José Manuel
Não esperem ler um texto
técnico, escrito por um experto na rica indústria do turismo, nem um artigo
jornalístico cotidiano, mas, simplesmente, um comentário de um observador do
dia a dia que se passa pelo mundo atualmente e que, certamente, irá se
concretizar nesta década, visto os últimos acontecimentos.
Espero que os meus amigos de
além-mar já tenham se dado conta de que seu país, Portugal, é a bola da vez do
século XXI em termos de turismo mundial e divisas, muitas divisas, é claro.
De todas as minhas conversas,
papos informais ou leituras mesmo em redes sociais, notam-se grandes intenções
de um fluxo a se direcionar no futuro, ou se preparando já para ir a Portugal
passear, apreciar a sua gastronomia conhecida internacionalmente, os seus
vinhos premiados, a sua fantástica natureza e a sua história preservada em
castelos e museus de dar inveja a muitos países, inclusive na Europa.
Talvez os portugueses
preocupados com a sua política, não estejam percebendo, talvez as filosofias
sobre, direita pra lá, esquerda pra cá, socialismo, em falência no mundo
inteiro, estejam ofuscando a visão periférica dessa rica indústria que se
aproxima, quando, na realidade, deveriam estar dando mais atenção e com foco
mais especificamente na exportação turística das suas belezas naturais e dos
seus produtos gastronômicos sem concorrência mesmo na Europa, e na sua cultura
que não se deixa morrer.
Não é, em hipótese alguma, uma
crítica, mas sim uma constatação
O mundo moderno está neste
momento, saturado de discussões políticas que não levam a nada, enriquecem
muitos e só atrasam nações. O mundo moderno exige ações, atitudes, que levem a
resultados, de preferência imediatos.
Afinal, Portugal foi o primeiro
e grande navegador e descobridor, desde a América passando pela África, Índia,
chegando ao Japão e China, mas pouca gente comenta isso, principalmente no
maior país de língua portuguesa. Pura falta de marketing histórico e
linguístico, que os ingleses, ao contrário dos lusos, trataram sempre muito bem
desse assunto.
Por exemplo, frequentemente
ouvimos e vemos notícias sobre o que se passa no mundo, direto de Londres,
Paris, Madri, Roma (sempre os mesmos), mas não se ouve falar na palavra Lisboa
como grande metrópole europeia.
Não podemos nos esquecer
ainda, de que hoje em dia o secretário-geral da ONU é um português notável
chamado Antônio Guterres, só para confirmar aqui a enorme importância a que
Portugal se eleva no momento.
Também temos que resgatar
certas verdades intencionalmente desviadas e pior, nunca contestadas pelos
próprios portugueses, como, por exemplo, de que o título "Cidade Luz"
pertence a Paris como todos pensam.
Não é pelo brilho intenso do
azul céu português. Foi uma homenagem à linda Lisboa, porta de saída principal
dos refugiados da Europa na década de 40, e na época da ambiciosa Exposição
Internacional do Mundo Português. Enquanto a Europa se encontrava imersa nas
trevas por conta dos raides aéreos, Lisboa à noite era um espetáculo à parte em
termos de iluminação feérica, primeiro por ser a capital de um país neutro,
segundo pelo grande afluxo internacional de refugiados endinheirados, militares
de alta patente, tanto aliados como nazis que conviviam diuturnamente em busca
de informações, nos grandes hotéis e cassinos, em noites de esplendor em plena
guerra.
Daí, terem dado à cidade
lisboeta, o título de "Cidade Luz".
Neill
Lochery - Lisboa 1939-1945 guerra nas sombras
Estórias
da História - Margarida de Magalhães Ramalho - A última fronteira
Temos ainda que lembrar o
caráter muito tranquilo, até por demais, a meu ver, do povo português, cuja
ancestralidade judaico-sefardita com tendências ao anonimato, nunca foram muito
sujeitos a grandes eventos públicos de, ou promoções de seus produtos e do
próprio país no exterior, como o fazem muito bem e agressivamente a Itália ou a
própria Espanha vizinha ao lado.
Escrevo isto como observador
"in loco" em vários países que visitei durante anos de viagens. A meu
ver, Portugal não é agressivo comercialmente como o foi à época como precursor
nas grandes navegações e comércio internacional.
