Cristina Miranda
Era uma vez um segredo que
Centeno queria esconder. Não queria que se soubesse que acedeu negociar
condições particulares com futuros administradores do banco público. Que essas
condições visavam para além do termo dos tetos salariais, isenção de apresentação
das declarações de rendimentos. Como não podia decidir sozinho, informou Costa.
Como Costa precisava de contornar a questão da inconstitucionalidade, falou com
Marcelo. Marcelo falou com Centeno e Centeno enviou SMS para Domingues. Tudo
resolvido. Tudo acertado. Até ao momento em que tudo isto chega ao conhecimento
público…
A bomba estourou-lhes nas
mãos. Atrapalhaditos, todos resolvem mentir: o Centeno diz que foi apenas “erro
de percepção mútuo” (vai-se lá saber o que isto é); o Marcelo diz que não há
provas documentais assinadas (tinham de ser também reconhecidas notarialmente,
digo eu…) e redobra confiança no “senhor das percepções erradas”; o Costa
remete-se ao silêncio enquanto o palco arde mas deita alguma água sobre Centeno
que classifica de admirável ministro das finanças (a distração e comédia é seu forte).
Mas nenhum assume nada. Isolado, Domingues promete mostrar SMS. Marcelo vê as
primeiras e não gosta do que vê. Avisa que só não deixa cair Centeno para
manter estabilidade financeira. As coisas complicam-se…
Até que chegou o dia de ver todas
as SMS. E não é que Centeno implica Marcelo nas ditas? Com o rabo a arder,
Marcelo indigna-se com a devassa e dá o assunto por encerrado. Atrás dele, o
Costa. Atrás do Costa as eticamente corretas do BE e atrelado a estas, PCP. A
lei da mordaça instala-se. É o boicote declarado às SMS e CPI para pôr fim ao
que não lhes convém que se saiba. Porquê?
Chamaram-lhe novela da direita
para provocar instabilidade na CGD e privatizá-la (mas que grande lata!!!). Eu
chamo de abuso de poder, seja lá de que cor for, para impedir o acesso à
informação legítima e obrigatória à luz da lei da transparência no sector
público. E qualquer retórica fora deste âmbito é pura manobra de distração para
proteger maus políticos cuja a irresponsabilidade é paga por todos os
contribuintes. Digo mais: esconder o que se passa na CGD (com ou sem SMS) ou
noutro sector qualquer do Estado, é simplesmente criminoso e antidemocrático.
O problema é que o povo
português ainda não aprendeu a exigir dos governantes uma conduta ética
intocável na condução da Nação. Veem um lado e outro como se de futebol se
tratasse e ao invés de os culpabilizar pela má performance política,
relativizam argumentando que os outros também o eram, sem perceber que estão a
trair-se a eles próprios. Com isto dizem à classe política que não se importam
que abusem deles (contribuintes) desde que sejam do mesmo “team” e assim, a
porcaria em vez de acabar aumenta a cada ano. E eles riem-se. Claro. Contentes
por terem um povo ignorante que manipulam a seu bel prazer sem escrúpulos.
Enquanto assistirmos
passivamente a estas e outras novelas políticas, consentindo que continuem a
sacanear os contribuintes sem nos unirmos nestes temas, teremos sempre
políticos medíocres, de condutas medíocres, com políticas medíocres à frente do
país.
Porque a mentira, a corrupção
e o abuso de poder, não tem cor política. Tem falha grave de carácter. E
permitir isso faz de nós, enquanto povo, exatamente mais do mesmo.
Os políticos refletem sempre a
imagem do povo que os elege.
Título e Texto: Cristina Miranda, Blasfémias,
17-2-2017
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