sábado, 7 de janeiro de 2017

Uma verdadeira guerra de classes: bandidos privilegiados X vítimas abandonadas

Luciano Ayan

Se a guerra de classes proposta por Karl Marx era uma falsidade, outras guerras de classes realmente existem. Por exemplo, uma guerra entre os que se locupletam do estado e os pagadores de impostos. Ou então uma guerra entre os que destroem valor e os que produzem valor. Mas também há outra guerra de classes bastante evidente: a guerra entre os bandidos privilegiados e as vítimas abandonadas.

Na última semana, o brasileiro foi humilhado pelo sentimento excessivo de pesar da mídia e de muitos formadores de opinião em favor de 60 bandidos assassinados em uma guerra de facções em Manaus. Mesmo sentimento não é manifestado por esse tipo de gente para as mais de 60.000 vítimas inocentes de assassinatos por ano no Brasil. Nada contra alguém ficar chorando pelos bandidos mortos. Não há sentido em gerenciar sentimento alheio. A problematização que se faz urgente é do fato da desproporção entre o choro dedicado aos bandidos e a falta de lágrimas derramadas pelas vítimas dos criminosos.

O mais dolorido tabefe na cara veio nas declarações do governador do Amazonas dizendo que todas as famílias dos bandidos mortos serão indenizadas. Mas não há indenização para as vítimas de um criminoso violento. A família de uma mulher estuprada e morta não recebe indenização. A família de um jovem assassinato ao voltar do trabalho, num ônibus, durante um latrocínio, também não recebe uma pataca. Mas a família de qualquer um dos criminosos mortos no presídio em Manaus terá o direito de receber uma indenização. 

A ausência de pagamento para as famílias das vítimas inocentes, junto com o pagamento para as famílias dos bandidos, serve para demonstrar que os bandidos são uma classe privilegiada em nosso país. Eles possuem direitos especiais, não oferecidos aos demais cidadãos.

Alguém poderá até dizer: “Ei, Luciano, mas é a lei que determina o pagamento de indenizações às famílias de bandidos mortos em prisões”. Mas isso é legalismo bocó, pois a escravidão um dia estava na lei e nem por isso era correta. Logo, se a lei hoje favorece os bandidos, ela deve ser questionada. Se a escravidão não tivesse sido questionada, nunca teria acabado.

Talvez seja o momento de gerarmos, finalmente, uma conscientização radical – movida por forte indignação – contra o privilégio dado aos bandidos em detrimento do povo honesto, que ou vive com medo de ser vitimado pela violência ou ao menos tem alguma história – envolvendo-o ou a alguém de sua família – de horror nas mãos de bandidos cruéis. Essa parcela da população precisa ser conscientizada de que o sistema atual é injusto, favorecendo os criminosos em detrimento do cidadão honesto. No Brasil atual, ganham os criminosos perversos e sofrem as vítimas abandonadas.

Que a arrogante narrativa da indignação seletiva diante dos mortos em Manaus sirva para acordar a população. É preciso começar uma guerra contra os privilégios de criminosos violentos, e encaixar tudo isso com a discussão do fim da maioridade penal, da progressão de penas (para alguns crimes) e do limite de 30 anos para aprisionamento, além de buscar estabelecer outras medidas para dar uma resposta a quem mais importa: as vítimas ou potenciais vítimas hoje abandonadas.

Nessa verdadeira guerra de classes é preciso definir os lados: ou alguém está do lado das vítimas dos criminosos ou do lado dos predadores do povo. É hora de problematizarmos essa terrível injustiça com quem mais precisa de ajuda: as vítimas dos bandidos.
Título, Imagem eTexto: Luciano Ayan, Ceticismo Político, 7-1-2017

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2 comentários:

  1. Reação desproporcional ao massacre em Manaus expõe a perversa indiferença às vítimas inocentes
    O maior erro de algumas pessoas da direita é repreender as pessoas que estão chorando pelos 60 bandidos mortos em Manaus e agora vão chorar novamente pelos 31 bandidos assassinados em Roraima. Pode parecer cruel dizer a essas pessoas: “seu choro é errado”. Imediatamente, elas o rotularão de cruel e desumano.

    A melhor forma de agir, para a direita, não é questionar o choro derramado pelos bandidos mortos, mas sim a desproporção entre o choro dedicado aos bandidos com o choro dedicado às vítimas inocentes. Ou seja, passamos a questionar: “Por que você chora tanto pelos bandidos e tão pouco por nós?”.

    Se posicionarmos a questão dessa forma, aí a mídia esquerdista passa a se complicar, junto aos demais formadores de opinião que os acompanham. A partir desse questionamento, eles não precisam se explicar pelo nível de choro dedicado aos bandidos morto, mas à falta de lágrimas destinadas às vítimas inocentes.

    Estamos chegando em um período de nossa história na qual o povo precisa começar a se indignar com o desprezo dedicado aos cidadãos honestos vítimas de crimes. Falamos de pessoas que não cometeram crimes, mas já foram vítimas de bandidos, ou ao menos tiveram pessoas em sua família ou circulo de amizades e relacionamentos que tenham sido vitimadas.

    Por uma semana – desde a divulgação da morte de 60 bandidos em Manaus, no dia primeiro – grande parte do povo brasileiro que é vítima (ou potencial vítima) da violência urbana foi arrogantemente ofendida por uma elite jornalística e formadora de opinião indiferente ao seu sofrimento no momento de priorizar a dedicação de seus sentimentos de dor aos bandidos mortos.

    Esse desprezo pelas vítimas inocentes chega a ser um crime moral que, como tal, deve ser exposto.
    Luciano Ayan

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