Se queremos vencer esta guerra
onde estamos metidos, temos de nos deixar do politicamente correcto e usar as
palavras certas quando relatamos crimes praticados em nome da religião e de
Deus. Uma criança de 10 anos que é dada pela família para casamento é pedofilia,
não é uma tradição ancestral. Um irmão que mata a irmã porque ela quer viver em
liberdade não é um crime de honra, é um assassinato. Uma criança que é mantida
em casa e proibida de ir à escola é um rapto.
De igual forma é tão
terrorista um muçulmano que mata na Europa como um muçulmano que mata no Iraque
ou um cristão que se arma até aos dentes e mata nos Estados Unidos. Não são
terroristas os dois primeiros e maluco o norte-americano. Ainda assim, há um
problema grave com o islamismo. E não, não tem que ver com o que defende esta
religião em comparação com as outras, tem muito mais que ver com a tolerância
com que olhamos para os crimes praticados. A começar pelos que são praticados
lá longe.
Ninguém pode ser feminista na
Europa e não ter tolerância zero em relação ao islamismo. Sou agnóstico e,
mesmo que acreditasse em Deus, não seria capaz de viver com a minha
racionalidade em nenhuma igreja. Mas, por ser racional, sei que a história nos
dá conta de que, enquanto a maioria das religiões se tornou mais humanista, o
islamismo teima em tolerar que se cometam crimes em seu nome e em nome de Deus.
Se a atitude passiva que se vê
na grande maioria dos líderes muçulmanos tivesse perdurado na história do
cristianismo, a Inquisição teria durado muito mais tempo e feito muito mais
vítimas. No século da globalização, não é tolerável que uma determinada
religião olhe para os crentes das outras religiões como infiéis. Como não é
tolerável que considere a mulher um ser inferior.
Na questão do uso das palavras
é igualmente um erro, quando falamos do islamismo, falar de líderes moderados
em contraponto aos radicais. Não haverá paz enquanto a maioria for radical e os
moderados não deixarem de ser moderados. Não chega não advogar a guerra, os
moderados têm de se radicalizar, dentro da sua religião, para combaterem os
crimes de ódio, os crimes de honra, a escravidão das mulheres. Utilizamos o
termo moderado como um elogio e o que ele revela é uma fraqueza.
Vivemos numa sociedade livre,
onde até os ateus e os agnósticos são aceites como fazendo parte do reino de
Deus. Não podemos aceitar viver com religiões que aceitam todo o tipo de
discriminações. E não, não é apenas para nos defendermos, é também para
defender os milhões de pessoas que vivem sob o jugo da intolerância religiosa.
Contra esta barbárie temos de ter tolerância zero, na Europa e no resto do
mundo. Professem a religião que entenderem, mas isso não lhes dá o direito de
não respeitarem os outros seres humanos.
Título e Texto: Paulo Baldaia, Diário de Notícias, 31-7-2016
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-