Parece que a partir do século
XVIII, passando por um regime ditatorial de mais de trinta anos no século XX,
mais um suporte intenso de guerras coloniais, tanto o povo, bem como a história
portuguesa sofreram um lapso temporal, um congelamento histórico, em nível
mundial, inexplicável.
O mundo vive hoje três
processos muito interessantes, que não afetam Portugal nem direta nem
indiretamente, no contexto político, muito ao contrário, só irão lhe trazer
vantagens, se as souberem aproveitar.
Primeiro, o enorme afluxo de
refugiados principalmente de origem muçulmana, com todos os problemas trazidos
à Europa, mas que não deverá quantitativamente afetar o país, pois as rotas
desses refugiados estão longe da península Ibérica. Tanto que Portugal é hoje
considerado pelos sites de turismo mundial como o quinto país mais tranquilo
para se passear, residir, enfim, fazer turismo, sem grandes problemas sociais, como
assaltos em grande escala, roubos nas ruas ou atentados terroristas. E o
turismo obviamente foge dessas características negativas, bastando ver o que
está acontecendo em Paris e no resto da Europa de um modo geral, em que o
turismo caiu vertiginosamente.
E por falar em turismo
tranquilo, a cidade do Porto foi eleita pela terceira vez pela European Best Destination como o melhor
destino europeu de turismo em 2017, o que vem provar o que aqui escrevo.
Segundo, e ainda bem para
Portugal, surge repentinamente uma nova ordem a nível mundial, após a eleição
americana, em que o vencedor dessa disputa elevou a sua administração a um
nível nunca visto naquele país, de ódio a tudo e a todos e quer as suas
fronteiras fechadas. Há diversos casos de turistas latinos ou não, sendo
interceptados nas ruas e agredidos verbalmente com o famoso conhecido jargão
americano "Go Home", coisa que era difícil de se ver cotidianamente.
Eu próprio nunca presenciei tal fato, ao longo de anos e anos.
Estes episódios, começam a se desenhar
como uma futura fuga imensa do turismo internacional para a América e pelo
visto nem os Walt Disney World's, chamarizes incontestes do turismo americano,
irão sobreviver a essa onda de ódio.
Terceiro, quanto ao
direcionamento turístico ao Brasil, podem ficar tranquilos com a concorrência,
e saibam aproveitar muito bem essa péssima fase brasileira também, porque
ninguém quer vir para cá neste momento triste em que o país está mergulhado,
pois somos hoje aos olhos do mundo, uma mistura de Síria mais Iraque com toques
de Iêmen, pela violência do nosso cotidiano. É fácil constatar que os
brasileiros mais equilibrados financeiramente estão aportando em Portugal às
centenas todos os dias, inclusive visando residência.
Então, prestem muita atenção a
estes novos fenômenos no mundo atual, comecem a pensar no que realmente vai
valer a pena para o seu país, em que um novo fluxo de turismo, inclusive
americano se desviará do resto da Europa, devendo começar a aportar pelas suas
bandas e em grande quantidade, pois clássica e sabidamente os americanos adoram
Portugal, e não é de hoje, pois o Algarve que o diga.
Aos portugueses, isto não é
uma reportagem, não é uma crítica, sequer um comentário político, que não
levaria a nada, mas apenas uma visão pessoal e realista do que vai acontecer
com a indústria do turismo em Portugal e aos milhares de dólares que para lá
irão se dirigir. E olhem, não costumo errar, até porque não é preciso hoje em
dia ser um Nostradamus, para se ter uma clarividência necessária ao acerto.
A história é para ser
revisitada e os hiatos (intervalos de tempo) para serem corrigidos, superados.
Preparem-se, pois vem muito trabalho pela frente e os seus antepassados
gloriosos esperam ser honorificados, como sempre mereceram.
Título e Texto: José Manuel, o quarto auge de Portugal,
acaba de aportar ao Tejo. 8-3-2017
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Muito bom e ilustrativo este texto. Parabéns!
ResponderExcluirHabitz
Obrigado como sempre HABITZ pela sua força ao meu texto que ao mesmo tempo e antagonicamente aos mais interessados ou seja os nossos amigos de além mar não se interessam muito deixando transparecer que é eterna discussão política é mais importante que o seu futuro como nação
ResponderExcluirJM