Valdemar Habitzreuter
Gostamos de jogos. Os momentos
lúdicos são marcantes no processo de nossa formação existencial em que
afirmamos a vida em seu aspecto prazeroso.
Nada mais justo, então, que
conferir ao homo faber e homo sapiens a titularidade também de homo ludens. Os três têm em comum a ação
criadora.
Como homo faber, dedicamo-nos à atividade laboriosa, ao fabrico de
instrumentos que nos possibilitam o ganha-pão de cada dia; como homo sapiens, dedicamo-nos a todas as
peripécias intelectuais no aprimoramento desses instrumentos (tecnologia) para
facilitar o labor cotidiano; e como homo
ludens, damo-nos um tempo de regozijo, mas não menos criador.
Nosso lado lúdico imita a ação
criadora do tempo que brinca de criação e transformação das coisas na natureza,
sem viés teleológico. Assim, brincamos pelo simples brincar (lembrem-se de uma
criança brincando inocentemente), sem culpabilidade de desperdiçar ou
desconstruir nossa existência.
A ludicidade, por meio dos
jogos, induz à competividade em que o competidor mede suas próprias forças
querendo sempre superá-las, e isso perfaz o caminho criador e educativo de
integração corpo/alma.
Assim, os jogos nos dão o
ensejo de manifestarmos nossas emoções mais puras, proporcionando-nos
autossatisfação e por que não dizer participar do impulso criador da natureza
exultante!
Os jogos não são uma simples
distração ou uma fuga ao trabalho, mas uma integração com o ritmo da natureza
laboriosa e exultante com suas leis próprias.
Daí o caráter sagrado dos
jogos com seus rituais e regras como se fosse um evento religioso em que os
jogadores exaltam o espírito de luta num acordo de igualdade de condições para
que o jogo transcorra dentro do princípio da alegria e justiça.
A competividade nos jogos,
através de disputas, não significa destruição do adversário, mas demonstrar o
grau de desenvolvimento das forças vitais dos jogadores e consequente saúde
psicofísica.
A rivalidade não é inimizade,
mas esforço de cada jogador superar suas próprias limitações, acumulando cada
vez mais forças que o tornam mais resistente e capaz de superar as forças do
oponente. E isto é um jogo que deve acontecer em clima de festa.
Apesar de o jogo ser uma
brincadeira é revestido de seriedade, pois quando jogamos não é uma simples
distração ou esquecimento das agruras da vida, mas nos colocamos em sintonia
com o ritmo da natureza ao deixarmos extravasar ludicamente este impulso vital
de nossos corpos.
Quando um tenista, por
exemplo, empunha sua raquete e desfere golpes na bolinha, e às vezes com grito
desafiador, não é para espezinhar o adversário, mas sim alinhar-se em
conformidade com seu impulso vital que a natureza lhe outorgou.
É este, pois também, o
espírito dos jogos olímpicos, uma herança da cultura clássica grega em que a
educação física e a música tinham grande relevância para uma saudável e
perfeita integração corpo/alma.
Platão foi o grande
idealizador da prática do exercício físico conjuntamente com o cuidado da alma.
Para ele, deve haver o justo equilíbrio entre os dois. Se um se destaca mais
que o outro haverá problemas.
Quando há maior realce à alma
em detrimento do corpo, este fica debilitado e adoece, e quando se cultua mais
o corpo do que a alma, esta se degenera e é acometida por uma das mais
infelizes enfermidades: a ignorância, que a priva de alcançar seu status
primitivo: o mundo ideal.
Estamos às voltas com a
Olimpíada em nosso país, e se houve politicagem para que o Brasil sediasse tão
nobre festa lúdica, façamos uma pausa, agora, em nosso inconformismo com tudo
de ruim e lastimável acontecendo neste nosso belo país, e curtamos ou
assistamos aos jogos em agosto num clima lúdico e de festa. Assistir e torcer
também é participar...
Que os deuses do Olimpo
assistam aos atletas jogadores!
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 16-7-2016
Eu vou com uma opinião mais irracional.
ResponderExcluirAcho os jogos olímpicos e outros esportes um brincadeira de guerra mais saudável.
Aguerra pelo homem mais rápido, mais resistente, mais atlético mais habilidoso, seja com as mãos , com os pés, mais rápido na água, ou com movimento mais preciosos e elegantes.
Gostamos e exaltamos quando os nossos conseguem o feito, e invejamos o feito dos outros.
A famosa guerra sadia.
Há esportes de luta , de força e de domínio mental.
A distração, a arte e as frustrações.
Enfim todos poderiam assistir sem fanatismos, e de há muito o esporte perdeu a sua qualidade in natura , o amadorismo deixou de ter beleza para a escravatura do profissionalismo.
fui...
estava usando o SPYBOT, ele reinicia todas as minhas assinaturas, e só depois entrei no meu google account.
ExcluirCaro Habitz, que os Deuses do Olímpio, nos protejam neste grande evento, nestas Olimpíadas! Também vejo os Jogos, entre uma das poucas talvez a única maneira, de nos enfrentarmos e em que não vemos nossos adversários como inimigos, somente como adversários, e com FairPlay!
ResponderExcluirSalve o Esporte!
Abs,
Heitor Volkart