Nesta semana troquei de carro pela
primeira vez. E que choque essa experiência me deu! Nos Estados Unidos tudo se
resolve no mesmo dia, em poucas horas
Rodrigo Constantino
Quando decidi morar nos
Estados Unidos, uma das coisas que tinha em mente era ampliar minha pauta de
artigos com a experiência local, comparando-a com nossa realidade brasileira. O
resultado está numa parte do livro Brasileiro é otário? – o alto custo
da nossa malandragem, lançado em 2016. Infelizmente, não deu tempo de
incluir mais coisas, pois à medida que o tempo passa, temos um contato maior
com o cotidiano dos americanos para contrastar com o dia a dia em nosso país.
Nesta semana, por exemplo,
troquei de carro pela primeira vez. E que choque essa experiência me deu! O
brasileiro, mesmo o que já veio visitar os Estados Unidos como turista, não
pode ter muita ideia de quão simples é essa atividade de comprar e vender
carros novos ou usados aqui. Tudo se resolve no mesmo dia, em poucas horas! É
quase inacreditável quando lembramos no transtorno, da burocracia, da
desconfiança generalizada que impera no Brasil.
Após uma rápida avaliação
superficial do valor do carro pela internet, fui a uma espécie de supermercado
de carros aqui perto. Lá chegando, disse que queria vender, e não comprar. O
rapaz da loja pegou alguns dados em coisa de dois minutos, e pediu 45 minutos
para um técnico fazer um breve levantamento das condições do veículo. Em meia
hora tinha o resultado, e me apresentou o valor que pagaria pelo carro.
“O Brasil é uma república
sindical e cartorial, um manicômio tributário e burocrático”
Era um valor bem justo, acima da avaliação inicial que fiz num site.
Eles ganham no giro, na quantidade, com margem reduzida, e por isso pagam bem.
Aceitei a oferta, e o processo todo não levou uma hora. Saí de lá com um cheque
após simplesmente assinar os papéis. Não houve necessidade de cartório para
reconhecer firma. E também levei a placa do carro comigo, com o selo à guisa do
IPVA, que aqui custa menos de R$ 200 por ano.
Depois foi só seguir para a outra loja, que tinha o carro em que estava
interessado. Após alguma negociação, fechei o negócio, e novamente o processo
não levou mais que uma hora. Fui ao banco rapidamente só para pegar um cheque
administrativo, e pronto: saí de lá com o meu carro novo, emplacado, com aquele
selo que vale até 2018. Tudo feito em pouco mais de duas horas!
Quando contei ao vendedor o que era um despachante, ele precisou de
algum tempo para compreender sua função. Quando falei da necessidade de
reconhecimento de firma, ele não acreditou. Nos Estados Unidos as coisas
funcionam, tudo é muito prático, feito para facilitar a vida do cidadão. É uma
sociedade de confiança, não uma na qual a cultura é a do jeitinho, da
malandragem, com cada “esperto” tentando passar a perna nos “otários”.
É verdade que mesmo aqui as coisas pioraram, principalmente com o
Partido Democrata e sua visão esquerdista de mundo. A esquerda adora criar mais
burocracia, dificuldades legais, para vender depois facilidades ilegais, para
concentrar poder arbitrário nas mãos de sindicatos, de burocratas, de políticos.
Mas ainda há um abismo nos separando da América, o que pode ser comprovado pelo
índice Doing Business do Banco Mundial, que mede o ambiente de
negócios dos países. Os EUA são o oitavo, e nós estamos na 123ª posição.
O Brasil é uma república sindical e cartorial, um manicômio tributário
e burocrático. O relato de um empresário da indústria química feito no fim de
2016 repercutiu bem nas redes sociais. Ele mostrava algumas regras absurdas que
precisava cumprir para permanecer na legalidade, e como se tornava refém dos
fiscais. O resultado é praticamente inviabilizar sua operação de logística.
Muitos precisam subornar os fiscais para sobreviver. Ou isso, ou fechar as
portas e demitir todo mundo.
Por trás disso tudo está a mentalidade de que o empresário é sacana e o
governo vai nos proteger. Que loucura!
Título, Imagem e Texto: Rodrigo
Constantino, economista e jornalista, é presidente do
Conselho do Instituto Liberal, Gazeta do Povo, 5-1-2017
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