Luciano Henrique
Há pouco vimos a vitória do
candidato do DEM, Rodrigo Maia [foto], à presidência da Câmara. Ele venceu por
285 votos, contra 170 de Rogério Rosso, do PSD. Na votação em primeiro turno,
Maia havia vencido Rosso por 120 a 106. No mesmo primeiro turno, o candidato
apoiado pelo PT, Marcelo Castro (da ala petista do PMDB), ficou com apenas 70
votos.
Entramos nessa quarta-feira
temendo uma tragédia: a possibilidade de Castro ir para o segundo turno. Felizmente,
essa possibilidade não se concretizou, fazendo com que o PT tenha motivos para
chorar a noite inteira. Sim, petistas, vai descer. E vai descer rasgando!
Mas ainda temos um detalhe: a
vitória de Rogério Rosso seria ainda mais favorável a Temer do que a de Maia,
mesmo que ambos os candidatos sejam opções bem melhores do que Castro.
Repetindo: a vitória de Castro seria um apocalipse, pois representaria
praticamente um Waldir Maranhão Parte 2, levando à frente toda a agenda
bolivariana, haja vista que Castro tem agido como sicário do PT há muito tempo.
Para deixar algumas pessoas
com a pulga atrás da orelha, temos o fato de que Maia é um candidato que
costuma “dialogar” com a extrema-esquerda. Durante esta semana, o PT chegou a
discutir a possibilidade de apoiá-lo. Se é assim, por que há um aspecto
positivo em sua vitória?
O fato é que o PT queria
Castro, mas, como um plano B, preferia Maia a Rosso. Mas o PT só agiu assim por
estar atrelado à narrativa da personalização de Eduardo Cunha. No fim das contas,
a queda do “bloco de Cunha” é até negativa para o PT, dado que eles perdem boa
parte de seu discurso. Com o filme do PT cada vez mais queimado, dificilmente
Maia será pautado pela agenda bolivariana. Na verdade, deve acontecer bem o
contrário disso.
Embora tecnicamente Rosso
fosse uma melhor opção (preste atenção no “tecnicamente”, e apenas sob algumas
premissas), nesse momento a turma do Centrão não possui táticas narrativas para
combater suficientemente os frames petistas. Assim sendo, a possível presença
de Rosso como presidente da Câmara daria mais munição retórica ao PT. Com a
chegada de Maia, torna-se difícil para o PT conseguir “personalizar e congelar”
Maia, pois vários petistas o apoiaram no passado.
Assim, entre pontos positivos
e negativos, o resultado é praticamente tão bom quanto se Rosso vencesse. E
dependendo de nossa atuação, a vitória de Maia é até melhor que a de Rosso.
Caso Rosso tivesse conquistado
o cargo, ele seria atacado por uma bateria de rótulos lançados pelo PT, que o
“congelaria”, definindo-o como “o cara da turma do Cunha”. Em ritmo de batida
de bife, os petistas repetiriam as palavras de ordem, enquanto a turma do
Centrão ainda não possui a agilidade mental necessária para rebater as malhas
de rótulos produzidos pela petralhada. Pode ser que eles consigam evoluir em
termos de estrutura cognitiva para a guerra política, mas isso não é algo que
se consiga em questão de meses. Reformar a estrutura mental é algo que leva de
dois a três anos, no mínimo. Logo, Rosso seria mais vulnerável às baterias de
rótulos lançadas por petistas. Mesmo com maior alinhamento com o PT, ele teria
essa maior vulnerabilidade. (Quanto à turma de Rosso, me desculpem a
sinceridade: vocês não possuem estrutura cognitiva política suficiente para
encarar uma guerra de frames contra os petistas, e a derrocada de Cunha só
serve para comprovar isso.)
A vitória de Maia nos traz
algumas preocupações pelo seu alinhamento, em alguns momentos, com a
extrema-esquerda, mesmo que ele participe de um partido considerado civilizado
e democrático: o DEM. Maia, por exemplo, teria apoiado Maranhão na derrubada da
CPI da UNE. E isso é certamente algo preocupante.
Mas ao mesmo tempo, Maia é um
político pneumático, ou seja, responde à pressão. Sob uma bateria de pressão
fortíssima (principalmente lançada sobre a liderança de seu partido, o DEM, e
também sobre os demais partidos republicanos, como PMDB, PSDB, PP e PSB, dentre
outros) ele pode atender às nossas demandas, e com a vantagem de não possuir o
mesmo nível de vulnerabilidade que Rosso possuiria diante das baterias de
frames lançados pelos petistas. Não estou dizendo que Maia saiba combater os
petistas na guerra frames. Na verdade, Rosso e Maia, se fossem encurralados
pelo PT, teriam suas reputações destruídas em questão de meses. Ou mesmo
semanas. Mas estou levando em conta que ele não pode ser classificado como
“alvo” petista, na mesma proporção em que Rosso seria. Este é o aspecto mais
positivo da vitória de Maia.
Em suma, se Rosso vencesse,
teríamos trabalho para livrá-lo da surra de frames que ele tomaria dos
petistas. Com a vitória de Maia, não veremos o presidente da Câmara ser
metralhado politicamente por petistas (pois aí eles teriam que explicar seu
apoio em vários momentos a Maia), mas, em contrapartida, precisaremos
pressioná-lo para atender nossas demandas. Se a pressão for bem feita, há boas
chances de resultados.
Convém lembrar que se Castro vencesse,
não haveria pressão que desse jeito. Seu alinhamento com o PT é tão forte, mas
tão forte que nada de útil para a democracia poderia ser aprovado sob sua
gestão.
Em suma, foi um bom resultado.
Só temos que tomar cuidado e manter a pressão em um nível um pouco mais elevado
do que faríamos com Rosso, levando em conta que teremos menos trabalho para
protegê-lo da artilharia petista.
Título, Imagem e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 14-7-2016
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