Luciano Ayan
Um fenômeno tem sido
visto na Internet: algumas pessoas de direita têm aceitado (e até
promovido) uma verdadeira campanha de ódio contra evangélicos. Que a
extrema-esquerda faça isso, não é novidade, uma vez que faz parte do projeto
político deles perseguir as religiões tradicionais. Mas e quanto à direita?
Vou excluir da equação alguns
(não todos) católicos que possam ter alguma rivalidade com evangélicos, pois
não é um movimento considerável de promoção de animosidades mais radicais. A
questão que abordarei aqui trata alguns liberais que andaram dizendo, após
a tentativa de assassinato sobre o pastor Valdomiro, que “ele fez por merecer”
ou “é justo, pois ele explora os fiéis”. Será que eles estão moralmente certos
em agir assim? Ou pelo menos estariam tecnicamente corretos? A resposta é não,
em ambos os casos.
A alocação voluntária de recursos
Para começar, é preciso
entender que os liberais defendem, antes de tudo, a alocação voluntária de
recursos. Qualquer alocação voluntária de recursos é um ato que moralmente
coloca seus praticantes em status superior aos que forçam alocação involuntária
de recursos. É um princípio moral, diante do qual não deve existir dificuldade
de entendimento.
A “exploração” que um
pastor faria de seu fiel (a alegação de dez entre dez liberais que
promovem a campanha anti-religião) não deveria ser um problema para quem não
comunga da mesma religião que este fiel, ou até mesmo não possua religião
alguma. Podemos considerar, por exemplo, casais que se separam e, em muitos
casos, acusam o outro de “exploração psicológica” ou “venda de ilusões”. Nem
por isso, devemos nos intrometer. Não é nosso problema. A alocação voluntária
de recursos compreende que um dos lados pode influenciar mais o outro e sair em
vantagem.
Assim, não faz sentido algum
defender qualquer tipo de violência ou opressão sobre um líder religioso que
estaria, segundo a argumentação de alguns, “explorando seus fiéis”. A
“exploração” de um fiel por seu pastor é um problema deles, tanto como a
“exploração” que existiria em grande parte das relações amorosas. (Claro que um
espertão pode querer acabar com o namoro do amigo pois está interessado na
namorada dele, mas isso é uma questão tática e específica, e não relacionada a
todos os relacionamentos amorosos).
Assim, claro está que o
liberal que resolve defender ações de opressão e violência contra um evangélico
apenas por que “acha que ele explora os fiéis” está em desacordo com o
princípio liberal fundamental que defende a supremacia das alocações
voluntárias de recursos sobre as alocações movidas por coerção.
Eu sou ateu e entendo que a
relação entre fiéis religiosos e seus pastores é um problema deles. Desde que
falamos sobre alocações voluntárias de recursos, não é problema meu. Resumindo:
não me importa.
O uso da violência contra
divergentes
Se já tratamos da questão de
que defender violência contra um pastor evangélico apenas por não gostar da
religião dele (ou achá-lo um explorador) é imoral sob a ótica liberal, também
temos o fato de que o próprio uso da violência contra discordantes também entra
em desacordo com o liberalismo.
Se alguém não gosta do que
o pastor Valdomiro prega, refute-o. Que faça propaganda em favor de outro
discurso. Que promova a ideia divergente. Mas nada justifica a violência,
principalmente no caso de alguém envolvido apenas em alocação voluntária de
recursos, como falado anteriormente.
A questão tática
Esses dois aspectos tratam da
questão moral. Ou seja, é imoral oprimir alguém que atue unicamente em alocação
voluntária de recursos, assim como é imoral praticar violência contra alguém
por única divergência de ideias.
Mas para além da questão
moral, temos a questão tática: não faz sentido entrar em guerra “santa” contra
evangélicos, mesmo alguém sendo ateu liberal ou ateu conservador. Mas por quê?
Simples: os evangélicos não são os principais adversários dos liberais e,
em muitos casos, estão distantes daqueles que chamamos de “inimigos
fundamentais”. Um inimigo fundamental é seu principal adversário durante um
conflito.
Por exemplo, as rivalidades
entre pessoas de vários países ficaram em segundo plano enquanto todos se
juntaram para vencer Hitler. Este era o inimigo fundamental.
Muitas vezes a direita “trava”
no momento de identificar os inimigos fundamentais. Foi somente assim que muita
gente de direita ficou em dúvidas entre votar em Marcelo Crivella ou Marcelo
Freixo, no Rio. Foi preciso utilizar muitas frases de efeito e metáforas para
“destravar” algumas mentes, caso contrário poderíamos ter complicado uma
vitória fácil de Crivella.
Exemplo de abordagens
utilizadas: “Eu prefiro um crente batendo em minha porta do que um bandido
pulando o meu muro”. Daí era só lembrar a diferença entre a alocação voluntária
de recursos (dos pastores) com a alocação sob coerção (que os socialistas
levam até o limite) para saber que não havia motivo para titubear: era Crivella
na cabeça, junto com “fora Freixo”.
Em resumo, não apenas
moralmente, como também taticamente, qualquer tipo de campanha de ódio feita
contra evangélicos – por parte da direita – não se justifica.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 12-1-2017
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Concordo com o texto.
ResponderExcluirAdoraria ver a mesma "coragem" em denunciar/bater nesses partidecos de extrema-esquerda, como PCdoB, PSOL... em Portugal: Partido Comunista Português, Bloco de Esquerda...