quarta-feira, 10 de agosto de 2016

As amizades nas redes sociais...

Valdemar Habitzreuter
É interessante como tratamos e valorizamos a amizade. Necessitamos dela. O ser humano caracteriza-se pela sociabilidade. Não nos concebemos num solipsismo completo, sem contato com o outro. Não haveria progresso para o modo mais cômodo de viver se não houvesse a convivência e cooperação entre nós humanos. Cada qual contribui de uma forma ou outra, com engenhosidades e ideias, para usufruirmos mutuamente desta vida com proveito e alegria.


E hoje em dia está em voga a amizade virtual pelas redes sociais. Através delas ufanamo-nos daquilo que postamos, queremos que o outro veja o bom caráter que somos, o quanto somos inteligentes, íntegros e interessados em esclarecer, ajudar, admoestar, criticar construtivamente, e, inclusive, meter o pau naqueles que consideramos fora de nosso círculo de amizade (nossos desafetos políticos, por exemplo) pelo que representam de desarmonia, desacordo e perigo para um convívio pacífico em sociedade.

Mas cuidado! Podemos estar agindo de má-fé ao querermos passar uma imagem positiva de nós mesmos, isenta de imperfeições. Geralmente, procuramos esconder a parte escura de nós, mentimos não só aos outros como a nós mesmos; consciente ou inconscientemente agimos inapropriadamente encobrindo o lado vil enraizado em nós e não queremos que os outros o notem. Nossas postagens sempre deixam transparecer o lado bom de nossa personalidade, queremos ser vistos pelos outros como se fôssemos pessoas impecáveis (?) e íntegras (?)...

Embora, por um lado, haja postagens impessoais de grande proveito, pois nos alertam, ensinam e nos alargam em conhecimentos, temos que tomar em conta, por outro lado, de que somos amigos virtuais e, como tal, temos por objetivo mais a satisfação de estabelecer um relacionamento virtual descompromissado e compartilhar o que achamos conveniente do que propriamente firmar uma amizade sincera, concreta e inabalável; isto é, a gostosa amizade virtual nada mais é que a ânsia de curiosidade do que o outro tem a nos transmitir de si e dos acontecimentos que o acometem, e, estando distante, é fácil considerá-lo amigo, pois sua maneira de ser não afeta diretamente nosso modo de viver.

Há de se notar, pois, o seguinte: lidar com amigos virtuais é bem mais fácil do que tê-los constante e concretamente presentes. Já se colocaram na posição de precisar conviver diariamente vis-à-vis num espaço físico com seus amigos do FB e encarar-se olho no olho, viver juntos, falando de si, de seus desejos, de seus projetos e de mil assuntos? Que desastre seria isto! Ninguém aguentaria, passaríamos a nos detestar.

A razão disso é que prezamos a liberdade à maneira egocêntrica. Aliás, é a liberdade que nos caracteriza como seres humanos e é através dela que fazemos nossas escolhas pessoais e queremos que nossos projetos de vida se realizem. Assim, conviver uns com os outros num mesmo ambiente físico torna-se um tanto problemático e desastroso, pois todos têm sua vontade própria e lutam para impor seu modus vivendi. Assim, as mais das vezes, queremos que nossas vontades prevaleçam, pois julgamo-nos mais aptos, mais inteligentes, mais probos, sem defeitos, e, assim, desprezando o que o outro nos tem a oferecer de útil. 

Neste sentido, falta-nos um espelho no qual nos olhar e descobrir nossas imperfeições. Não um espelho de vidro que só consegue refletir as imperfeições físicas, mas um espelho que nos revele as distorções de caráter de cada um. O olho do outro pode ser esse espelho; nós a mirá-lo e ele a nos refletir muito de nosso caráter, revelando os defeitos enraizados em nós que são encobertos pela máscara da vanglória pessoal que alimentamos, dificultando o relacionamento mútuo. O bordão de Sartre: “o inferno são os outros” é característico do choque de vontades egóicas, culpando sempre os outros pela nossa infelicidade...

Portanto, não temos como escapar, como seres sociáveis que somos, de relacionarmo-nos uns com os outros; e a avançada tecnologia de comunicação nos faculta o relacionamento à distância pelas redes sociais. Aproveitemos e divirtamo-nos, pois, com nossas amizades virtuais, bem mais fáceis de conservar à distância, e demos o privilégio da amizade estreita e profícua àqueles que convivem junto a nós no dia a dia, dispostos às correções de nossas imperfeições que o espelho do olho do outro nos revela. Isto evita o ‘inferno existencial’. 
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 10-8-2016

Um comentário:

  1. Prezados, acho fantástico! Principalmente quando são pessoas que conhecemos e convivemos por algum tempo!
    Pessoas que admiramos, e que nos sentimos próximos, não é necessário estarmos juntos 24 hs.
    Acho este convívio salutar e maravilhoso! Abraços,
    Heitor Volkart

    PS: Pessoas sinceras expõem também suas fraquezas, não só as glórias!

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