terça-feira, 7 de fevereiro de 2017

Partidos de massa e partidos de quadros: sinais de mudança no Brasil

Cesar Maia
               
1. O Populismo inevitavelmente exige, como base, partidos ou movimentos de massa. O líder/caudilho acha que as informações que precisa já foram acumuladas por ele e explicam porque ele chegou ao poder e porque com essas informações ou simplificações ele pode governar.
               
2. Com isso, a formação dos parlamentos reproduz o DNA do líder/caudilho com parlamentares à sua imagem e semelhança. As eleições proporcionais reproduzem a lógica e o perfil dos líderes/caudilhos. Essa aptidão ou formação requer tempo para o aprendizado. E os parlamentos têm tido um perfil etário de maior idade. Mas isso vem mudando.
           
3. Em geral, as razões dessa ascensão do líder/caudilho lhe dão uma carência, que termina se diluindo no tempo. Mas isso vem ocorrendo em tempos de carência cada vez menores. Na América Latina, onde a frequência do Populismo é muito maior que em outras regiões, ocorreu um processo de exclusão dos “quadros” para fora dos parlamentos, concentrando-se nas universidades e no setor privado. Os partidos de “quadros” minguaram.
              
4. No Brasil, o PT ascendeu ao poder como sendo um partido de quadros. As imagens no programa de Lula na TV em 2002, desenhado por Duda Mendonça, mostravam isso, num enorme salão de intelectuais. Mas no governo, o que prevaleceu foi Lula caudilho e um partido/movimento de massas. Esse caminho deu certo por um tempo – especialmente com o empurrão da economia mundial. Mas sem esse sopro, a aposta só num partido/movimento de massas se diluiu.

5. Nos últimos anos se tem visto, em vários países latino-americanos, uma lenta, mas sustentável inversão desse processo. No Brasil, a obrigação por lei de que da verba do Fundo Partidário uma porcentagem significativa se dirija às Fundações e Institutos dos Partidos é uma razão clara para isso.
           
6. Se os parlamentos de DNA populista tendem a ter um perfil etário mais velho, o natural é que, na medida em que ascenda a proporção de “quadros”, ele se torne mais jovem. Nos últimos anos, a esquerda vem perdendo o monopólio da organização das juventudes. Cada dia mais as Juventudes dos partidos de centro-direita vêm ganhando importância, com peso na formação universitária. E isso reforça a tendência para a expansão da proporção desses “quadros” dentro dos partidos.
               
7. No Brasil isso ocorre claramente dentro dos parlamentos em todos os três níveis: municipal, estadual e federal. É natural que sua escola tenha sido seu núcleo político familiar. A novidade é terem ascendido tão precocemente na hierarquia dos partidos e do parlamento. No acompanhamento das eleições recentes para a mesa diretora da Câmara de Deputados uma lente política mais intensa teria percebido isso.
           
8. Por exemplo, a matéria do Estado de São Paulo, de 4 de janeiro, a respeito. Leia um trecho: “A Mesa Diretora da Câmara vai ser formada por deputados jovens e que têm o DNA da política, a começar pelo presidente. A nova cúpula foi eleita anteontem e comandará os trabalhos da Casa pelos próximos dois anos. Três dos onze integrantes da Mesa têm menos de 30 anos. Todos estão no primeiro mandato de deputados.” 
Título e Texto: Cesar Maia, 7-2-2017

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