segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Tolerância zero

Paulo Baldaia

Se queremos vencer esta guerra onde estamos metidos, temos de nos deixar do politicamente correcto e usar as palavras certas quando relatamos crimes praticados em nome da religião e de Deus. Uma criança de 10 anos que é dada pela família para casamento é pedofilia, não é uma tradição ancestral. Um irmão que mata a irmã porque ela quer viver em liberdade não é um crime de honra, é um assassinato. Uma criança que é mantida em casa e proibida de ir à escola é um rapto.

De igual forma é tão terrorista um muçulmano que mata na Europa como um muçulmano que mata no Iraque ou um cristão que se arma até aos dentes e mata nos Estados Unidos. Não são terroristas os dois primeiros e maluco o norte-americano. Ainda assim, há um problema grave com o islamismo. E não, não tem que ver com o que defende esta religião em comparação com as outras, tem muito mais que ver com a tolerância com que olhamos para os crimes praticados. A começar pelos que são praticados lá longe.

Ninguém pode ser feminista na Europa e não ter tolerância zero em relação ao islamismo. Sou agnóstico e, mesmo que acreditasse em Deus, não seria capaz de viver com a minha racionalidade em nenhuma igreja. Mas, por ser racional, sei que a história nos dá conta de que, enquanto a maioria das religiões se tornou mais humanista, o islamismo teima em tolerar que se cometam crimes em seu nome e em nome de Deus.

Se a atitude passiva que se vê na grande maioria dos líderes muçulmanos tivesse perdurado na história do cristianismo, a Inquisição teria durado muito mais tempo e feito muito mais vítimas. No século da globalização, não é tolerável que uma determinada religião olhe para os crentes das outras religiões como infiéis. Como não é tolerável que considere a mulher um ser inferior.

Na questão do uso das palavras é igualmente um erro, quando falamos do islamismo, falar de líderes moderados em contraponto aos radicais. Não haverá paz enquanto a maioria for radical e os moderados não deixarem de ser moderados. Não chega não advogar a guerra, os moderados têm de se radicalizar, dentro da sua religião, para combaterem os crimes de ódio, os crimes de honra, a escravidão das mulheres. Utilizamos o termo moderado como um elogio e o que ele revela é uma fraqueza.

Vivemos numa sociedade livre, onde até os ateus e os agnósticos são aceites como fazendo parte do reino de Deus. Não podemos aceitar viver com religiões que aceitam todo o tipo de discriminações. E não, não é apenas para nos defendermos, é também para defender os milhões de pessoas que vivem sob o jugo da intolerância religiosa. Contra esta barbárie temos de ter tolerância zero, na Europa e no resto do mundo. Professem a religião que entenderem, mas isso não lhes dá o direito de não respeitarem os outros seres humanos. 
Título e Texto: Paulo Baldaia, Diário de Notícias, 31-7-2016

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