quarta-feira, 8 de março de 2017

[Atualidade em xeque] O "boom" Portugal

José Manuel
               
Não esperem ler um texto técnico, escrito por um experto na rica indústria do turismo, nem um artigo jornalístico cotidiano, mas, simplesmente, um comentário de um observador do dia a dia que se passa pelo mundo atualmente e que, certamente, irá se concretizar nesta década, visto os últimos acontecimentos.

Espero que os meus amigos de além-mar já tenham se dado conta de que seu país, Portugal, é a bola da vez do século XXI em termos de turismo mundial e divisas, muitas divisas, é claro.

De todas as minhas conversas, papos informais ou leituras mesmo em redes sociais, notam-se grandes intenções de um fluxo a se direcionar no futuro, ou se preparando já para ir a Portugal passear, apreciar a sua gastronomia conhecida internacionalmente, os seus vinhos premiados, a sua fantástica natureza e a sua história preservada em castelos e museus de dar inveja a muitos países, inclusive na Europa.

Talvez os portugueses preocupados com a sua política, não estejam percebendo, talvez as filosofias sobre, direita pra lá, esquerda pra cá, socialismo, em falência no mundo inteiro, estejam ofuscando a visão periférica dessa rica indústria que se aproxima, quando, na realidade, deveriam estar dando mais atenção e com foco mais especificamente na exportação turística das suas belezas naturais e dos seus produtos gastronômicos sem concorrência mesmo na Europa, e na sua cultura que não se deixa morrer.

Não é, em hipótese alguma, uma crítica, mas sim uma constatação

O mundo moderno está neste momento, saturado de discussões políticas que não levam a nada, enriquecem muitos e só atrasam nações. O mundo moderno exige ações, atitudes, que levem a resultados, de preferência imediatos.

Afinal, Portugal foi o primeiro e grande navegador e descobridor, desde a América passando pela África, Índia, chegando ao Japão e China, mas pouca gente comenta isso, principalmente no maior país de língua portuguesa. Pura falta de marketing histórico e linguístico, que os ingleses, ao contrário dos lusos, trataram sempre muito bem desse assunto.


Por exemplo, frequentemente ouvimos e vemos notícias sobre o que se passa no mundo, direto de Londres, Paris, Madri, Roma (sempre os mesmos), mas não se ouve falar na palavra Lisboa como grande metrópole europeia.

Não podemos nos esquecer ainda, de que hoje em dia o secretário-geral da ONU é um português notável chamado Antônio Guterres, só para confirmar aqui a enorme importância a que Portugal se eleva no momento.

Também temos que resgatar certas verdades intencionalmente desviadas e pior, nunca contestadas pelos próprios portugueses, como, por exemplo, de que o título "Cidade Luz" pertence a Paris como todos pensam.


Não é pelo brilho intenso do azul céu português. Foi uma homenagem à linda Lisboa, porta de saída principal dos refugiados da Europa na década de 40, e na época da ambiciosa Exposição Internacional do Mundo Português. Enquanto a Europa se encontrava imersa nas trevas por conta dos raides aéreos, Lisboa à noite era um espetáculo à parte em termos de iluminação feérica, primeiro por ser a capital de um país neutro, segundo pelo grande afluxo internacional de refugiados endinheirados, militares de alta patente, tanto aliados como nazis que conviviam diuturnamente em busca de informações, nos grandes hotéis e cassinos, em noites de esplendor em plena guerra.
Daí, terem dado à cidade lisboeta, o título de "Cidade Luz".
Neill Lochery - Lisboa 1939-1945 guerra nas sombras
Estórias da História - Margarida de Magalhães Ramalho - A última fronteira

Temos ainda que lembrar o caráter muito tranquilo, até por demais, a meu ver, do povo português, cuja ancestralidade judaico-sefardita com tendências ao anonimato, nunca foram muito sujeitos a grandes eventos públicos de, ou promoções de seus produtos e do próprio país no exterior, como o fazem muito bem e agressivamente a Itália ou a própria Espanha vizinha ao lado.

Escrevo isto como observador "in loco" em vários países que visitei durante anos de viagens. A meu ver, Portugal não é agressivo comercialmente como o foi à época como precursor nas grandes navegações e comércio internacional.

