domingo, 4 de dezembro de 2016

Os portistas precisam de paciência

João Marques de Almeida

Agora estamos no rumo certo. Se o FC Porto for paciente, podemos não ganhar este ano, mas ganharemos no próximo. Se não houver paciência, ficaremos muito tempo sem vencer


Nós, portistas, estamos mal habituados. Muito mal habituados mesmo. Somos os adeptos portugueses mais mimados pelos resultados dos últimos trinta anos. Vimos o FC Porto ganhar tudo o que havia para vencer. Campeões da Europa (duas vezes), campeões do mundo (duas vezes), mais quatro competições europeias, muitos campeonatos, e cinco deles seguidos, e muitas taças. Nenhum outro adepto celebrou como nós. E a história do ‘sistema’ foi a maior mentira do futebol português, como demonstram as vitórias na Europa. Grande parte do país nunca conseguiu aceitar a hegemonia do Porto. Aliás, ao contrário do FC Porto, o Benfica e o Sporting quando são os melhores em Portugal, nada vencem na Europa.

Mas o domínio do FC Porto no futebol português acabou há três anos. Custa muito, mas é a verdade. Há, obviamente, mérito do Benfica e mais recentemente do Sporting. Luís Filipe Vieira deu estabilidade e uma liderança forte ao Benfica. Aposta nos treinadores certos, segura-os nos momentos difíceis, acerta nas contratações (todos os argentinos que chegam ao Benfica são bons, como acontecia no FC Porto até há uns anos), e apostam bem nos jogadores feitos no clube. O Renato Sanches, o Nelson Semedo, o Gonçalo Guedes são muito bons jogadores. E não aproveitaram o André Gomes, o Bernardo Silva e o João Cancelo, todos já na seleção.

O Sporting também está no caminho certo. Contratou um grande treinador, e uma boa equipa começa sempre no treinador. Jesus é polémico, diz muitos disparates, mas é muito bom treinador. As suas equipas jogam bem e ao ataque. Além disso, melhora a maioria dos seus jogadores. Uma prova de um grande treinador. O Sporting continua ainda a apostar na sua escola de jogadores, uma caso notável de sucesso, desde o Figo, o Quaresma, o Ronaldo, até aos mais recentes João Mário, William Carvalho e Gelson (que jogador), todos eles também na seleção.

Enquanto o Benfica e o Sporting andaram a organizar-se, o FC Porto meteu-se em aventuras. Contrataram-se treinadores errados. Ainda não consegui entender porque se mandou embora o Vítor Pereira, que ganhou dois campeonatos (e mais um como adjunto), para contratar o Paulo Fonseca. Mas as aquisições de jogadores durante os últimos três anos foram um verdadeiro desastre. O FC Porto acertava em cerca de 75% das contratações, e era visto como um exemplo na Europa. Desde há três anos, erra para aí em 80% das compras de novos jogadores. Há casos verdadeiramente inexplicáveis, como o Osvaldo (alguém se lembra dele?), o Angel (nunca vi um defesa esquerdo tão mau no FC Porto), o Adrien Lopez, o Marega, o Suk, e tantos outros. Parece que as contratações obedecem mais aos lucros dos intermediários e dos empresários do que aos interesses da equipa.

A verdade é que assistimos ao da equipa do último tricampeonato e da Liga Europa e, desde aí, não se construiu uma nova equipa. Perdemos o avanço que tínhamos sobre o Benfica e o Sporting. Não vale a pena culpar os outros, nem os árbitros. A responsabilidade é do FC Porto. Não soube gerir o sucesso. Agora está atrasado em relação ao Benfica e ao Sporting. Temos que ser realistas. A nossa equipa ainda não está ao nível das do Benfica e do Sporting.

Estamos no entanto no bom caminho. Temos uma equipa inexperiente, mas com jogadores novos e bons, e alguns portugueses e feitos no Porto. No jogo de ontem contra o Braga, sofri muito mas senti uma grande alegria a ver um jogador de 18 anos feito no Porto a marcar o golo da vitória. Vamos ter que saber sofrer e ter paciência. Não vale a pena falar em mudanças de treinador quando os resultados não são bons. Nem lamentar a inexperiência dos nossos jogadores. O problema foi o que se passou nos últimos três anos. Agora estamos no rumo certo. Se o FC Porto for paciente, podemos não ganhar este ano, mas ganharemos no próximo. Se não houver paciência, ficaremos muito tempo sem vencer. 
Título e Texto: João Marques de Almeida, Observador, 4-12-2016

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