Maria Lucia Victor Barbosa
Na sua magistral obra, Homo
Deus, Yuval Noah Harari trata de temas extremamente complexos e instigantes de
forma compreensível ao senso comum. Entre outros assuntos ele mostra com
clareza o que é um algoritmo, termo que vai entrando na moda, mas que é pouco
entendido pela maioria:
“Um algoritmo é um conjunto
metódico de passos que pode ser usado para realização de cálculos, na resolução
de problemas e na tomada de decisões”. Como exemplo simples de algoritmo ele dá
uma receita de sopa em que os “passos metódicos” são os ingredientes usados
para fazer o alimento.
Acrescenta o autor do
best-seller que já vendeu mais de dois milhões no mundo, “que os algoritmos que
controlam os humanos funcionam mediante sensações, emoções e desejos”,
justamente o ponto que desejo abordar nesse pequeno e modesto texto. Isto
porquê, se a tecnologia é algo extraordinário, dependendo do uso que se faz
dela pode ser usada não para o bem e sim para o mal como tudo que é humano.
Um dos usos perigosos é o
aperfeiçoamento da manipulação, que sempre existiu, mas que agora é elaborada
por técnicas cada vez mais avançadas. Sem perceber a maioria obedece aos
interesses de governos, de partidos políticos, da mídia, do marketing, do
mercado, da opinião pública, de outras entidades ou grupos. Isso se faz através
de passos metódicos baseados em algoritmos que manipulam sensações, emoções e
desejos.
A mídia, conforme, Jorge
Moreira, tem o “setting, um tipo de efeito social que compreende a seleção,
disposição e incidência de notícias sobre temas que o público falará e
discutirá. “A agenda é pautada por diversas conveniências do governo e da
necessidade de verba de publicidade dos meios de comunicação”. “O que um canal
de TV, um jornal ou uma revista postam, todos seus concorrentes seguirão a pauta”.
Como exemplo concreto relembro
que o uso da mídia e do marketing foi largamente usado pelo governo petista,
muito além de outros governos. Desse modo, Lula se tornou intocável,
inimputável, sempre encaixado no papel de vítima. Criticá-lo era sacrilégio,
crime de lesa-majestade, algo politicamente incorreto.
Eleito presidente da República
na quarta tentativa, foi reeleito malgrado o escândalo do mensalão e, para
provar que detinha quase a maioria do povo elegeu e reelegeu sua sucessora, uma
façanha política e tanto.
O PT, que se disse puro,
ideológico, capaz de mudar o que os outros partidos faziam de errado, continuou
elegendo correligionários apesar de ter institucionalizou a corrupção. Os
petistas haviam finalmente encontrado um bom marqueteiro que fazia a mágica.
Entretanto, uma das
características da vida e das sociedades é o dinamismo e por um processo ligado
a uma série de fatores mudanças acontecem mesmo em sistemas autoritários e
totalitários. Nas democracias a insatisfação popular manifesta livremente é um
dos fatores de mudança e nenhum governo resiste quando a economia vai mal.
Os governos Lula da Silva e
Dilma Rousseff mergulharam o Brasil na pior recessão da nossa história. Como
consequência aconteceu o impeachment na esteira da insatisfação popular.
Atentos às suas necessidades
de votos, parlamentares foram sensíveis à reivindicação de milhões de
brasileiros que nas maiores manifestações já havidas no País foram às ruas
pedir a saída de Rousseff.
O pior governo que o Brasil já
teve esboroou com estrondo. Em vão o PT tentou chamar de golpe o que na verdade
era resultado do inconformismo popular com o desemprego, a inflação, a
inadimplência. Nas eleições municipais veio outro troco dos brasileiros: o PT
perdeu 60% de suas prefeituras e Lula viu minguar seu prestigio.
Diante disto, lideranças
petistas agora fazem cálculos para recuperar o enorme poder que já desfrutaram,
mas sabem que só podem resgatá-lo mediante a volta à presidência da República
do seu único candidato viável, Lula da Silva, em que pese este ser cinco vezes
réu.
Apropriadamente surgiu uma
pesquisa benfazeja mostrando Lula em primeiro lugar. Pesquisas podem funcionar
como marketing, pois pessoas costumam votar em quem está no topo das escolhas
para também sentirem vencedoras. O PT sabe disso e tem esperança de que seu
líder volte a ser amado enquanto dirige o foco do ódio, que tão bem sabem
manejar, para outras figuras como Temer, Alexandre de Moraes, a Polícia e até
Trump, presidente dos Estados Unidos do qual não se deixa de falar mal um dia
sequer.
Lula sabe instintivamente
manipular sensações, emoções e desejos. Em 2018 tudo vai depender das
circunstâncias, mas é bom lembrar do que escreveu Nicolau Maquiavel, em 1513,
na sua eterna obra, O Príncipe: “Os homens são tão pouco argutos e se inclinam
de tal modo às necessidades imediatas, que quem quiser enganá-los encontrará
sempre quem se deixe enganar”.
Título e Texto: Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, autora
entre outros livros do “O Voto da Pobreza e a Pobreza do Voto – a ética a
malandragem” e “América Latina – em busca do paraíso perdido”. 23-2-2017
Muito bom!
ResponderExcluirvh