quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Os direitistas que promovem campanha de ódio contra evangélicos estão certos?

Luciano Ayan

Um fenômeno tem sido visto na Internet: algumas pessoas de direita têm aceitado (e até promovido) uma verdadeira campanha de ódio contra evangélicos. Que a extrema-esquerda faça isso, não é novidade, uma vez que faz parte do projeto político deles perseguir as religiões tradicionais. Mas e quanto à direita?

Vou excluir da equação alguns (não todos) católicos que possam ter alguma rivalidade com evangélicos, pois não é um movimento considerável de promoção de animosidades mais radicais. A questão que abordarei aqui trata alguns liberais que andaram dizendo, após a tentativa de assassinato sobre o pastor Valdomiro, que “ele fez por merecer” ou “é justo, pois ele explora os fiéis”. Será que eles estão moralmente certos em agir assim? Ou pelo menos estariam tecnicamente corretos? A resposta é não, em ambos os casos.

A alocação voluntária de recursos
Para começar, é preciso entender que os liberais defendem, antes de tudo, a alocação voluntária de recursos. Qualquer alocação voluntária de recursos é um ato que moralmente coloca seus praticantes em status superior aos que forçam alocação involuntária de recursos. É um princípio moral, diante do qual não deve existir dificuldade de entendimento.

A “exploração” que um pastor faria de seu fiel (a alegação de dez entre dez liberais que promovem a campanha anti-religião) não deveria ser um problema para quem não comunga da mesma religião que este fiel, ou até mesmo não possua religião alguma. Podemos considerar, por exemplo, casais que se separam e, em muitos casos, acusam o outro de “exploração psicológica” ou “venda de ilusões”. Nem por isso, devemos nos intrometer. Não é nosso problema. A alocação voluntária de recursos compreende que um dos lados pode influenciar mais o outro e sair em vantagem.

Assim, não faz sentido algum defender qualquer tipo de violência ou opressão sobre um líder religioso que estaria, segundo a argumentação de alguns, “explorando seus fiéis”. A “exploração” de um fiel por seu pastor é um problema deles, tanto como a “exploração” que existiria em grande parte das relações amorosas. (Claro que um espertão pode querer acabar com o namoro do amigo pois está interessado na namorada dele, mas isso é uma questão tática e específica, e não relacionada a todos os relacionamentos amorosos).

Assim, claro está que o liberal que resolve defender ações de opressão e violência contra um evangélico apenas por que “acha que ele explora os fiéis” está em desacordo com o princípio liberal fundamental que defende a supremacia das alocações voluntárias de recursos sobre as alocações movidas por coerção.

Eu sou ateu e entendo que a relação entre fiéis religiosos e seus pastores é um problema deles. Desde que falamos sobre alocações voluntárias de recursos, não é problema meu. Resumindo: não me importa.

O uso da violência contra divergentes
Se já tratamos da questão de que defender violência contra um pastor evangélico apenas por não gostar da religião dele (ou achá-lo um explorador) é imoral sob a ótica liberal, também temos o fato de que o próprio uso da violência contra discordantes também entra em desacordo com o liberalismo.

Se alguém não gosta do que o pastor Valdomiro prega, refute-o. Que faça propaganda em favor de outro discurso. Que promova a ideia divergente. Mas nada justifica a violência, principalmente no caso de alguém envolvido apenas em alocação voluntária de recursos, como falado anteriormente.

A questão tática
Esses dois aspectos tratam da questão moral. Ou seja, é imoral oprimir alguém que atue unicamente em alocação voluntária de recursos, assim como é imoral praticar violência contra alguém por única divergência de ideias.
Mas para além da questão moral, temos a questão tática: não faz sentido entrar em guerra “santa” contra evangélicos, mesmo alguém sendo ateu liberal ou ateu conservador. Mas por quê? Simples: os evangélicos não são os principais adversários dos liberais e, em muitos casos, estão distantes daqueles que chamamos de “inimigos fundamentais”. Um inimigo fundamental é seu principal adversário durante um conflito.

Por exemplo, as rivalidades entre pessoas de vários países ficaram em segundo plano enquanto todos se juntaram para vencer Hitler. Este era o inimigo fundamental.

Muitas vezes a direita “trava” no momento de identificar os inimigos fundamentais. Foi somente assim que muita gente de direita ficou em dúvidas entre votar em Marcelo Crivella ou Marcelo Freixo, no Rio. Foi preciso utilizar muitas frases de efeito e metáforas para “destravar” algumas mentes, caso contrário poderíamos ter complicado uma vitória fácil de Crivella.

Exemplo de abordagens utilizadas: “Eu prefiro um crente batendo em minha porta do que um bandido pulando o meu muro”. Daí era só lembrar a diferença entre a alocação voluntária de recursos (dos pastores) com a alocação sob coerção (que os socialistas levam até o limite) para saber que não havia motivo para titubear: era Crivella na cabeça, junto com “fora Freixo”.

Em resumo, não apenas moralmente, como também taticamente, qualquer tipo de campanha de ódio feita contra evangélicos – por parte da direita – não se justifica.
Título, Imagem e Texto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 12-1-2017

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Um comentário:

  1. Concordo com o texto.
    Adoraria ver a mesma "coragem" em denunciar/bater nesses partidecos de extrema-esquerda, como PCdoB, PSOL... em Portugal: Partido Comunista Português, Bloco de Esquerda...

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