento das agruras da vida, mas nos colocamos em sintonia com o ritmo da natureza ao deixarmos extravasar ludicamente este impulso vital de nossos corpos.

Quando um tenista, por exemplo, empunha sua raquete e desfere golpes na bolinha, e às vezes com grito desafiador, não é para espezinhar o adversário, mas sim alinhar-se em conformidade com seu impulso vital que a natureza lhe outorgou. 

É este, pois também, o espírito dos jogos olímpicos, uma herança da cultura clássica grega em que a educação física e a música tinham grande relevância para uma saudável e perfeita integração corpo/alma.

Platão foi o grande idealizador da prática do exercício físico conjuntamente com o cuidado da alma. Para ele, deve haver o justo equilíbrio entre os dois. Se um se destaca mais que o outro haverá problemas.

Quando há maior realce à alma em detrimento do corpo, este fica debilitado e adoece, e quando se cultua mais o corpo do que a alma, esta se degenera e é acometida por uma das mais infelizes enfermidades: a ignorância, que a priva de alcançar seu status primitivo: o mundo ideal.

Estamos às voltas com a Olimpíada em nosso país, e se houve politicagem para que o Brasil sediasse tão nobre festa lúdica, façamos uma pausa, agora, em nosso inconformismo com tudo de ruim e lastimável acontecendo neste nosso belo país, e curtamos ou assistamos aos jogos em agosto num clima lúdico e de festa. Assistir e torcer também é participar...

Que os deuses do Olimpo assistam aos atletas jogadores! 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 16-7-2016

3 comentários:

  1. Eu vou com uma opinião mais irracional.
    Acho os jogos olímpicos e outros esportes um brincadeira de guerra mais saudável.
    Aguerra pelo homem mais rápido, mais resistente, mais atlético mais habilidoso, seja com as mãos , com os pés, mais rápido na água, ou com movimento mais preciosos e elegantes.
    Gostamos e exaltamos quando os nossos conseguem o feito, e invejamos o feito dos outros.
    A famosa guerra sadia.
    Há esportes de luta , de força e de domínio mental.
    A distração, a arte e as frustrações.
    Enfim todos poderiam assistir sem fanatismos, e de há muito o esporte perdeu a sua qualidade in natura , o amadorismo deixou de ter beleza para a escravatura do profissionalismo.
    fui...

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    Respostas
    1. estava usando o SPYBOT, ele reinicia todas as minhas assinaturas, e só depois entrei no meu google account.

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  2. Caro Habitz, que os Deuses do Olímpio, nos protejam neste grande evento, nestas Olimpíadas! Também vejo os Jogos, entre uma das poucas talvez a única maneira, de nos enfrentarmos e em que não vemos nossos adversários como inimigos, somente como adversários, e com FairPlay!
    Salve o Esporte!
    Abs,
    Heitor Volkart

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