domingo, 16 de outubro de 2016

Texto da SUIPA em homenagem à Bebel (Izabel Cristina do Nascimento)



"É com imenso pesar que nos despedimos da nossa amiga querida. A Bebel da Suipa faleceu no último dia 06/08. Foi o seu coração que lhe pregou uma peça. Morreu rodeada de animais, que permaneceram ao seu lado, leais e sinceros.

A despedida é sempre dolorosa, mas quando lembramos da Bebel viva, ativa, firme em suas convicções e verdades, tudo se transforma em orgulho. Até porque é muito confortador ter a certeza de que uma pessoa tão querida realizou tudo aquilo que se prontificou a fazer.

Ela sempre foi admirável e um exemplo de força e coragem, que merece ser copiado e, esperamos, do fundo do nosso coração, que onde estiver possa colher todas as maravilhas que plantou.

Não faltaram os grandes obstáculos, que com a sua obstinação e determinação eram enfrentados de frente e ultrapassados. Ela transpôs abismos e as subidas e descidas fizeram parte de sua vida "suipana". A nossa saudade será eterna, pois Bebel é insubstituível. Ela deu a sua vida pela Suipa, era a essência e a alma da Suipa e os animais vão sentir muita falta do seu aconchego, da sua pronta defesa e do seu amor incondicional.

Embora seja uma certeza que nasce com todos nós, a de que um dia partiremos dessa vida, o choque foi tremendo, pois não estávamos preparados para a despedida, sem aviso, sem tempo de preparar o nosso coração. É terrível dizer adeus quando tomamos consciência de que jamais voltaremos a encontrar essa pessoa, pelo menos não neste plano de existência.

Nossa querida amiga partiu para sempre e, junto com a eterna saudade que deixou no coração daqueles que a amavam e admiravam, ficou a sensação de impotência.

Não posso deixar de recordar a primeira vez em que vi a Bebel, pelo menos a que me lembro como se fosse ontem, Tínhamos ido a uma audiência trabalhista, e seguíamos sérias e caladas à sala de audiências. De repente, uma pessoa começa a ter convulsões à nossa frente e a Bebel, que estava linda, toda arrumada, saia lápis (ainda não havia se aposentado) se ajoelha na frente do homem, coloca a cabeça dele sobre as suas pernas e imediatamente solicita que eu lhe entregue o lenço que estava em meu pescoço a fim de evitar que ele travasse a boca. Ela, simplesmente ajudou a quem precisava de ajuda, enquanto todas as outras pessoas olhavam estupefatas, inclusive eu que não era médica, mas, como sempre afirmou, era aeronauta da Varig e conhecia bem todos os procedimentos aplicáveis no caso. O homem se acalmou, pararam as convulsões e ela só disse: "Fique calmo, está tudo bem, vou lhe ajudar a sentar em uma cadeira". Simples assim. Ser extraordinário.

De uma outra feita, estávamos indo à Itaboraí assinar a escritura de compra de uma grande área para onde iria transferir os cavalos e animais maiores. Paramos em um posto de gasolina, e lá estava deitado um cachorro imenso, parecendo doente. Ela manda: "Vamos lá, precisamos colocá-lo no meu carro para levarmos para a Suipa. E eu: "Como assim? Ele é enorme, vai nos morder". E ela: "Vai nada. Está com leishmaniose, está sem forças, está morrendo e eu não vou deixar"! E lá fui eu... Quando começamos a transportá-lo um frentista veio dizer que ele não poderia ser retirado, que era do posto. Ao que ela informou: "Vou providenciar tratamento veterinário. Do jeito que ele se encontra vai morrer. Prometo que trago de volta, desde que vocês cuidem dele melhor". Assim ficou combinado e ele nos ajudou a transportar o imenso "sobrinho", que se manteve dócil o tempo inteiro.

Em uma outra vez, me chamaram correndo pois estavam querendo prendê-la em Niterói pois estava contabilizando os animais de um presídio para fins de esterilização e não estavam querendo deixar. Ah! Não posso esquecer, em uma audiência em Niterói, onde uma vizinha requereu a retirada de animais da casa onde Bebel residia e em que um juiz, ainda novo, após ouvir a Bebel falar que o seu cuidado era com o planeta, enquanto a vizinha estava preocupada com a sua vidinha, ele acabou por dizer que mandaria tirar todos os animais, se assim entendesse e que ela teria que respeitar tal decisão. E ela respondeu: "V. Exa. é muito novo para falar desse jeito. Muito reacionário, Vai fazer, vai acontecer, prender. Não está no lugar certo, não". E eu beliscando e chutando a Bebel por debaixo da mesa e pensando, vai ser presa. Ele não mandou prender não, mas determinou a retirada de todos os animais de sua casa e ela foi com eles, foi morar bem longe, onde depois morreu cercada de seus "sobrinhos" que viviam felizes contentes sob a sua proteção. Igual a nossa presidente não havia. Feroz quando precisava, ela não falava, rosnava: protetora, ativista fenomenal. Não vamos deixar a sua obra acabar. Não podemos. Conclamamos a todos que vivenciaram com a nossa querida Bebel histórias reais, sérias, sinceras e até hilariantes que relatem no site da Suipa (http://www.suipa.org.br) onde existe uma seção só para isto, a sua experiência, para que possamos compartilhar com todos os outros suipanos.

Por favor, contatem a Suipa e encaminhem os seus relatos. Não vamos deixar a sua memória morrer. E, em cada nova circular da Suipa, estaremos compartilhando a sua experiência vivenciada com a nossa eterna presidente. Embora nada vá ser como antes, pois estamos todos os suipanos e "sobrinhos" tristes com a nossa perda, não devemos deixar o desalento nos contaminar.

Ficou muito por dizer e fazer, mas de algo temos a mais absoluta certeza: é que jamais vamos esquecê-la, passe o tempo que passar, doa a quem doer, vamos lembrar sempre dela e manter viva a sua memória. Que Deus dê paz e descanso à sua alma, mas que, de onde estiver, temos certeza de que estará zelando pelos animais da Suipa, por quem se doou em vida. E, em tempos que tanto se fala em de legado, não deixemos que o legado de Bebel pereça. Ainda há muito por fazer!

O seu grande legado foi os animais e o trabalho da Suipa voltado à defesa e proteção desses que, embora conscientes, não têm voz. Então, só nos resta a responsabilidade de manter viva a voz da Bebel, a voz da Suipa. Vamos preservar não só o que foi o legado da Bebel mas a sua vida. Não vamos deixar a Suipa perecer pois, então, a vida da Bebel teria sido em vão. E, isto não podemos permitir. Contemos com a força da Bebel, através das suas incontáveis atitudes proativas, em benefício de nossa luta diária para não deixar a Suipa perecer. Os queridos "sobrinhos" agradecem, abanando os seus rabinhos em reverência a ela.
Colaboração: Aberto José, 16-10-2016 

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Um comentário:

  1. Sensacional o seu depoimento sobre a Isabel. Tive também a oportunidade de conhecê-la e conviver com ela durante 12 anos de trabalho. Uma fera e ao mesmo tempo de uma gentileza e carinho imenso. Muita falta dela. a SUIPA precisa de vida e metade de seu batimento cardiaco foi-se com a Bebel. Mas a SUIPA vai vingar, vai deixá-la orgulhosa. Obrigado por deixar essa página no ar.

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