Helena Garrido
A economia portuguesa está de novo a
afundar. A evolução do investimento tem de ser a maior preocupação. Um problema
que o investimento público não resolve.
A previsão do Governo para o
crescimento da economia está seriamente ameaçada. A produção teria de aumentar
cerca de 2% na segunda metade do ano, face ao primeiro semestre, para chegarmos
à subida de 1,8% projectada no Orçamento do Estado para 2016. Impossíveis não
há, mas parece altamente improvável. O cenário mais provável, neste momento, é
o de crescermos menos este ano do que em 2015.
O retrato que o INE nos fornece da evolução da economia nos primeiros
seis meses deste ano é desanimador. O consumo privado, uma das principais
apostas do Governo de António Costa para reanimar a economia, perdeu ímpeto.
Poderemos até considerar um factor positivo. Os consumidores estão a ter um
comportamento racional. Mas precisávamos de outro factor de crescimento, o
investimento. O que não está a acontecer.
Depois de dez trimestres
consecutivos de crescimento, o investimento está a cair desde o início do ano.
Porque é que isto está a acontecer? Esta deveria ser a pergunta que o Governo
devia responder, sem preconceitos ideológicos. E alterar a sua política em
função dessas respostas. O folclore político não ajuda.
Há várias hipóteses para a
queda do investimento, que não sendo mutuamente exclusivas podem, pelo
contrário, reforçar-se. Vamos começar por tentar encontrar factores exteriores
à governação.
A situação em Angola e no
Brasil, o estado do tempo que prejudicou a construção no início do ano, a
concentração de investimento no fim do ano passado na compra de carros após
anos de adiamento, a decisão do Reino Unido de sair da União Europeia e a
incerteza no sector bancário. Eis alguns exemplos que podem explicar a queda do
investimento por antecipação ou adiamento dos projectos. E que nada têm a ver
com a governação.
Em contrapartida temos
acontecimentos que poderiam reforçar o investimento. Entre eles estão a
dinâmica da economia espanhola apesar da crise política, a actividade turística
reforçada pelo horror do terrorismo em França e na Alemanha e a atractividade
que Portugal poderia ter por ser um país seguro. Tudo factores que poderiam
induzir a subida do investimento e que também não estão nas mãos do Governo.
Vamos admitir que os factores
que afundam o investimento são mais fortes do que aqueles que o dinamizam. É
uma hipótese forte. Aproveitar a recuperação da economia espanhola pode não
exigir mais investimento, impondo apenas reorientação do que se produz. No
sector do turismo temos já as grandes infra-estruturas hoteleiras. E tudo o
que, hoje em dia, atrai mais os turistas está associado a pequenos projectos
que exigem muitos, mas pequenos investimentos.
Resta explorar os factores de
atractividade de Portugal, que agora se reforçam com a insegurança que abala
alguns países do centro da Europa. E aí as políticas dos governos já são
importantes. Foi nesse vector que, lamentavelmente, António Costa cometeu os
seus maiores erros, que agora pode estar a pagar.
O maior problema da política económica
deste Governo está longe de ser a aposta no consumo para dinamizar o
crescimento. Está antes nas medidas e no discurso que afugenta o investimento
de que precisamos, quer nacional como estrangeiro. Dinamizar a economia
portuguesa era já uma tarefa difícil.
Quando se soma a isso
alterações no IRC, anulações de acordos nas concessões dos transportes e na
venda da TAP e uma retórica que se aproxima perigosamente da estatização da
vida portuguesa, o mais racional é adiar projectos de investimento ou ir
investir noutras paragens.
É uma ilusão pensar que os
fundos comunitários do Portugal 2020 ou o investimento público vão trazer os
projectos de que precisamos para um crescimento saudável com emprego e
produção.
O investimento por iniciativa
do Estado já entrou, há muito, na parte da curva dos rendimentos decrescentes,
se não mesmo negativos. TGV’s, pontes ou mais estradas vão dar dívida sem gerar
o rendimento para a pagar. Já temos um peso suficientemente elevado de
projectos financiados com dívida, que são ruinosos e explicam em grande parte o
estado em que estão as contas públicas e os bancos.
O investimento em educação, de
que precisamos, tem um retorno a longo prazo que o Governo também tem
desprezado, com o facilitismo que imprimiu na política educativa. Neste domínio
apenas esperamos que não se cometam os mesmos erros do passado, quando a Parque
Escolar andou a gastar milhões quando podia gastar milhares na recuperação de
escolas.
Os fundos comunitários que
alimentam tantas esperanças também há muito tempo que têm efeitos mais
negativos do que positivos. Os investimentos que financiam acabam por ser menos
rentáveis do que poderiam ser se o dinheiro fosse dos donos dos projectos.
O que precisamos são de
projectos de investimento com dinheiro que saia em boa parte do bolso de quem
investe e que envolva a entrada de estrangeiros. Nada disso está a acontecer.
Quando um Governo opta pelo
discurso anti-empresário, anti-lucro ou anti-privado deveria explicar quais as
consequências dessa estratégia. Podemos escolher ter só empresas e projectos
empresariais do sector público, é uma opção. Não parece que seja essa a escolha
de António Costa. Sendo assim colocou-nos no pior dos mundos: nem temos público
nem privado.
Por mais que se queira
encontrar outras razões, a principal e mais importante explicação para a queda
do investimento está na política económica que este Governo escolheu. E sem
investimento não há o crescimento de que precisamos.
Título e Texto: Helena Garrido, Observador,
1-9-2016
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