Parece que a partir do século XVIII, passando por um regime ditatorial de mais de trinta anos no século XX, mais um suporte intenso de guerras coloniais, tanto o povo, bem como a história portuguesa sofreram um lapso temporal, um congelamento histórico, em nível mundial, inexplicável.

O mundo vive hoje três processos muito interessantes, que não afetam Portugal nem direta nem indiretamente, no contexto político, muito ao contrário, só irão lhe trazer vantagens, se as souberem aproveitar.

Primeiro, o enorme afluxo de refugiados principalmente de origem muçulmana, com todos os problemas trazidos à Europa, mas que não deverá quantitativamente afetar o país, pois as rotas desses refugiados estão longe da península Ibérica. Tanto que Portugal é hoje considerado pelos sites de turismo mundial como o quinto país mais tranquilo para se passear, residir, enfim, fazer turismo, sem grandes problemas sociais, como assaltos em grande escala, roubos nas ruas ou atentados terroristas. E o turismo obviamente foge dessas características negativas, bastando ver o que está acontecendo em Paris e no resto da Europa de um modo geral, em que o turismo caiu vertiginosamente.

E por falar em turismo tranquilo, a cidade do Porto foi eleita pela terceira vez pela European Best Destination como o melhor destino europeu de turismo em 2017, o que vem provar o que aqui escrevo.


Segundo, e ainda bem para Portugal, surge repentinamente uma nova ordem a nível mundial, após a eleição americana, em que o vencedor dessa disputa elevou a sua administração a um nível nunca visto naquele país, de ódio a tudo e a todos e quer as suas fronteiras fechadas. Há diversos casos de turistas latinos ou não, sendo interceptados nas ruas e agredidos verbalmente com o famoso conhecido jargão americano "Go Home", coisa que era difícil de se ver cotidianamente. Eu próprio nunca presenciei tal fato, ao longo de anos e anos.

Estes episódios, começam a se desenhar como uma futura fuga imensa do turismo internacional para a América e pelo visto nem os Walt Disney World's, chamarizes incontestes do turismo americano, irão sobreviver a essa onda de ódio.

Terceiro, quanto ao direcionamento turístico ao Brasil, podem ficar tranquilos com a concorrência, e saibam aproveitar muito bem essa péssima fase brasileira também, porque ninguém quer vir para cá neste momento triste em que o país está mergulhado, pois somos hoje aos olhos do mundo, uma mistura de Síria mais Iraque com toques de Iêmen, pela violência do nosso cotidiano. É fácil constatar que os brasileiros mais equilibrados financeiramente estão aportando em Portugal às centenas todos os dias, inclusive visando residência.

Então, prestem muita atenção a estes novos fenômenos no mundo atual, comecem a pensar no que realmente vai valer a pena para o seu país, em que um novo fluxo de turismo, inclusive americano se desviará do resto da Europa, devendo começar a aportar pelas suas bandas e em grande quantidade, pois clássica e sabidamente os americanos adoram Portugal, e não é de hoje, pois o Algarve que o diga.

Aos portugueses, isto não é uma reportagem, não é uma crítica, sequer um comentário político, que não levaria a nada, mas apenas uma visão pessoal e realista do que vai acontecer com a indústria do turismo em Portugal e aos milhares de dólares que para lá irão se dirigir. E olhem, não costumo errar, até porque não é preciso hoje em dia ser um Nostradamus, para se ter uma clarividência necessária ao acerto.

A história é para ser revisitada e os hiatos (intervalos de tempo) para serem corrigidos, superados. Preparem-se, pois vem muito trabalho pela frente e os seus antepassados gloriosos esperam ser honorificados, como sempre mereceram. 
Título e Texto: José Manuel, o quarto auge de Portugal, acaba de aportar ao Tejo. 8-3-2017

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2 comentários:

  1. Muito bom e ilustrativo este texto. Parabéns!
    Habitz

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  2. Obrigado como sempre HABITZ pela sua força ao meu texto que ao mesmo tempo e antagonicamente aos mais interessados ou seja os nossos amigos de além mar não se interessam muito deixando transparecer que é eterna discussão política é mais importante que o seu futuro como nação
    JM

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