É fato que o ser humano está
aí existindo e sabe que existe. Tem consciência disso e experiencia a vida
factualmente no decurso do tempo. Além disso, pergunta-se a si mesmo o que ele
é. Outros entes não se questionam a respeito. O cão, o cavalo e a árvore não se
fazem tal pergunta.
Ao questionar-se, o homem quer
saber o sentido de tudo o que existe e de sua própria existência. E formula,
então, outra pergunta: por que e para que existo e existem as coisas ao invés
de nada?
A partir daí começa seu conflito
existencial mundano e tenta decifrar o porquê de estar jogado neste mundo
circundado por coisas e fatalmente encaminhando-se para a morte. Há, pois, três
elementos com que se depara: 1) ele é um ser no mundo, 2) ele está às voltas
com coisas e 3) ele sabe que vai morrer.
Como encara tudo isso? Estar
no mundo significa que o ser humano foi lançado aí e tem de se virar, se
realizar a todo instante, fazer projetos com os quais tenta dar sentido a sua
existência. Os dias e os anos passam e vê-se circunscrito ao tempo, dentro de
uma historicidade, onde perfaz sua trajetória de vida com projetos pessoais que
definem seu status quo, talvez como engenheiro, médico, religioso, jogador de
futebol... etc.
Não está sozinho nesta jornada
temporal, é um ser-com-outros, seus semelhantes que também têm seus projetos de
vida. Compartilham crenças e afetos, são solidários, pois encontram-se na mesma
situação, jogados no mesmo mundo e condenados a existirem. Na
contemporaneidade, as redes sociais, embora virtuais, são um bom exemplo da
necessidade de interação e compartilhamento da vida fática em comum.
O seu estar aí no mundo,
outrossim, implica estar rodeado de coisas com as quais se ocupa, servem como
instrumentos para alguma finalidade (fazer uma casa, uma carroça, uma mesa, uma
canoa, uma enxada...). O mundo é isto: o ser humano, um ente entre outros entes
- as coisas - sem a dualidade ou oposição sujeito/objeto; todos são entes do
mesmo mundo (apenas o homem sabe que é um ente, enquanto as coisas são carentes
dessa ciência). O mundo constitui-se, portanto, do estar aí do ser humano
cercado de coisas cumprindo sua existência temporal.
Além do mais, sabe que vai
morrer; isto é, a vida é a possibilidade da impossibilidade de existir para
sempre neste mundo e isto o angustia, sabe que é um ser para a morte. Parece
que a morte lhe tira todo o sentido da vida acabando com os projetos a que se
lança a todo instante pela subsistência e autorrealização ao longo do tempo;
mas, é a morte a conselheira e companheira de todos os instantes
despertando-lhe a consciência de como conduzir-se apropriadamente na vida, dando-lhe
sentido.
Foi o filósofo Heidegger que
cunhou o ditado: "O Dasein (o
ser-aí do homem) é um ser-para-a-morte". Portanto, o homem projeta-se para
a morte, tem a morte cada vez mais próxima no decorrer do tempo; é o projeto
que a vida lhe determina peremptoriamente e que deve ser levado em conta para
saber o modo autêntico de viver. Como dizia Sêneca, “viver em conformidade com
tal projeto e cortejá-lo com pleno vigor de alma é dar sentido à existência, e
quem teme a morte, nunca agirá conforme sua dignidade”.
Na filosofia oriental, à qual
Heidegger era simpatizante, a morte significa a inserção do ser humano no
absoluto do Nada, que nada mais é que no absoluto do Ser – no Nirvana da
quietude.
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 4-8-2016
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